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ES vai receber kit que permite médico se comunicar com pacientes intubados

ES vai receber kit que permite médico se comunicar com pacientes intubados

Pranchas com desenhos e o alfabeto fazem parte da estratégia que vai auxiliar no tratamento de pessoas com a Covid-19

Publicado em 29 de julho de 2020 às 18:54

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Paciente utiliza prancha de comunicação alternativa
Prancha de comunicação alternativa, já adotada em outros Estados, começará a ser usada com pacientes de Covid no Espírito Santo. (Divulgação)

Os 27 hospitais do Espírito Santo que fazem atendimento a pacientes com a Covid-19 vão receber kits para ajudar na interação da equipe de saúde com as pessoas que forem intubadas. O material é composto por pranchas de comunicação alternativa, que são preparadas com desenhos, letras e números, e visam estabelecer um diálogo, mesmo se o doente tem alguma dificuldade para falar. A proposta é a de garantir bem-estar e, assim, colaborar no processo de recuperação dos internados. 

A previsão é de distribuição de 500 kits aos hospitais nas próximas semanas, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), que firmou uma parceria com o Conselho Regional de Fonoaudiologia da 6ª região (Crefono-6) - Minas Gerais e Espírito Santo - para possibilitar uma comunicação mais efetiva entre a equipe dos hospitais e os pacientes que estejam com a expressão oral limitada. O material será distribuído na rede própria, e também para unidades filantrópicas e particulares que estão realizando atendimento da Covid-19 pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

As pranchas de comunicação alternativa são recursos já utilizados na área da saúde, mas especialmente em atendimento clínico, e a proposta de fazer um material específico para atender pacientes intubados em decorrência da Covid-19 surgiu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de onde partiram os primeiros kits para hospitais da região metropolitana de Porto Alegre (RS). Agora, a produção do material vai ser levada para todo o Estado do sul do país. 

Eduardo Cardoso, professor do Departamento de Design e Expressão Gráfica da Faculdade de Arquitetura da UFRGS e coordenador de um grupo que promove a comunicação acessível, ressalta que as pranchas oferecem conforto e segurança tanto para os que estão internados, quanto para suas famílias pelo fato de o diálogo ser estabelecido e, deste modo, contribuir para o tratamento. 

ESCALAS DE  DOR

E essa comunicação é promovida com os elementos - desenhos, letras e números - impressos no material. Há, por exemplo, escalas de dor, e outros indicadores de sensações, como frio, calor, fome ou necessidade de utilização do banheiro.  "O público-alvo dessas pranchas é bem abrangente e, até mesmo uma criança não alfabetizada, pode se beneficiar do recurso durante o tratamento", observa Eduardo Cardoso, acrescentando que a produção dos kits já foi traduzida para seis idiomas, incluindo o chinês. 

Eduardo Cardoso, professor da UFRGS, coordena grupo de comunicação acessível
Eduardo Cardoso, professor da UFRGS, coordena grupo de comunicação acessível e desenvolveu projeto com sua equipe. (Acervo pessoal)

Além do período de internação, o professor avalia que o material desenvolvido por sua equipe - que trabalha de maneira remota em decorrência da pandemia - pode ser aproveitado também para a fase posterior à intubação. Eduardo Cardoso aponta que há muitos pacientes que, devido ao longo período de utilização do respirador, acabam desenvolvendo dificuldades na fala, que pode ser restabelecida por meio da comunicação alternativa. 

VALOR HUMANITÁRIO

A iniciativa chamou a atenção da fonoaudióloga Janaína Maynard, conselheira do Crefono-6, e a entidade decidiu pela implementação do recurso também nos hospitais de Minas Gerais, onde já houve a distribuição, e do Espírito Santo. Para ela, o valor humanitário das pranchas é imensurável. 

"A comunicação alternativa já existe há muitos anos, mas, com a questão da pandemia, os países que tinham vivenciado o auge da doença passaram a desenvolver trabalhos para os pacientes com a Covid-19, e foram um sucesso. Foi quando o pessoal da UFRGS começou a desenvolver o projeto e decidimos implementá-lo", conta a fonoaudióloga.

Pranchas de comunicação alternativa
Modelos de prancha, que apresentam desenhos, letras e números, para favorecer a comunicação. (Divulgação)

Janaína Maynard ressalta que, além dos casos de intubação, as pranchas são funcionais em qualquer atendimento neste momento em que a paramentação das equipes de saúde com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é muito maior, criando barreiras para a comunicação.

"Pesquisas comprovam, e isso é o mais importante, que a boa comunicação entre os profissionais e o paciente melhora quadros de ansiedade e reduz sofrimento. No caso da Covid, em que não se pode ter acompanhante e é grande a vulnerabilidade comunicativa, o uso dos recursos melhora não só a expressão do paciente, mas sua compreensão em relação ao seu tratamento. As pranchas ajudam no monitoramento do quadro", pontua.

Favorecer a comunicação, acrescenta a fonoaudióloga, contribui, em alguns casos, para a redução da sedação de pacientes, que ficam menos agitados quando conseguem ser compreendidos. A garantia do bem-estar, por sua vez, é um componente no processo de recuperação. "A perspectiva desse trabalho é promover um serviço de saúde cada vez mais humanizado", finaliza Janaína Maynard.

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