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Publicado em 22 de agosto de 2025 às 20:04
A sensação de Sara Peisino Barboza é de ter ido do céu ao inferno em minutos. A jovem é mãe de José, bebê que teve o pé queimado com um dia de vida no Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, na terça-feira (19). Poucas horas após o nascimento do primeiro filho, ela viu o sonho virar pesadelo ao acordar com o choro do menino e, ao mesmo tempo, sentir cheiro de queimado. >
“Sonhamos e desejamos tanto o José. Foi uma alegria quando descobrimos, porque perdi minha avó recentemente e ele foi a nossa cura nesse momento. Passar por isso tudo é um pesadelo. Todas as roupas que fiz para ele, a mala e ele só usou uma roupinha. A gente planeja e sonha tanto e alguém vem, e acaba em segundos por despreparo”, desabafou a mãe.>
O pequeno José já passou por cirurgia nesta sexta-feira (22). Segundo os médicos contaram à família, ele não corre risco de morte, mas precisa passar por novo procedimento cirúrgico na segunda-feira (25), para tirar o restante de pele necrosada. >
Apesar de aliviada, nada faz Sara esquecer o que viveu no quarto andar do centro médico, onde estava com o filho após serem considerados saudáveis pós-parto. A jovem mãe estava dormindo quando acordou com o choro do filho e com cheiro de queimado preenchendo todo o andar.>
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“Cheguei na sala e estava uma confusão enorme. Só me falaram que eu ia descer com ele para a Utin. Nem me explicaram o que tinha acontecido. Só vi a meia queimada, mas nem pensei que seria com ele. Desci e minha mãe que contou o que tinha acontecido”, explicou Sara. >
O desespero da mãe é o mesmo da avó Rosilene Pesino. Assim como a filha, a diarista sonhava com a chegada de José. Só que a cena dela segurando o netinho, acabou com ela salvando o menino. >
Aos prantos, Rosilene conversou com o repórter João Brito, da TV Gazeta, sobre ter identificado que algo estava errado no berço. >
“Eu fui arrancando o papel filme todo do bercinho e fui abrindo o macacão dele. Quando peguei a perninha, já dava para ver que tinha pego fogo porque o macacão tinha queimado do lado de fora. Quando eu tirei o macacão o pezinho tinha sido todo queimado”, relatou a avó.>
Toda a cena ocorreu depois dela ter presenciado a enfermeira preparar o algodão. Por confiar no entendimento profissional, ela não interferiu no procedimento. “Ela pegou o algodão e esquentou nas lâminas que ficam no berço para esquentar. Subiu um cheiro de queimado e as colegas perguntaram o que era, mas ela disse que nada tinha acontecido. Depois, colocou o algodão nos dois pés e fechou a roupinha. Vi algo amarelo e percebi algo errado. Ai que fui tirando tudo para pegar ele”, contou.>
“A sorte é que eu realmente tirei o macacão. Ele é de tricô e quando esquenta ele vira um plástico. Se isso tivesse continuado iria queimar ele todo, grudar na pele. Ele poderia ter morrido”, disse a avó materna.>
Sem abraços, beijos e nem dormir no berço. Esses são apenas alguns dos momentos tirados de Sara, Rose, do pai e de todos os parentes que vivenciaram a gravidez e aguardavam o nascimento. Agora, a realidade é lidar com a ausência, ainda que momentânea, de José. >
“Então, esse momento que seria o mais lindo das nossas vidas e como disse a Sara, fomos do céu ao inferno em minutos. E tudo devido à negligência que temos sofrido”, reclamou Rosilene.>
Além dos momentos sofridos no dia que José veio ao mundo, mãe e filha reclamam do tratamento após o bebê ter sido transferido para o Hospital Infantil, em Vitória. Após a cirurgia, a diarista contou que não quiseram informar como tinha sido. >
De acordo com o relatado, a pediatra explicou que somente a cirurgia-plástica poderia passar detalhes e ela só voltaria na próxima segunda-feira. >
Revoltados, a família procurou um advogado e assim conseguiram informações com a diretoria hospitalar. “Eu já estou receosa de conversar sozinha com qualquer pessoa porque toda hora é uma dor de cabeça diferente”, frisou. >
Rosilene Pesino
Avó de JoséA família espera que tudo passe e viviam belos momentos. "Em todo o tempo estamos orando para que tudo ocorra bem e a gente saia desse inferno e vá viver nossa vida, porque nada disso faz parte da nossa vida”, frisou a avó.>
O Ministério Público do Espírito Santo, Sesa e Conselho Regional de Enfermagem capixaba apuram o caso. Além disso, a Camara Técnica Materno-Infantil do Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) explicou, por nota, que a técnica utilizada para controlar a temperatura um bebê de um dia, que o deixou com o pé queimado, no Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, não existe nos protocolos da Enfermagem. >
Segundo o Conselho, a estabilidade térmica deve ser garantida por equipamentos adequados, como incubadoras ou berços aquecidos, e outras medidas padronizadas. Já o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Cível e da Infância e Juventude da Serra, instaurou, nesta sexta-feira (22), procedimento para apurar as circunstâncias da queimadura sofrida por José. A Sesa disse também que afastou os médicos envolvidos até o final da apuração do caso. >
A Polícia Civil informou que o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e, por envolver menor de idade, seguirá sob sigilo.>
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