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Triplica o número de cotistas na federais

Triplica o número de cotistas na federais

Apesar do aumento em 10 anos, negros ainda são minoria

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 02:08

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"Infelizmente, o acesso para o ensino superior não é igualitário. A meritocracia que muitas pessoas pregam só beneficia um pequeno grupo", disse john pazini, estudante de engenharia civil. ( Fernando Madeira | AG)

Mesmo sendo a maioria da população, pretos e pardos ainda não representam o maior grupo nas universidades brasileiras. A política de cotas, porém, revela-se uma estratégia capaz de reverter esse cenário: o número de cotistas negros em instituições federais triplicou em 10 anos.

No levantamento, apresentado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o número de alunos pretos e pardos já representavam, há três anos, 47,5% do total de estudantes das universidades federais do Brasil.

Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a professora doutora Patrícia Rufino diz que a instituição não tem um dado preciso sobre o ingresso de alunos com esse perfil porque muitos pardos não se declaram negros, tornando-se um complicador na apuração das informações.

“Mas a gente pode apontar, grosso modo, que há uma entrada maior de pretos e partos a partir da implantação das cotas há 10 anos”, assegura.

Na Ufes, o sistema começou em 2008 contemplando o perfil socioeconômico dos candidatos, quando eram consideradas a formação do estudantes (escola pública) e a renda familiar. A partir de 2012, a universidade passou a levar em conta também a cota étnico-racial.

Para Patrícia Rufino, a política de cotas é importante, mas precisa de aperfeiçoamento pois é necessário entender a vulnerabilidade dessa população. Outro aspecto que a coordenadora do Neab destaca é a necessidade de fazer um levantamento, não apenas da condição de quem ingressa na universidade, mas também das condições de permanência e como o egresso tem acessado o mercado de trabalho.

“Para uma política efetiva, precisamos entender toda essa complexidade. Mas, para isso, é preciso investimento e, com os cortes no orçamento, ficamos reféns dessa condição”, lamenta.

PESQUISA

 

Na pesquisa da Andifes, cujos dados mais recentes são de 2014, o levantamento foi feito por amostragem, mas um novo estudo começou a ser realizado e, desta vez, será censitário e com informações mais precisas de cada instituição.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, professora Patrícia Vieira Trópia, o primeiro semestre será para a coleta de dados e os resultados devem começar a ser divulgados em outubro. O estudo vai traçar um perfil socioeconômico e cultural de quem está ingressando e de quem já está na universidade.

“Uma novidade desta vez será avaliar o impacto que o acesso à universidade teve na vida de cotistas. Para além da oportunidade de estudar, qual o capital cultural que ele está conquistando, com acesso a livros, shows, cinema”, pontua.

“Sistema é importante para equilibrar a situação”

Depois de estudar toda a vida em escola pública, John Pazini, 21 anos, conseguiu ingressar na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) pelo sistema de cotas. Atualmente, o estudante, que se declara negro, está no 5º período de Engenharia Civil e disse que “precisa correr atrás” para garantir um bom desempenho.

Com uma formação básica deficitária, John conta que o primeiro semestre foi muito complicado porque, enquanto para alunos da rede particular alguns conteúdos eram básicos, ele nunca tinha estudado aqueles assuntos.

“Infelizmente, o acesso para o ensino superior não é igualitário. A meritocracia que muitas pessoas pregam só beneficia um pequeno grupo”, opina.

“Então, eu acredito que o sistema de cotas é importante para a sociedade porque tenta equilibrar um pouco a situação”, acrescenta John, referindo-se tanto às questões socioeconômicas quanto de raça.

Para ele, a condição racial ainda suscita “certos olhares” ao andar pela universidade, além da própria diferença de classe social. Segundo John, a maioria da sua turma que não vai participar da formatura do curso é do sistema de cotas.

“Está tudo conectado: a renda, a cor, o ensino. E a justificativa é a própria história”, finaliza.

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