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Enem: aluno vai escolher a prova do segundo dia

Enem: aluno vai escolher a prova do segundo dia

Governo anunciou mudanças para o exame a partir de 2021

Publicado em 21 de novembro de 2018 às 01:44

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Os amigos Matheus, Victória, Juliana e Luiz Henrique estão divididos quanto à mudança do Enem, prevista para 2021. (Marcelo Prest)

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passará por uma mudança significativa a partir de 2021. O Ministério da Educação anunciou na terça-feira (20) que o segundo dia de provas contará apenas com conteúdo específico da área que o estudante optar, vinculada à graduação que pretende cursar. Já o primeiro dia vai cobra conteúdos gerais básicos, previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ainda está sendo analisada no Conselho Nacional de Educação (CNE).

Atualmente, todos os estudantes que prestam o Enem fazem a mesma prova, tanto no primeiro, quanto no segundo dia. Segundo o ministério, a mudança reflete a reforma do ensino médio, aprovada pelo governo Temer.

As novas diretrizes preveem até 60% da carga horária para a formação geral básica e o restante para itinerários formativos, com aprofundamentos em áreas de interesse, que poderão ser em linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico.

Os campos de conhecimento que estarão disponíveis aos participantes do Enem devem acompanhar o formato dos itinerários, mas ainda não existe definição oficial.

A estudante Juliana Bueno cursa o segundo ano do Ensino Médio e teme que a mudança penalize os indecisos. “Esse novo formato favorece os estudantes que já sabem o que desejam fazer na faculdade. No entanto, aqueles, como eu, que estão indecisos sobre a área que querem seguir, ficarão mais ansiosos ao saber que terão que decidir ao entrar no ensino médio”, diz.

CURSINHOS

De acordo com coordenadores de cursinhos pré-vestibular, a mudança no exame faz sentido, tendo em vista as mudanças propostas para o Ensino Médio nos próximos anos.

“Todos os meus alunos hoje têm que saber o mesmo conteúdo. A proposta é que, em algum momento, eles tenham aulas de acordo com as habilidades em que queiram focar. Para avaliar isso, vai precisar de um novo Enem”, avalia o professor Leonardo Gama, coordenador da 3ª série do ensino médio do Salesiano.

O diretor do pré-vestibular do Up, James Scandian, concorda. Apesar de haver ainda pouca informação disponível sobre essa prova, ele acredita que ela é condizente com as mudanças. “A mudança é necessária para que o Enem seja compatível com o que será ensinado”, disse.

Para o diretor do Leonardo da Vinci, Marcos Augusto Martins Cardoso, a nova prova pode se assemelhar a um modelo utilizado pelas universidades antigamente e que ainda persiste em algumas instituições pelo país. “Sendo a prova do segundo dia discursiva ou objetiva, se assemelha a vestibulares que existem e que continuam como antigamente. A Uerj é assim, Fuvest e Unicamp também têm esse modelo”, lembra.

MUDANÇAS A PARTIR DE 2021

Enem

Como é hoje

Primeiro dia

Atualmente, a prova é feita em dois dias. No primeiro, são aplicadas 90 questões nas áreas de Ciências Humanas e Linguagens, além da redação. A duração é de cinco horas

Segundo dia

No segundo dia, as provas são de CIências da Natureza e Matemática. Cada área tem 45 questões com peso igual.

Como vai ficar

Primeiro dia

Vai cobrar conteúdos gerais básicos , previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ainda está sendo analisada no Conselho Nacional de Educação (CNE).

Segundo dia

Contará apenas com conteúdo específico da área que o estudante optar, vinculada à graduação que pretende cursar.

Itinerários

As escolhas para o segundo dia deverão ser em Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas ou Ensino Técnico.

MUDANÇAS DIVIDEM ESPECIALISTAS

A mudança que irá ocorrer em 2021 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) divide especialistas. Alguns acreditam que flexibilizar o Enem, assim como anunciou o governo e deve prever a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é importante para direcionar o estudante desde o ensino médio para a área em que pretende seguir. Para outros, porém, o novo formato traria perdas para o aluno por cobrar um conhecimento limitado.

A coordenadora do Comitê do Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e professora da UnB, Catarina de Almeida Santos, afirma que é interessante para o aluno ter uma formação abrangente e que esta seja cobrada no Enem.

“A educação básica tem como objetivo formar o sujeito para a cidadania e para o mundo do trabalho. O aluno precisa de uma formação em diversas áreas, porque na educação superior ou no nível técnico a pessoa já irá se especializar. Essa mudança vai deixar o Enem coerente com esse ensino médio fragmentado”, disse.

A professora do programa de pós-graduação em Educação da Ufes, Cleonara Maria Schwartz, concorda. Ela diz que o Enem deixará de cobrar uma sólida formação nas diferentes áreas. “É uma formação restritiva. Os jovens se adaptarão ao mercado, mas não terão conhecimento sobre o mundo para conseguir intervir nele. Um país com tantas diferenças não pode formar alunos apenas com conhecimentos específicos”, disse.

IMPORTANTE

Para o coordenador de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Francisco Curcio, a BNCC é uma mudança importante na educação básica. Ela irá adequar os jovens a realidade do país e o Enem deve estar alinhado a essas transformações.

“Revisões periódicas no Enem são importantes porque a sociedade é dinâmica. A BNCC tem o objetivo de formar um cidadão pleno, mas que tenha um direcionamento para a sobrevivência econômica, ou seja, para o mercado de trabalho. Direcionar o aluno desde o ensino médio irá prepará-lo de forma mais rápida para o mercado”, acredita o professor.

PRAZO

No entanto, todos os especialistas ouvidos pela reportagem acham precoce a mudança em 2021. Para eles, não haveria tempo hábil para preparar os alunos e muitos seriam prejudicados. Curcio defende que as novas regras passem a valer apenas em 2022.

Dessa forma, a BNCC poderia ser aprovada até o próximo ano, entrar em vigor em 2020 e assim dar tempo para que esses estudantes cheguem ao terceiro ano, o que só vai acontecer em 2022. “Os alunos devem ter tempo o suficiente para se adequarem a essas mudanças”, disse.

MINISTÉRIO LIBERA ATÉ 30% DO ENSINO MÉDIO À DISTÂNCIA

O Ministério da Educação homologou ontem as novas diretrizes do ensino médio que permitem que até 30% dele seja feita à distância. O texto prevê que em cursos realizados durante o dia, o aluno poderá fazer até 20% das horas obrigatórias a distância. Para quem estuda à noite, o percentual chega a 30%. Já na Educação para Jovens e Adultos, essa possibilidade aumenta para 80% das aulas.

O ministro da Educação destacou, ontem, o caráter “opcional” da educação a distância, que já causou grande polêmica ao longo das discussões das diretrizes no CNE. “Educação a distância é opcional. A rede fará ou não fará de acordo com seus interesses”, afirmou o ministro da Educação Rossieli Soares.

Segundo o documento, essa oferta se daria em parceria com instituições educacionais especializadas nessa área e reconhecidas pelo MEC.

Outro ponto previsto nas diretrizes é a oferta de ao menos dois itinerários formativos em cada município para os alunos do ensino médio. Eles podem cursar mais de um, se quiserem. A capacidade de as redes escolares ofertarem essa parte flexível prevista na reforma é uma das principais preocupações de educadores.

Além das diretrizes, que já foram homologadas ontem, o MEC ainda terá que aprovar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que vai definir os objetivos de aprendizagem da etapa.

DIRETRIZES

Educação à distância

Limite

O documento estabelece que as atividades realizaTdas à distância podem contemplar até 20% da carga horária total no diurno, podendo incidir tanto na formação geral básica quanto, preferencialmente, nos itinerários formativos (optativas) do currículo. No ensino noturno, pode expandir para até 30%.

Obrigatoriedade

A implantação da educação à distância é uma decisão de cada sistema de ensino (Secretarias de Estado de Educação), ou seja, não há obrigatoriedade, mas torna-se uma possibilidade a partir da homologação das diretrizes pelo Ministério da Educação.

Carga horária

Distribuição

A jornada dos estudantes será dividida em formação básica (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas) e itinerários formativos, com atividades para aprofundamento em áreas de interesse do estudante e formação técnica profissional.

Jornada

Ampliação

A carga horária anual obrigatória passará de 800 para 1.000 horas, em 200 dias letivos, até 2022. Depois, ela deverá ser estendida gradativamente para 1.400 horas.

 

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