Repórter / [email protected]
Publicado em 27 de agosto de 2024 às 11:03
As principais tecnologias e tendências no mercado rural serão destaque na edição de 2024 do TecnoAgro, que chega com o tema "Agro Inteligente". O evento, realizado pela Rede Gazeta, será quarta-feira (28) e quinta-feira (29), no Steffen Centro de Eventos, na Serra, e tem como proposta ser o ambiente ideal para explorar e discutir avanços que colaborem com a produtividade e a sustentabilidade no campo.>
O TecnoAgro 2024 tem mais de 20 palestrantes já confirmados e que são referências quando o assunto é tecnologia para o campo (clique aqui para se inscrever). Um deles é o gerente de inovação aberta da Bayer, André Koji Fukugauti, que estará no painel "Inteligência artificial no agro". A conversa será mediada por Fabíola de Paula, apresentadora do Bom Dia ES. Ele estará ao lado de Carlos Ribeiro, da startup Sensix, e de Samuel de Assis Silva, professor de Departamento de Engenharia Rural da Ufes. >
Na conversa com a reportagem de A Gazeta, Fukugauti falou sobre como iniciativas em tecnologia e a inteligência artificial podem ajudar no dia a dia do campo e também refletiu sobre os desafios em relação às mudanças climáticas para o agronegócio. "A tecnologia mostra como a IA pode ser uma aliada para lidar com os desafios do agro", afirma.>
O tema do TecnoAgro deste ano é inteligência artificial no campo. Pode falar um pouco sobre como a tecnologia tem auxiliado no dia a dia do campo, principalmente a IA? >
>
A inteligência artificial, não diferente de outros setores, está revolucionando o agronegócio também. Através de análise de grande volume de dados em tempo real, a IA possibilita percepções baseadas em fator de solo, clima, situação das plantas e isso reduz as aplicações nas pesquisas por questão de custo. A agricultura tem evoluído ao longo do tempo e, com a tecnologia avançando, a IA tem a função de otimizar essa evolução. Para isso tem algumas ferramentas, como drones, satélites operados por IA, que identificam pragas e doenças rapidamente. Máquinas agrícolas também operam com a mínima intervenção humana, aumentando cada vez mais a produtividade e operações. E a Bayer, desde 2017, apoia a digitalização do campo no Brasil com a plataforma Climate Fieldview, em que já apresentamos solução de prescrição personalizada de sementes usando IA. Hoje, a plataforma já monitora mais de 38 milhões de hectares no Brasil e 90 milhões globalmente.>
Pode citar, por favor, mais alguns exemplos de como a tecnologia tem sido usada e seus ganhos?>
Uma das ferramentas chamamos de LLM, que é tipo um ChatGPT que adaptamos para o agro com essa parceria. Essa nova etapa, que começou em novembro, reuniu dados que possibilitaram ao produtor fazer perguntas para a plataforma e trazer algumas informações que levamos para ele. A plataforma ajuda basicamente a obter dados agrícolas ambientais e ajuda a responder qualquer pergunta que ele tenha. Ele consegue diferenciar áreas colhidas e plantadas e sua produtividade entre uma área e outra. Muitas vezes, o produtor faz uma amostragem no campo e toma como fato real e nem sempre é a figura que ele deveria considerar para tomada de decisão. Com a plataforma, dá para ter uma total visão e não só uma amostragem. Assim, a tecnologia ajuda na tomada de decisões. >
Onde ainda há espaço para mais uso e quais são os benefícios?>
Ainda tem muito a desenvolver em relação a outros setores. Eu diria que tem muita oportunidade em relação a processos ainda, na questão da operação, aumentar eficiência e ajudar a enfrentar desafios climáticos e de sustentabilidade. O produtor ainda olha muito a propriedade como fonte de renda e acreditamos muito que ele consegue aumentar a produtividade sendo mais sustentável e protegendo o meio ambiente. Podemos usar a IA de forma personalizada para ajudar o produtor a digitalizar o campo. Com dados, ele pode ter uma gestão mais perfeita para que consiga cada vez mais extrair o máximo, principalmente preservando o solo para que consiga uma sustentação maior ao longo do tempo. >
No caso do Espírito Santo, quais são as principais oportunidades de uso?>
Para café e cacau, culturas importantes no Espírito Santo, a IA pode ajudar muito no manejo, identificando o momento ideal para colheita, tornando a produção mais eficiente. Também consegue otimizar o uso da água. Vejo que a agricultura digital acaba ajudando o que nos ajuda. Se pegar toda a rede de influência entre cooperativas e consultores que atuam na região, a IA tem potencial gigantesco, não de substituí-los, mas sim de ajudá-los a empoderar e ajudar o produtor lá na frente. >
Quais bons exemplos você pode dar do que tem sido feito no Brasil?>
Há muitas iniciativas. Inclusive, no painel que vou participar, vai ter um colega que é nosso parceiro que faz o trabalho de pegar imagens de drone em momento chave da cultura e consegue processar essas imagens com a IA para tomar decisões importantes na lavoura, analisando sementes e solo. É possível fazer várias camadas de análises para que ele possa melhorar a produtividade no solo. Além disso, outras questões também envolvem a tecnologia e IA e vão além da fazenda. A IA pode ser usada na questão de crédito, para fazer análise de documentos, fazer a busca de pontos de crédito. E, fora da porteira, também há startups que trabalham com commodities e facilitam toda essa interface com o agricultor e também há as que cuidam da logística. Então, a IA chega para eliminar as barreiras que antigamente o produtor tinha para acesso a cadeia como um todo e, ao mesmo tempo, ganha eficiência na plantação de grãos. Então, toda a cadeia, desde antes do plantio até a comercialização, hoje terá ferramenta que traz benefício para todos.>
Quais são os desafios em relação às mudanças climáticas no agronegócio?>
Realmente é bem preocupante e um desafio para o agro. Na tecnologia, existem pontos não para resolver totalmente, mas para preparar melhor e ter maior sustentabilidade. Exemplo disso é o desenvolvimento de novas variedades de sementes mais resistentes a condições adversas, o monitoramento de dados também ajuda a prever eventos extremos e a mitigar impactos, ajudando na estratégia de manejo. E também o gerenciamento de risco porque, com isso, é possível diversificar o cultivo, dando flexibilidade de cultura, dependendo da fase do ano e condições climáticas, podendo adotar práticas agrícolas que sejam menos vulneráveis a essas mudanças. >
Como as empresas do agro podem se preparar para afetar menos o meio ambiente e emitir menos carbono e usar menos recursos hídricos?>
Eu acho que uma das alternativas para as mudanças climáticas e também para a redução da emissão de carbono passa pela rotação de cultura e uso de energias renováveis, cujo Brasil é referência, e reciclagem de água; são manejos que fazem muito sentido. E outras medidas que promovem uma produção mais sustentável e que otimizam recursos contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Existem algumas estratégias para isso. Aqui na Bayer temos o PRO Carbono, que é um programa que promove práticas agrícolas sustentáveis, resultando na redução de emissão de gases do efeito estufa, reinjetando carbono no solo. O programa permite que os produtores gerem mais crédito de carbono que são comercializados, e a nossa pretensão é que, através das boas práticas agrícolas, ele já produza mais e comece a preservar para depois ter acesso ao crédito. Desde o lançamento, há dois anos, já temos 1.900 produtores participando do programa e 300 mil amostras do solo analisadas. Eu diria que as parcerias são importantes na agricultura regenerativa para ganho de manejo de solo e biodiversidade. Nesses exemplos com situações extremas, um solo com mais matéria orgânica aguenta muito mais. Com isso, se consegue ter uma agricultura muito mais preparada para situações adversas.>
Tivemos chuvas em Mimoso do Sul, aqui no ES, e no Rio Grande do Sul que tiveram consequências para o agro. E, depois, períodos de seca. Quais são os prejuízos e cuidados para o agronegócio nessa época e como a tecnologia pode ajudar a evitar que situações como essa se repitam.>
Acreditamos que o agro pode adotar tecnologias e sistemas mais apurados de monitoramento climático. É possível, sim, ajudar a prever os extremos e planejar ações preventivas. Ao mesmo tempo temos a possibilidade de adotar práticas de manejo sustentável com o plantio direto e cultivo de cobertura amplamente disseminado no cenário brasileiro são essenciais para melhorar a retenção de água no solo. Assim, a cultura consegue tanto suportar melhor os períodos de chuvas intensa e também, no momento de seca, manter mais umidade na terra. O uso da IA e a análise de dados também podem ajudar na tomada de decisões muito mais assertivas, como uso de água e adaptação às condições do clima. A tecnologia pode ajudar com sistema de drenagem inteligente. Também temos um modelo de gestão de seca que pode ser feito usando IA, porque a gente consegue prever, por exemplo, situações de seca e manejo. Essas estratégias de tecnologia mostram como a IA pode ser uma aliada para lidar com os desafios do agro. Aposto muito na colaboração das entidades, para conseguir prevenir e nos antecipar a esses problemas e ter uma folga para minimizar os efeitos. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta