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71 resgatados em situação análoga à escravidão no ES estão com Covid-19

71 resgatados em situação análoga à escravidão no ES estão com Covid-19

Segundo a Superintendência Regional do Trabalho, os trabalhadores que testaram positivo foram medicados e voltarão para MG, já que não há condições de isolar todos em Vila Valério

Publicado em 11 de maio de 2021 às 21:47

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Os trabalhadores foram resgatados por auditores fiscais do trabalho em uma operação que contou com o apoio da Polícia Federal
Os trabalhadores foram resgatados por auditores fiscais do trabalho em uma operação que contou com o apoio da Polícia Federal. (Gabriela Fardin )

Dos 77 trabalhadores encontrados vivendo em condições análogas à escravidão na colheita de café em uma fazenda na cidade de Vila Valério, no Noroeste do Espírito Santo, 71 testaram positivo para a Covid-19. Todos fizeram um novo teste nesta terça-feira (11), antes de voltaram para Minas Gerais. Desse total, 21 já tinham testado positivo para a doença nesta segunda-feira (10)

Os trabalhadores foram resgatados na última sexta-feira (7) por auditores fiscais do trabalho em uma operação com a Polícia Federal. Os agentes retornaram à propriedade nesta terça-feira (11) e solicitaram uma nova metodologia de testagem para que os trabalhadores fossem liberados. Anteriormente, eles foram submetidos ao teste rápido, que detecta a presença de anticorpos. 

O procedimento foi realizado porque, além das condições inadequadas de trabalho e moradia, muitos trabalhadores estavam com  Covid-19 quando chegaram e foram colocados junto com os outros para seguirem no trabalho.

De acordo com informações da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Espírito Santo (SRTE-ES), que está à frente das investigações, os trabalhadores que testaram positivo receberam atendimento médico e foram medicados. Todos voltarão pra Minas Gerais, já que não há condições de isolar todas essas pessoas em Vila Valério. 

A operação de volta para casa vai contar com dois ônibus e uma van para os seis trabalhadores que foram negativados para a doença. Os trabalhadores encontrados em Vila Valério são de cidades do Vale do Jequitinhonha, em Minas. A região é uma das mais pobres do estado vizinho.

De acordo com a SRTE-ES, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) foi comunicada da situação dos trabalhadores e vai prestar auxílio no caso. 

Trabalhadores vivam em
Trabalhadores viviam em condições precárias, segundo a SRTE. (Gabriela Fardin )

A viagem deve ocorrer entre a noite desta terça-feira e a madrugada de quarta (12). Os trabalhadores serão liberados após os pagamentos do período de serviço e de todas as verbas rescisórias. Todos os valores são de responsabilidade dos proprietários da fazenda. Cada um dos trabalhadores deve receber até R$ 6 mil.

RELEMBRE O CASO

Os trabalhadores vindos de Minas Gerais foram encontrados em condições análogas à escravidão na Fazenda Vargem Alegre, que fica na localidade de Jurama, interior do município de Vila Valério. Eles foram ao local para trabalhar na colheita do café e, após denúncias, foram resgatados na última sexta.

Além do fato de que parte deles testou positivo para Covid-19 e mesmo assim eles eram mantidos no local sem tratamento de saúde ou isolamento, a operação verificou que todos tinham péssimas condições de trabalho e moradia e que não recebiam salários e outros direitos trabalhistas. 

CONDIÇÕES DE TRABALHO E MORADIA

Os trabalhadores saíram de casa no dia 17 de abril e teriam sido agenciados por um homem que trabalha trazendo essas pessoas para atuar na colheita do café no Espírito Santo. Esse tipo de agenciador é popularmente conhecido como "gato".

Ao chegarem em Vila Valério, os trabalhadores foram divididos em pequenos alojamentos que não tinham a estrutura adequada para abrigar os moradores. Os banheiros não tinham água quente e em um único quarto ficavam 10 mulheres. Além disso, três adolescentes de 16 e 17 anos estavam trabalhando no local.

Locais contavam com estrutura inadequada de trabalho e moradia
Locais contavam com estrutura inadequada de trabalho e moradia . (Gabriela Fardin )

Além disso, os trabalhadores tiveram a carteira de trabalho retida pelos empregadores. Segundo Alcimar, além de não receberem salários, eles eram ameaçados pelo proprietário, que dizia que eles teriam que trabalhar para pagar o dinheiro gasto com suas passagens.

A alimentação também seria descontada deles no fim da colheita. Além disso, no local tinha uma venda onde as compras também seriam descontadas dos valores a serem recebidos. Em função disso, eles eram impedidos de deixar a propriedade.

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