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Amor, respeito e paciência: os segredos de um casamento de 70 anos

Amor, respeito e paciência: os segredos de um casamento de 70 anos

Conheça a história do Ary e da Carmelia, que já passaram dos 90 anos, esbanjam vitalidade e amor

Publicado em 25 de janeiro de 2019 às 14:29

Bodas de Ary e Carmélia no último dia 19 de janeiro em Vitória Crédito: Zenilda Brasil

Em um tempo em que o casal de namorados nem podia dar as mãos, Ary e Carmelia foram apresentados. "Para namorar, tinha que ficar de longe olhando e conversando um bocadinho, né", lembra ele. Os dois se conheceram, namoraram seis anos e depois se casaram. Isso? Há 70 anos.

Para se ter uma noção da longevidade do casamento, na primeira casa deles não tinha geladeira, rádio, muito menos telefone. Mas, mesmo com a vida difícil do início, o casal encontrou maneiras de viver muito bem e, no último dia 19, festejaram as sete décadas de união. O que todo mundo pergunta para eles e o que a gente também quer saber é: o que fazem para dar certo.

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Deu certo por aquilo que foi no início, o amor. Nós sentimos amor um pelo outro. Coisa meio difícil de falar hoje, dada à evolução do relacionamento social

Ary Ferreira, 93 anos
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Essa é a razão para o advogado Ary Lopes Ferreira, aos 93 anos, estar há tanto tempo ao lado da esposa, a pintora Carmelia Mazzei Ferreira, 91 anos.

O CARINHO DA GELATINA

Mas tem também uma gelatina que dá todo sabor à relação. "Fazemos muita coisa um pelo outro, mas ela faz, especialmente para mim, gelatina. É a minha sobremesa preferida (risos). A gelatina é feita e dura três dias, aí ela faz outra e muda o sabor", conta todo apaixonado.

A esposa destaca que aprendeu a fazer gelatina quando menina. "Fazia para o meu pai, depois o jeito era continuar fazendo o que eu sabia fazer, porque eu não sabia fazer nada (risos). A meninada aqui em casa come até hoje. Ele (Ary) gosta demais (risos)".

O senhor Ary fala mais. "Tudo tem um começo, porque tem uma condição afetiva que vai desenvolvendo. Se no começo for uma experiência, apenas, não tem fruto, não desenvolve. Ou desenvolve durante algum tempo e termina. É questão de ter uma ligação estreita, respeitosa, compartilhada, com confidência, de intimidade. É isso que faz a gente se amar".

Já Carmelia - que o marido faz questão de dizer que é linda e tem olhos verdes -, atribui o sucesso da união também à paciência. "Todo mundo pergunta esse segredo (risos). Acho que o segredo é ser muito paciente. Eu não sei nem explicar. Primeiro, tem que ter amor. Não é casar porque está na hora, de momento. Tem que ter amor, saber que vai fazer uma coisa séria. Acho que casar por casar não dá certo. Eu sempre fui muito paciente. Se não gostou, acalma, depois acerta (risos)".

A HISTÓRIA

Os dois se conheceram em um concerto no Colégio Estadual, em Vitória. O cupido foi um primo de Ary. Eles se casaram na Catedral de Vitória em 15 de janeiro de 1949 e passaram a lua de mel em Guarapari. Foram morar em Aymorés e, no primeiro ano de casamento, tiveram o primeiro filho. "Até hoje esse filho reclama que nós deveríamos ter demorado mais um bocadinho, que ele teria menos idade (risos)", diz o pai.

Depois moraram em Santa Teresa, Mimoso do Sul, Rio de Janeiro e voltaram para Santa Teresa. Em seguida, retornaram à Capital. Nesse caminho, nasceram mais três filhos. Hoje, são nove netos e cinco bisnetos - mais um a caminho na barriga - e a casa com o jardim mais bonito da Praia do Suá, como Ary se orgulha em dizer.

O casal, que já passou dos 90 anos e está ótimo de saúde, se mantém ativo. Eles gostam de viajar e aprender. Tanto que Carmélia voltou a fazer aulas de piano e toca para o amado. "Sempre apoio quando ela quer estudar, até sento perto para ouvir, tem uma música que ela toca para eu ouvir".

Ary, mesmo aposentado, continua com o escritório de advocacia. Os dois fazem pilates, tomam café da manhã juntos e mostram como o amor verdadeiro pode resistir ao tempo.

DIFICULDADES

"Durante o tempo todo, as diferenças aparecem, as divergências também aparecem e, se não tiver um fator que ultrapasse, que seja superior, a vida não fica boa. Naturalmente, nesses anos todos, quanta coisa diferente aconteceu pelo desenvolvimento intelectual, social, político. A gente tem que ter alguma coisa que supere o relacionamento diário, onde pode acontecer uma porção de coisas. A maneira de educar os filhos. Aliás, a minha mulher é uma santa, todo mundo gosta dela, eu sou mais educador. Ela é uma mulher bonita de olhos verdes", elogia. 

DEPOIMENTOS DAS BODAS DE VINHO

Com uma história dessas, a família tinha que comemorar. O Gazeta Online selecionou depoimentos de quem participou do evento no dia 19 de janeiro. Veja. 

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Crescemos num lar maravilhoso, papai empunha respeito só com o olhar, severo nos modos, no comer a mesa... Mas nunca violento ou bruto e nada temos de trauma, queixa ou reclamação, muito pelo contrario, só felicidade, amor e gratidão. Mamãe sempre mais tolerante, fazia deliciosos quitutes, se esmerava em manter o lar um brinco e gastando muito pouco, muita economia. Tivemos os melhores exemplos de vida, de honestidade e amor

Carlos Jaques, um dos filhos
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A renovação dos votos não foi escrita, foi falada de coração. E ele iniciou dizendo que ia repetir o que prometeu no dia em que eles casaram e continuaria pelo resto da vida a manter a promessa. A forma como eles se tratam, é muito fofa

Norma Marques, cerimonialista
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Há pouco mais de um ano decidi mudar minha atuação na fotografia e não fotografar mais casamentos. Mas quando recebi o contato da cerimonialista Norma Marques falando sobre as bodas de 70 anos do Senhor Ary e da Dona Carmelia, vi que seria um privilégio participar de um momento tão significativo e raro nos dias atuais. Saber que o nosso trabalho perpetuará esse dia tão especial na vida dessa família, é um presente de Deus

Zenilda Brasil, fotógrafa
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