Publicado em 23 de setembro de 2018 às 19:55
O piloto Mayke Stefanelli Barcellos, que está desaparecido desde sábado (22) após decolar em uma asa-delta motorizada com o amigo Douglas Siqueira Lana, em Linhares, no Norte do Estado, já havia sofrido um acidente aéreo e estava em recuperação.
De acordo com o primo dele, Claudino Batista Barcelos, 57 anos, que também é piloto, Mayke sofreu um acidente há dois anos e estava andando com o auxílio de muletas.
"Ele sofreu um acidente enquanto pilotava uma outra aeronave há dois anos, no qual quebrou o fêmur ao cair no litoral de Costa Dourada, na Bahia. O vento naquele dia não estava favorável. Mayke chegou a fazer cirurgia e precisou colocar uma platina, mas não fez o repouso correto. Há três meses ele precisou fazer uma correção e ainda estava se recuperando e andando de muletas. Mesmo assim, ele decidiu sobrevoar para ir ao encontro de aeronaves, no distrito de Mucuri (BA)", informou.
O primo disse que Mayke Barcellos pilotava há 4 anos, mas a atual aeronave em que ele estava pilotando, tinha sido comprada há menos de um mês.
"Ele já tinha experiência em outras aeronaves, mas esse modelo Trike (asa-delta motorizada) ele tinha adquirido há pouco tempo", disse.
ROTA
Ao sair do bairro Jardim Laguna, em Linhares, na madrugada de sábado, por volta de 5 horas da manhã, o piloto, que estava acompanhado do amigo, havia informado ao pai e ao primo que passaria em uma rota alternativa em linha reta, por cima da Reserva de Sooretama até chegar ao litoral da Bahia com destino a uma fazenda em Mucuri (BA), onde aconteceu o encontro de aeronaves.
Porém, o primo disse que o pai de Mayke, que também é piloto, o avisou do risco de passar pela reserva, visto que o ideal seria sobrevoar por um local plano, no qual houvesse possibilidade de pouso em caso de emergência.
"Ele disse ao pai que iria sobrevoar, passando por cima da reserva. O pai chegou a dizer para ele não ir, porque é perigoso e difícil de pousar em caso de emergência, pois o ideal seria passar por um local plano, mas ele insistiu e passou por lá. Uma pessoa disse que viu a aeronave passando por cima da reserva também. Ele procurou a rota mais curta, que seria a mais perigosa. De Linhares, ele passou por cima da reserva ao invés de fazer contorno por trás, buscando o litoral, até o sul da Bahia. Ele tentou fazer o percurso em linha reta, o que gastaria em torno de duas horas. Na rota mais distante, ele gastaria uns 40 minutos a mais", explicou.
O DESAPARECIMENTO
Claudino Barcellos disse que aguardava o primo passar sobrevoando próximo à casa dele, localizada no litoral de Costa Dourada, no Sul da Bahia, mas que desconfiou da demora.
"Estava esperando ele passar sobrevoando próximo à minha casa, no litoral da Bahia, até chegar ao destino final em Mucuri, porém ele demorou. Ele já veio para cá sobrevoando. Porém, quando o pai dele me ligou perguntando se ele havia passado, eu disse que não. Eu tentei ligar para os organizadores do evento. Como não consegui contato, peguei minha aeronave e sobrevoei até o local. Lá conversei com o organizador e me disseram que ele não havia chegado. Nesse momento, já começamos a nos preocupar achando que teria acontecido alguma coisa. Depois disso, comecei a divulgar nos grupos para saber onde ele estava e pedi apoio às pessoas do evento para tentar achá-lo. Todos os familiares e amigos estão desesperados sem saber o que fazer direito para encontrá-lo", disse.
PERDA
Quando era mais novo, Mayke perdeu a mãe em um acidente entre uma moto e uma carreta."Ele já perdeu a mãe quando era mais novo em um acidente e ficou um bom tempo rebelde por conta disso e teve problemas de relacionamento com o pai. O que os aproximou novamente foi o voo. O pai aprendeu a voar e o ensinou. Aí, em diante, eles ficaram mais próximos e até voavam juntos", disse.
Atualmente, Mayke Barcelos morava sozinho e era dono de uma loja de material de construção em Linhares.
O amigo, Douglas Siqueira Lana, era empresário em Colatina. Ele deixou o carro em Linhares e seguia com Mayke para o encontro de aeronaves.
BUSCAS
Equipes do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer) fizeram buscas neste sábado (22), mas não conseguiram encontrar os dois amigos. Segundo informações da Secretaria da Casa Militar, as buscas foram realizadas pelo helicóptero Harpia 2.
O helicóptero Harpia 2 fez o trajeto Linhares x Mucuri (BA), passando pelo litoral, e Mucuri x Linhares, desta vez pelo continente, mas não foi encontrada a aeronave com os amigos. Foram mais de três horas de buscas.
Neste domingo, o amigo de Mayke e 1º sargento da Polícia Militar, Plínio Dias Zen, informou que as buscas foram retomadas pela manhã.
"Nós conseguimos organizar buscas terrestres, por volta de 9 horas, com amigos, o Corpo de Bombeiros de Linhares, a Polícia Ambiental de São Mateus e do Notaer. As buscas estão sendo feitas em um raio de 15 km, próximo a uma torre em que a aeronave deu o último sinal, que fica próximo ao local da decolagem. A gente acha que ele pode ter pousado entre as árvores e está no meio da mata precisando de ajuda. A esperança é de que a gente encontre eles com vida. Por isso, estamos nessa corrente de solidariedade dos amigos para localizá-los e pedimos ajuda de quem puder nas buscas", disse.
As buscas foram encerradas neste domingo e serão retomadas nesta segunda-feira (24) pela manhã.
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