Publicado em 28 de março de 2018 às 22:15
A Polícia Federal abriu inquéritos para investigar documentos falsos em processos para obtenção de posse e porte de armas de fogo no Espírito Santo. As investigações ocorrem em Vitória, Vila Velha e São Mateus. Um despachante de armas chegou a ser preso em Cachoeiro de Itapemirim no ano passado, segundo a polícia.>
Há indícios de que pessoas com pendências com a Justiça apresentaram certidões negativas de antecedentes criminais falsas. O documento é obrigatório para que a PF conceda autorização para um cidadão ter uma arma. Quem responde a processo ou inquérito criminal não pode requerer.>
Também são investigados documentos falsos apresentados para atestar ocupação lícita, outra exigência para ter acesso a uma arma legalizada. As informações são do superintendente da PF no Espírito Santo, delegado Ildo Gasparetto.>
Segundo ele, esses documentos têm sido apresentados por despachantes de armas. No final de 2017, um desses profissionais chegou a ser preso em Cachoeiro de Itapemirim. Despachantes costumam ser acionados por cidadãos que não querem perder tempo com a organização da papelada.>
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"Na ânsia para comprar arma ou para o porte, as pessoas estão procurando despachantes, intermediários. E esses caras, para facilitar a vida das pessoas, estão cometendo crimes, falsificando certidões de antecedentes (criminais)", afirmou Gasparetto.>
Mesmo se documentos falsos forem apresentados por despachantes, os cidadãos que recorreram ao serviço do profissional que os fraudou também estão cometendo crime, destacou o superintendente. "É um absurdo. Para comprar arma tem que ter atividade lícita. Estão fraudando até isso para conseguir uma arma", disse.>
De acordo com Gasparetto, os envolvidos poderão ser enquadrados no crime de falsidade ideológica, que pode render pena de reclusão de um a cinco anos. "Estamos verificando os casos todos. Além de responder a inquérito policial, terá cassada a posse de arma ou o porte. Será tirada a arma da pessoa", comentou o delegado.>
O superintendente pretende discutir com o presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), desembargador Sérgio Gama, a questão das certidões antecedentes negativas sendo usadas por pessoas com registros de antecedentes criminais.>
PROCEDIMENTO>
A Polícia Federal é a responsável pelo Sistema Nacional de Armas e é o único órgão com a atribuição de autorizar a compra de armas para posse e porte. Em nota enviada à imprensa na terça-feira (27), o órgão reforçou que o interessado nesses serviços pode fazer por conta própria, a partir do site oficial da instituição.>
"É absolutamente desnecessária a utilização de serviços de intermediários para requerimentos relacionados à arma de fogo junto à Polícia Federal. O único critério utilizado para a ordem de análise dos pedidos dos cidadãos em geral é a data de protocolo, sendo indiferente se o requerente atua por intermédio de procurador ou diretamente", frisou o texto.>
A taxa paga para solicitar a posse de arma de fogo é de R$ 88. Para requerer o porte, R$ 1.466,68. Junto com os requerimentos, é necessário apresentar uma série de documentos. Alguns deles só são obtidos por meio de cursos ou exames, o que acaba por exigir novos gastos.>
A comprovação de capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo, por exemplo, pode gerar um custo de cerca de R$ 500. Comprovação de aptidão psicológica, outros R$ 200.>
QUAL A DIFERENÇA?>
Posse é a autorização para manter uma arma exclusivamente dentro de casa ou no local de trabalho (quando o cidadão é proprietário ou gerente do local). O transporte do armamento só pode acontecer em situações específicas, autorizadas pela PF.>
Porte é a autorização para portar, transportar e levar consigo uma arma. Em 2017, estimava-se que apenas 700 pessoas tenham porte no Estado. O porte só é concedido em situações bem restritas. É preciso comprovar que a vida está em risco. Argumentos genéricos sobre a violência urbana não são aceitos pela Polícia Federal.>
ESCALADA>
Dados oficiais da PF mostram grande salto na emissão de registros de posse e porte de arma de fogo - e, portanto, também na solicitação de acesso a armas - por cidadãos comuns. Em 2016, a PF autorizou 436 posses de arma. Em 2017, 1.441, o que representa aumento de 230%. Nos três primeiros meses de 2018, já são 344.>
Também cresce a quantidade de porte de arma autorizado. Foram 38 em 2016 e 227 em 2017. O aumento foi de 628%. Em 2018, já foram 88 autorizações.>
Junto com os documentos é necessário apresentar uma "declaração de efetiva necessidade". Em entrevista ao Gazeta Online no ano passado, a delegada responsável pelo Sinarm da PF no Espírito Santo, Andreia Canal, afirmou que alegar viver em local perigoso basta para justificar o pedido de posse de arma. Não vale para a concessão de porte.>
O superintende da PF, Ildo Gasparetto, atribui o crescimento nos registros à "legislação que facilita o acesso", ao reforço na equipe de policiais que atuam na área e à interpretação de que é um direito do cidadão, se apresentados as justificativas e documentos.>
REPRESENTAÇÃO>
A reportagem procurou por representantes dos despachantes de armas, falou com alguns desses profissionais. Mas eles informaram que não há nenhuma associação ou entidade que os represente no Estado.>
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