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Desvendando os mistérios de Vitória: o 'Castelinho da Capixaba'

Desvendando os mistérios de Vitória: o "Castelinho da Capixaba"

Mansão dos Neffa, no Centro, foi projetada pelo mesmo arquiteto que desenhou o Copacabana Palace

Publicado em 2 de setembro de 2013 às 13:49

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"A cidade mudou. Partiu para o futuro... Comeu colinas, comeu templos, comeu mar". O trecho da poesia de Vinícius de Moraes retrata bem a Vitória atual. Cercada por prédios e cortada por ruas e avenidas cada vez mais movimentadas, a Capital pode ter mudado, mas ainda guarda locais misteriosos e com uma rica história.

Reportagem originalmente publicada em 2 de setembro de 2013. 

Localizados em vários pontos da cidade, esses refúgios costumam passar despercebidos ou são desconhecidos da maioria da população. Nesta semana que antecede os 462 anos de Vitória, comemorados no próximo domingo (08), o Gazeta Online vai mostrar cinco desses locais que muitos nem imaginavam existir. O primeiro deles fica na região chamada de Capixaba, logo após a Curva do Saldanha.

Quem costuma passar pela Avenida Jerônimo Monteiro, na altura da loja C&A, já deve ter observado um muro alto e extenso com o quintal tomado por uma vegetação densa. No topo deste terreno aparece, imponente, e muitas vezes assustador, o que muitos ao longo do tempo apelidaram de "Castelinho da Capixaba", em alusão ao nome da antiga avenida.

Com o início da construção datada de 1927, as obras da residência da família Neffa levaram aproximadamente oito anos para serem concluídas. Só para se ter uma ideia da grandiosidade da casa, o local tinha três endereços: Avenida Capixaba nº 447, Escadaria Nicolau de Abreu nº 40, e Rua Wilson Freitas, nº 300, onde os automóveis passavam para entrar na garagem.

Para a época, chamava a atenção o número de quartos: oito. Segundo o empresário Carlinhos Neffa, 73 anos, que nasceu e teve toda a infância e adolescência no Castelinho, o responsável pelo projeto arquitetônico foi o francês Joseph Gire, o mesmo que desenhou o Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. (Veja entrevista no final da matéria com o proprietário do Castelinho, Carlinhos Neffa).

A beleza da mansão - toda ajardinada na frente e com portões de ferro decorados - impressionava a todos, principalmente os turistas que chegavam em navios pelo Porto de Vitória. "A baía de Vitória era toda livre, na frente da casa não havia outras edificações. Não existia as avenidas Beira-Mar e Princesa Isabel. Só tinha a Avenida Capixaba, que hoje é chamada de Jerônimo Monteiro. Os navios, quando entravam na baía, diminuíam bem a velocidade. Aí os passageiros fotografavam a casa. Quando o navio parava no porto, esse pessoal descia e vinha caminhando pela Avenida Capixaba até a casa, para ver mais de perto e fotografar", lembra Carlinhos Neffa, dono da casa.

Casa suntuosa ao lado

No terreno ao lado, outra casa também chama a atenção de quem passa pela Jerônimo Monteiro. Diferentemente do Castelinho, já em avançado processo de degradação, a mansão da família Vivácqua ainda é habitada. Os vizinhos dizem que um homem, que seria o caseiro e raramente é visto fora da casa, toma conta do local.

A reportagem tentou chamar o morador, mas só os cachorros, curiosos, que nos receberam no portão azul da residência. Aliás, por falar em curiosidade, uma placa já deixa os visitantes de sobreaviso: "Cuidado com os 310 cães". Palavras, é claro, misturadas com o número da casa.

A saída do Castelinho

Carlinhos Neffa conta que, nos anos 1950, as irmãs e o irmão mais velho casaram. "Ficamos na casa eu, mamãe e meu irmão José Guilherme. Mas a casa era muito grande. Então, construímos o Edifício José Neffa no terreno da casa que dá para a Avenida Jerônimo Monteiro. Fizemos esse edifício com oito andares, sendo o último deles inteiro para morarmos. O edifício acabou tirando um pouco da beleza da casa, porque escondeu parte da frente dela", relembra.

A saudade dos tempos de infância na residência, segundo Carlinhos, sempre vêm à tona. "Sempre me recordo quando passo perto da C&A, paro e olho lá para cima trazendo a recordação. São coisas assim que você não tem documento, mas você tem dentro do coração".

O empresário não tem mais esperanças de restaurar a casa. "Hoje o imóvel está precário. O prefeito Vitor Buaiz tombou a casa reconhecendo seu valor cultural. Mas acho que o imóvel precisa é ser demolido, porque ele está muito degradado. Acho que não tem como restaurar aquilo tudo", finalizou.

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