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Tarcísio Meira: o que explica a morte por Covid após 2 doses da vacina?

Tarcísio Meira: o que explica a morte por Covid após 2 doses da vacina?

Especialistas explicam que a vacina tem poder de evitar, na maior parte dos casos, o agravamento da doença, mas não impede contágio. Eles reforçam que a vacinação é essencial para salvar vidas

Publicado em 12 de agosto de 2021 às 13:24

Data: 27/04/2016 - Peça O Camareiro, com Tarcísio Meira - Editoria: Caderno Dois - Foto: Divulgação - Jornal A Gazeta
Tarcísio Meira durante a peça de 2016 o Camareiro Crédito: Arquivo A Gazeta

Mesmo após as duas doses da vacina contra a Covid-19, o ator Tarcísio Meira, de 85 anos, contraiu a doença e acabou não resistindo. Ele morreu nesta quinta-feira (12). Mas o que explica a infecção com risco de óbito mesmo após a imunização completa?

Especialistas esclarecem que em até 97% das pessoas as vacinas são capazes de impedir que o novo vírus cause a enfermidade de forma mais grave, mas não elimina todas as chances de contrair a doença. Eles reforçam ainda que a vacinação é essencial para salvar vidas. 

O nível do risco de contágio e o agravamento da infecção é maior ou menor de acordo com alguns fatores como idade,  comorbidades e imunidade no momento da exposição ao vírus. Por isso que, além da vacinação, outros cuidados continuam importantes, como afastamento social, higienização das mãos e uso de máscara.

A chegada de novas variantes do novo coronavírus, como a Delta - que tem se espalhado pelo país e já está em transmissão comunitária no Espírito Santo e outras Estados, como Rio de Janeiro de São Paulo - também pode comprometer a resposta imunológica das vacinas em determinados pacientes, o que obriga um zelo ainda maior da população no combate ao vírus.

No caso de Tarcísio, não há informações sobre qual cepa causou a doença que provocou sua morte. Ele estava em isolamento social junto com sua esposa, a atriz Glória Menezes, de 86 anos, mas ambos tiveram contato com o coronavírus num momento de descuido, de acordo com informações da família.

Eles tomaram a segunda dose da vacina na Cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, em março deste ano. A marca do imunizante não foi divulgada.

Os dois foram internados na última sexta-feira (6), no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, após sintomas gripais. Tarcísio Meira acabou precisando de intubação. Glória, que foi diagnosticada junto com o marido, apresentou o quadro leve, e deve ter alta do hospital em breve, segundo a assessoria de imprensa do casal de artistas.

Os atores Tarcísio Meira e Glória Menezes
Os atores Tarcísio Meira e Glória Menezes Crédito: Globo / Joao Miguel Junior

Até o início da semana, Tarcísio estava evoluindo bem e a equipe médica estava esperançosa. Ele precisou ser intubado "para melhor conforto do tratamento, conforme comunicados médicos divulgados anteriormente.

O professor-doutor em Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, explica que a contaminação dos atores, mesmo após o esquema vacinal completo, ocorreu porque a vacina da Covid-19 impede apenas a piora clínica do paciente na maioria dos casos e não a infecção em si.

Em pacientes com idade avançada, cardiopatias ou com outras comorbidades, a imunização nem sempre impede o avanço da infecção na forma que aconteceu com o ator.

1963 - Glória Menezes com Tarcísio Meira em cena de 2-5499 Ocupado, primeira telenovela diária por Divulgação/Arquivo A Gazeta

“As vacinas são basicamente produzidas de duas formas. Existem aquelas que têm capacidade de prevenir infecções, enquanto outras vão atuar na prevenção de uma piora clínica, que é o caso dos imunizantes contra a Covid-19. Ou seja, uma pessoa vacinada, pode ser contaminada e também transmitir a doença a outros indivíduos”, pontua.

Gomes também destaca que a resposta imunológica do organismo após receber as duas doses do imunizante vai variar de paciente para paciente. O especialista ainda faz outras ponderações:

"Pacientes que pertencem ao grupo de risco são mais suscetíveis à doença e, consequentemente, a uma piora clínica. Por isso que, mesmo vacinados, os protocolos de distanciamento social, higienização das mãos e uso de máscara devem ser mantidos"

Daniel Gomes

Professor Doutor em Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

Em entrevista ao Portal UOL, a doutora em Microbiolgia  e presidente do Instituto Questão de Ciência, explicou que a vacina não é mágica. Ela faz uma analogia ao futebol, comparando um bom imunizante a um bom goleiro. 

Segundo ela, é avaliado se um jogador é bom a partir do seu histórico em campo. Mas se esse goleiro atua em um time fraco, com algum problema em sua defesa, nem sempre o goleiro consegue impedir um gol.

"Uma boa vacina é como se fosse um bom goleiro. E como sabemos que o goleiro é bom? Vamos olhar o histórico dele. A frequência com a qual ele faz defesas. Se ele defende com frequência, ele é um bom goleiro. Isso não quer dizer que ele é invicto, que ele nunca vai tomar gol. Mas, mesmo se tomar gol, ele não deixa de ser um bom goleiro"

Natália Pasternak

Doutora em Microbiologia em entrevista ao UOL

A mesma coisa ocorre com o vírus que entra em contato com um organismo doente e com falha em seu sistema imunológico. Mesmo que o paciente tenha tomado a melhor vacina, muitas vezes, o agente causador é capaz de driblar essa eficiência, causando a doença.

"A vacina diminui o seu risco de ficar doente, agora se você estiver numa área onde a defesa do time é ruim, onde o vírus está circulando muito, a chance de você ficar doente aumenta"

Natália Pasternak

Doutora em Microbiologia em entrevista ao UOL

É FUNDAMENTAL PROTEGER OS IDOSOS, AFIRMA ESPECIALISTA

Segundo a professora-doutora em Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e enfermeira, Ethel Maciel, em função da baixa cobertura vacinal no país, em que apenas 21,49% da população está totalmente imunizada (com as duas doses ou com vacina de dose única), é fundamental proteger os idosos, que têm um sistema imunológico mais frágil.

“Mesmo as pessoas vacinadas devem contribuir para o controle da doença e seguir as medidas de prevenção. Aquelas que convivem com idosos, mais ainda. Há estudos que indicam a aplicação de uma dose de reforço nesse público, que têm uma resposta à doença, mesmo após completar o esquema vacinal, mais baixa. Israel já começou a fazer isso, o que não é uma realidade para o Brasil. Aqui, cerca de 80% da população tomou apenas uma dose ou nenhuma”, explica Ethel.

A epidemiologista lembra que os cuidados são básicos. “O cenário ainda é de pandemia, embora haja redução das infecções atualmente, ainda há muitos casos da doença confirmados diariamente. Precisamos seguir com as medidas de controle e de forma rigorosa, usando máscaras mais filtrantes, evitando aglomerações, higienizando as mãos e completando o esquema vacinal contra a Covid-19. A vacina é uma ferramenta contra a pandemia eficiente, e que deve ser combinada com os demais cuidados”, destaca. 

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