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Quase 70% dos alunos da Ufes são de famílias de baixa renda

Quase 70% dos alunos da Ufes são de famílias de baixa renda

Pesquisa ouviu estudantes de todo o país para traçar perfil universitário

Publicado em 18 de maio de 2019 às 01:31

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Reitoria da Ufes, em Goiabeiras: renda de famílias de estudantes tem média de R$ 640,70 por pessoa. (Fernando Madeira)

Ao contrário do que possa apontar o senso comum, a maioria dos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) é de família de baixa renda. Quase 70% deles têm renda mensal familiar per capita (por pessoa) de um salário mínimo e meio, o que hoje não chega a R$ 1,5 mil. Se for considerada a renda média, o valor cai para R$ 640,70.

Esse é resultado da quinta edição da Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação, da Associação dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), e que aplicou mais de 420 mil questionários para traçar o retrato de alunos de 65 universidades e centros federais.

“Isso rompe com o mito de que as universidades federais são para os ricos. São 68,3% na faixa de renda até um salário mínimos e meio. Já na faixa de renda de 10 a 20 salários ou de mais de 20 salários, a presença é muito baixa. Não chega a 1%”, ressalta o reitor da Ufes e presidente da Andifes, Reinaldo Centoducatte.

“A pesquisa reforça um ponto importante: a universidade tem que continuar a ser pública e gratuita.

Essas pessoas mais pobres não teriam acesso, suas famílias não poderiam pagar”, acrescenta.

PARTICIPAÇÃO

Divulgado nesta semana, o levantamento foi feito entre fevereiro e junho de 2018 e demonstra que, ao longo dos anos, têm aumentado tanto a participação de pessoas com menor poder aquisitivo quanto a de pretos e pardos nos campi pelo país.

Na Ufes, a constatação desse cenário tem pelo menos dois lados. De um, é a possibilidade de acesso, como a do jovem Kide Batista da Silva, 19, aluno do 1º período de Letras-Inglês, que pensava que entrar na universidade era uma realidade distante para ele. “Vim de escola pública e, por mais que os meus professores se esforçassem, a gente sabe que o ensino não é tão preparador quanto o da particular.”

Mas, mesmo com as dificuldades, Kide se candidatou a uma vaga na Ufes, pelo sistema de cotas, e entrou. Natural da Bahia, veio para Vitória sozinho depois de ser aprovado. Mora na região de São Pedro e equilibra as contas com um salário mínimo (R$ 998) que recebe como pensão pela morte do pai.

“Sei que na Ufes tem muitas pessoas com condições melhores do que a minha. Dependendo do curso, vejo jovens de 19, 20 anos que já chegam de carro para estudar. Mas eu consegui ultrapassar barreiras, cheguei até aqui e a sensação é muito boa!”, ressalta Kide, que conta com assistência estudantil para se alimentar e está na fila para receber apoio também com o transporte.

Filho de uma auxiliar de serviços gerais, Ramon Matheus de Souza e Silva, 21, está no terceiro período do curso de licenciatura em Educação Física e aponta para outro lado dessa realidade crescente de um público de baixa renda na Ufes: a dificuldade de se manter.

“Basta olhar o RU (restaurante universitário). Houve um esvaziamento depois do aumento no valor da refeição (passou de R$ 1,50 para R$ 5). Muitas pessoas hoje não conseguem almoçar porque não têm como pagar”, observa.

“Também tem muitos buscando assistência estudantil e, se não conseguem, nem terminam o semestre”, completa Ramon, que conta com uma bolsa de iniciação à docência de R$ 400, valor que o ajuda a se manter.

CORTES

O universitário defende as políticas afirmativas, como cotas, que têm permitido mais jovens como ele a ingressar na universidade. Mas se preocupa com a possibilidade de os cortes do Ministério da Educação (MEC) limitarem os recursos a tal ponto que também afetem a assistência estudantil. Há duas semanas, o ministério anunciou o bloqueio de parte da verba para custeio (manutenção) das universidades federais.

“Sempre enxerguei a educação como uma forma de ter mais conhecimento e acesso a oportunidades; possibilidade de ascensão social. É triste que muitos que batalharam para chegar aqui tenham dificuldade de continuar”, atesta.

Os dados nacionais apontam que 30% dos estudantes universitários participam de programas de assistência. A maior demanda é por alimentação, seguida de bolsa permanência, transporte e moradia. No ano passado, do total de entrevistados para a pesquisa, 32,7% pensaram em abandonar o curso por dificuldades financeiras, e 10,3% trancaram a matrícula por essa razão.

SAIBA MAIS

Perfil na Ufes

Renda

A faixa de renda mensal familiar de 68,3% dos estudantes da Ufes é de até um salário mínimo e meio (R$ 1.497,00). Mas, entre esses alunos, a renda média per capita fica em R$ 640,70.

Esse é resultado de uma pesquisa feita em 65 instituições federais de ensino superior, da qual foi extraído o dado regional de renda. Na próxima semana, a Ufes divulgará os demais indicadores do perfil dos alunos de graduação da universidade.

No Brasil

Consulta pela internet

Na pesquisa, foram ouvidos 424.128 alunos de 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica. A coleta de dados foi toda via internet, no período de fevereiro a junho do ano passado. Essa é a quinta edição do levantamento, iniciado em 1996 e com outras edições em 2004, 2011 e 2016.

Sexo

As mulheres continuam sendo maioria, e ainda ampliaram a participação. Num comparativo de 1996 com 2018, a representação das alunas passou de 51,4% para 54,6%, enquanto o número de alunos foi de 48,6% para 45,1%.

Cor ou raça

Da população pesquisada, 51,2% é negra, mas ainda representa um percentual menor do que o da população brasileira (60,6%). Em 15 anos, as ações afirmativas, como o sistema de cotas, contribuíram para o aumento da participação de pretos e partos nas universidades.

Eles eram 160 mil em 2003 e superaram

os 613 mil no ano passado.

Formação

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