Publicado em 23 de junho de 2021 às 16:49
- Atualizado há 4 anos
O STF (Supremo Tribunal Federal) recebe nesta quarta-feira (23) uma carta aberta em defesa dos povos indígenas que reuniu 300 assinaturas, sendo 186 delas de personalidades brasileiras. >
Entre os signatários constam nomes como os juristas Celso Antônio Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari, Fábio Konder Comparato e Kenarik Boujikian, os cantores Chico Buarque, Daniela Mercury, Marisa Monte e Fafá de Belém, os intelectuais Lilia Schwarcz, Leonardo Boff e Frei Betto, as apresentadoras Xuxa Meneghel e Giovanna Ewbank e atores como Marieta Severo, Antonio Pitanga e Cassio Scapin, além de cineastas e nomes do esporte. >
O documento critica o chamado "marco temporal", entendimento segundo o qual os indígenas só têm direito à terra se conseguirem comprovar que ocupavam a área pretendida no momento da promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988, ou que foram removidos à força, sob resistência. >
O parecer foi elaborado pela AGU (Advocacia-Geral da União) em 2017, durante o governo Michel Temer. No ano passado, o então ministro da Justiça, André Mendonça, defendeu o entendimento do marco temporal e disse que uma nova demarcação só ocorrerá no país se ele for levado em consideração. >
>
"O tratamento que a Justiça brasileira tem dispensado às comunidades indígenas, aplicando a chamada 'tese do marco temporal' para anular demarcações de terras, é sem dúvida um dos exemplos mais cristalinos de injustiça que se pode oferecer a alunos de um curso de teoria da justiça. Não há ângulo sob o qual se olhe e se encontre alguma sombra de justiça e legalidade", afirma a carta endossada por juristas e artistas que será entregue ao Supremo nesta quarta. >
O documento, que será aberto para a assinatura do público em geral, ainda afirma que a corte tem em suas mãos a oportunidade de corrigir um "erro histórico" e garantir a justiça prevista pela Constituição aos povos originários. >
A discussão sobre o marco temporal deve ser retomada pelo STF no próximo dia 30, após ser suspensa por pedido de destaque do ministro Alexandre de Moraes. >
"Como brasileiros não-indígenas e constrangidos com a indignidade do tratamento dispensado aos povos nativos, pugnamos a este tribunal que não faça triunfar a concepção de justiça de Trasímaco refutada por Sócrates: 'a Justiça serve ao interesse do mais forte e o que é injusto é útil e vantajoso para ele'", seguem. >
Na terça (22), um ato nos arredores da Câmara dos Deputados contra a apreciação, pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), de um projeto que muda o Estatuto do Índio foi reprimido pela Polícia Militar com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, segundo organizadores da manifestação. Relator do texto, o deputado Arthur Maia (DEM-BA) também propôs o marco temporal para a demarcação de terras. >
Para impedir a votação do texto na CCJ, que decide se uma proposta fere ou não preceitos constitucionais, indígenas começaram há cerca de duas semanas a protestar em frente a um dos anexos da Câmara. >
Ao todo, cerca de 800 indígenas de 40 etnias estão no acampamento Levante Pela Terra, em Brasília, enquanto aguardam o julgamento pelo Supremo do marco temporal. Os Munduruku, que têm sido alvo de ataques de garimpeiros em suas terras, chegaram à capital federal na semana passada sob escolta policial. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta