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O que é o 'aparelho hacker' achado com capixaba preso em hotel

O que é o 'aparelho hacker' achado com capixaba preso em hotel

Alvo da Operação CriptoVet, o veterinário e político Thiago Nascimento possuía o Flipper Zero; saiba o que esse dispositivo é capaz de fazer

João Barbosa

Repórter / jbarbosa@redegazeta.com.br

Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 18:41

Flipper Zero, 'aparelho hacker' encontrado em casa de político preso no ES
Flipper Zero, "aparelho hacker" encontrado com político preso no ES Crédito: Divulgação

Durante uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na casa do veterinário Thiago Oliveira do Nascimento, foram encontrados granadas, armas, munições, R$ 14 mil em espécie e um "aparelho hacker".

Filiado ao Partido Liberal (PL), Thiago foi preso em um hotel de Vitória no dia 23 de janeiro, quando mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados a ele. O veterinário virou alvo da Operação CriptoVet, após se tornar suspeito de praticar extorsão, coação e ameaça contra um milionário indiano. Nesta quarta-feira (31), a Justiça negou o pedido de soltura feito pela defesa dele.

Além dos armamentos, o dispositivo eletrônico tachado pelo Gaeco como "aparelho hacker" despertou a atenção. O Flipper Zero é listado como um "aparelho famigeradamente utilizado por hackers" e é proibido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) por não conter homologação. Em 2023, a Anatel publicou nota sobre o aparelho justificando as medidas para a proibição de sua comercialização no Brasil. 

Afinal, o que é o Flipper Zero?

Segundo o relatório do Gaeco, o aparelho torna sistemas de segurança mais vulneráveis e é capaz de interagir com interfaces digitais no mundo físico, clonando sinais de RFID e NFC — sistemas utilizados em crachás, chaves eletrônicas, celulares que fazem pagamentos por aproximação, análise de protocolos de rádio, abertura de portas de carros, catracas, fechaduras eletrônicas, sistemas de controle de acesso e até cartões de transporte.

"Utilizado de forma maliciosa, a cópia realizada com o aparelho Flipper Zero pode ser usada para acessar áreas restritas, fazer pagamentos indevidos ou roubar informações pessoais"

Relatório do Gaeco

Citado na decisão judicial.

Sites especializados em tecnologia afirmam que a ideia do Flipper Zero é reforçar testes de segurança cibernética e aumentar a segurança de dispositivos, mas, na prática, o uso do equipamento é feito de forma maliciosa.

Parecido com um dispositivo MP3, o "aparelho hacker" faz testes de penetração nos dispositivos, identificando falhas em redes eletrônicas. Em julho de 2023, o equipamento ganhou força ao ter um aplicativo agregado.

Aplicativo do Flipper Zero auxilia o uso do dispositivo móvel
Aplicativo do Flipper Zero auxilia o uso do dispositivo móvel Crédito: João Barbosa

Disponível para Android e iOS, o aplicativo facilita o processo de busca e instalação de ferramentas e plug-ins de terceiros diretamente no smartphone do usuário. Cerca de quatro meses antes do aplicativo vir à tona, a Anatel havia proibido o uso do aparelho logo após a apreensão de uma carga do equipamento que chegava ao Brasil.

Nota da Anatel sobre o Flipper Zero

Como o Flipper Zero é um equipamento emissor de radiofrequências, a legislação brasileira estabelece a obrigatoriedade da certificação na Anatel, como condição necessária para sua utilização no país (§2º do art. 162 da LGT). No caso do produto Flipper Zero, considerando-se as informações que temos até o momento, entendemos não ser adequada a sua homologação por declaração de conformidade, considerando-se os riscos que a disseminação desse produto no mercado, sem nenhuma adequação a nossa legislação e condições para uso do espectro radioelétrico, pode representar. É importante observar que o mesmo critério é adotado para os bloqueadores de sinais de radiocomunicações e para os produtos conhecidos como tv box, que não podem ser homologados para uso próprio do usuário. Ressaltamos que as entidades de segurança e demais agentes públicos, que necessitam homologar o produto para suas atividades institucionais, podem proceder com o processo de homologação, bastando entrar em contato com a Gerência de Certificação e Numeração, que informará a documentação necessária

Condenação pelo uso do 'aparelho hacker'

Segundo a lei 14.155/2021, de acordo com as alterações no Código Penal (CP), a pena para quem invade celulares e computadores a fim de "obter, adulterar ou destruir dados e informações sem autorização do dono do dispositivo, ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem", pode aumentar em quatro vezes em relação à pena anterior, que era de até um ano.

A pena ainda tem agravante no caso de o crime resultar em prejuízo financeiro. Nessa circunstância, a prisão varia de 2 a 5 anos.

  • "§ 4º- B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança, ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo", como informa o CP.

No caso de Thiago, além do uso do dispositivo, se for comprovado o crime de extorsão, a pena varia entre quatro e dez anos, além de multa, conforme previsto no artigo 158 do Código Penal. 

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