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Publicado em 22 de maio de 2025 às 16:04
Três meses após a sanção da Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares em escolas, A Gazeta ouviu instituições, pais e alunos para entender o impacto dessa medida no comportamento dos estudantes tanto dentro quanto fora das unidades de ensino. Sem os aparelhos, coordenadores pedagógicos e diretores escolares relatam que alguns adolescentes e jovens têm resgatado práticas pouco comuns no ambiente escolar, como o crochê e o tricô. Outros preferem a leitura e os jogos de tabuleiro. Ao mesmo tempo, foi percebido um aumento na interação entre os alunos.>
A lei, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estabelece medidas para o uso de celulares em escolas de redes públicas e privadas, visando promover um ambiente mais saudável e equilibrado nas instituições de ensino.>
A resposta mais ouvida pela reportagem foi a seguinte: sem os celulares, a interação entre os alunos e o diálogo estão muito mais presentes nas escolas. Os estudantes, que antes se privavam de partilhar vivências por estarem imersos nos celulares, passaram a conversar e confraternizar com outros núcleos.>
Nenhuma das escolas relatou resistência por parte dos estudantes à restrição. Além disso, afirmam que os alunos já retornaram às aulas cientes das medidas e sem questionar a sua implementação. >
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A maioria das escolas já apresentava preocupação com o excesso de uso de celular durante as aulas. Por isso, muitas adotaram medidas de restrição antes mesmo de a lei ser aprovada. >
A orientadora educacional do ensino médio da Escola São Domingos, Vivian Fafá, explica que, após a pandemia, a unidade observou que alguns alunos possuíam a necessidade de estar sempre conectados. A escola, então, criou uma Política de Uso de Tecnologias, na qual a utilização do aparelho celular só era permitida durante o intervalo. Agora, com a nova lei, o aparelho passou a ser totalmente proibido. Mas também há a preocupação de ensinar os estudantes a utilizar os mecanismos da tecnologia de forma crítica e ética.>
“Não adianta virar e falar que acabou. Precisamos fazê-los refletir o porquê dessas iniciativas estarem sendo tomadas, promover o pensamento crítico nos alunos”, explica Vivian. >
A restrição do uso do celular também tem impactado a vida fora da escola. Francine Filogônio, mãe de duas alunas, relata que a medida melhorou a interação familiar e aumentou a prática de leitura e exercícios físicos por parte das filhas.>
Francine destaca que os responsáveis também devem ser aliados nessas restrições. “É um grande desafio impor restrições porque eu sou uma pessoa muito conectada. A limitação de uso acabou servindo também para a minha desconexão”, enfatiza. >
Não são apenas os pais que estão notando as mudanças positivas que o tempo longe das telas está trazendo para o dia a dia dos estudantes. Beatriz Filogônio e Manuela Filogônio, alunas do ensino médio e fundamental, respectivamente, filhas de Francine, afirmaram que a medida melhorou muito a interação delas com outros alunos e reduziu a ansiedade por estarem constantemente conectadas.>
Giuseppe Cicatelli, estudante da rede pública, também observou uma mudança significativa em seu comportamento. Agora, segundo ele, as conversas com os amigos passaram a ser mais profundas, sobre assuntos variados e sem a necessidade de recorrer à internet. "Eu gosto da iniciativa. É interessante viver como nossos pais viviam antigamente, sem nenhuma tela", comenta o estudante. >
A prática de leitura e esportes e a curiosidade por novos hábitos aumentaram após a restrição ao celular. Os alunos abriram o caminho para explorarem novas possibilidades de hobbies e entretenimentos diferentes, que não os interessavam enquanto estavam conectados ao celular. >
Três alunas do colégio Salesiano, em Jardim Camburi, Maria Clara Gonçalves, Clara Mazzega e Elena Ribeiro, chamaram atenção ao adotarem a prática de crochetar durante o intervalo. A iniciativa foi tomada pelas próprias estudantes em busca de um novo hobbie.>
A instituição sempre disponibilizou jogos e livros para os estudantes. Porém, agora os materiais passaram a ser utilizados com mais frequência. "Percebemos que os alunos estão mostrando grande interesse nessas atividades e, como resultado, estão mais engajados em interagir uns com os outros. Isso é um ponto extremamente positivo. Até o momento, a iniciativa está apresentando resultados muito promissores", disse o diretor executivo do Salesiano, Ilton Chaves. >
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que está adotando novas estratégias para promover a adaptação dos alunos, incluindo a distribuição de jogos de tabuleiro, livros e equipamentos esportivos.>
Na escola José Rodrigues Coutinho, em Santo Antônio, Cariacica, os alunos têm se beneficiado dessas mudanças. Eles intensificaram a atividade esportiva e descobriram os encantos dos jogos de tabuleiro. Além disso, um grupo de alunos começou a tricotar durante os intervalos, após ter aprendido a atividade em uma disciplina eletiva no ano anterior.>
Glauber Silveira, diretor da escola, relata que a instituição sempre buscou limitar o uso dos celulares, mas que alguns alunos ainda reclamavam nos primeiros dias de restrição. No entanto, ele afirma que a situação não se prolongou e hoje os alunos até estão felizes por conseguirem interagir mais com os colegas.>
A escola da rede pública também promove momentos para que os alunos mostrem seus talentos, como a sexta-feira do karaokê. Além disso, a instituição está estudando a implementação de um estúdio de podcast, a pedido dos alunos, para que possam exercitar a criatividade.>
De acordo com Teresa Augusta Spinassé, diretora pedagógica do ensino fundamental do UP, o momento do intervalo se tornou um espaço de socialização, sem os celulares. “Os alunos começaram a sentar em grupos nas mesas e partilhar jogos de tabuleiro e outras atividades. Antes da proibição alguns alunos já tinham esse hábito. Porém, agora todos estão aderindo ao diálogo com os colegas”, disse.>
Com a proibição de celulares nas escolas, alguns pais e responsáveis se perguntaram como os alunos iriam realizar o pagamento do lanche durante o intervalo. Para resolver essa questão, algumas instituições criaram cartões recarregáveis que permitem aos estudantes comprar alimentos sem problemas.>
Algumas unidades do colégio Salesiano, por exemplo, começaram a receber totens que permitem aos pais criar e carregar o cartão estudantil dos alunos com uma quantia a ser gasta na cantina.>
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