Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 17:34
O estilo de vida rústico, pacato e ligado à natureza é o grande chamativo que Itaúnas vem usando durante muito tempo e conquistando, a cada ano, um número maior de turistas. Com o forró como grande impulsionador, a vila de pescadores do extremo Norte do Espírito Santo viu uma grande mudança em seu cenário nos últimos anos.
A música chamou ainda mais turistas de todo o país, até mesmo estrangeiros, e, hoje, Itaúnas mostra uma nova cara. Ainda com o clima bucólico e praiano prevalecendo, a pequena vila começa a dar espaço para novos empreendimentos e entrando em circuitos de turismo de luxo. Até mesmo o forró começa a dar espaço a novos sons, como o eletrônico.
Novas casas de shows, restaurantes, hotéis e pousadas com propostas inovadoras chegaram levando investimentos para a região. O progresso está chegando com tudo a ponto de até o acesso à vila ser urbanizado. O governo do Espírito Santo liberou, em janeiro, R$ 72 milhões para pavimentar a Rodovia ES 010, que liga Conceição da Barra a Itaúnas. Comerciantes e empresários acreditam que o asfalto no acesso é essencial para a evolução do local e para aumentar o número de turistas fora de temporada.
Uma das que empresárias que resolveu investir em Itaúnas, Kamilla Carneiro Benjamim, 36, garante que, em menos de dois anos, a vila será tão famosa a locais como Trancoso. Pensando nisso, Kamilla criou a Ka 347, que conversa com o luxo. No Espírito Santo, apenas esta pousada, e uma outra em Pedra Azul, fazem parte do Roteiros de Charme - marca que cria um roteiro de hotéis e pousadas sofisticados de todo o Brasil.
Com quartos de até 70 metros quadrados e diárias que podem ultrapassar os R$ 1 mil, os hóspedes podem até promover shows dentro da propriedade que sejam do próprio gosto. "É para um público diferente, mas isso atrai novos perfis e nova gente que vai, de um jeito ou de outro, deixar dinheiro aqui na Vila. Também fiz questão de que os funcionários fossem daqui e só uma gerente não é", destaca. Kamilla recebe políticos e celebridades que chegam de helicóptero até Itaúnas. "Já tenho serviços de translado, também, que leva e busca o hóspede onde ele quiser", conclui.
Na mesma linha, os donos do Casarão Bem-Estar, o casal Daniella Lisboa, 31, e Daniel Lessa, 29, querem levar até Itaúnas um conceito de spa. No local, você já consegue desfrutas de cremes de papaya proteicos, shakes de açaí cremosos com suplementos nutricionais funcionais e chás dos mais variados gostos e com as mais distintas funcionalidades.
Há pouco mais de três meses funcionando, o local oferece quartos que conseguem abrigar até três camas queen size de casal, varanda privativa, piscina para crianças e adultos, churrasqueira, fogão e freezer na área comum da pérgola.
Para dar uma nova cara e mostrar que não só de forró vive a cidade, por lá também já aconteceu festa com música eletrônica na virada do ano. Com direito a DJ, no Casarão Bem-Estar 2018 rompeu com essa nova promessa de inovação. "Nós já estamos vendo algo para o carnaval e para os feriados prolongados. No réveillon deu muito certo e nossos quartos ficaram cheios. O pessoal saiu falando bem. Sinal de que há público novo querendo Itaúnas, também", comenta Daniel.
Mudança de público
E esses investimentos na vila começam a gerar resultados e trazendo novos públicos. Antes, a Vila era invadida por jovens que vinham atrás dos festivais de forró. Agora, o local é o queridinho dos filhos, netos, pais, avós e tios.
Para Éolo Mourão, dono de pousada e ativo na Associação Empresarial e Turística da Vila de Itaúnas (Aeti), de 54 anos, os turistas têm ido mais à Vila com a família completa. Ele acredita que essa diversificação no perfil dos visitantes começou a mudar no último semestre, quando novos estabelecimentos abriram na região. Ele também frisa que o turista antes era mais paulista e mineiro, mas contrapõe que atualmente o capixaba tem valorizado bastante a região.
"Nesse período do meio do ano passado, mais ou menos, começou a tocar MPB, música ao vivo em alguns lugares, até chegar na eletrônica. Mas acho que é passageiro", rebate.
Tradicional quanto à essência do forró de Itaúnas, ele comemora, por outro lado, o aumento no número de turistas. Para ele, o réveillon deste ano foi recorde. "Desde setembro do ano passado as reservas foram muitas, mas acho que isso também mostra um respiro na economia depois de dois anos de uma recessão bruta", completa.
Éolo dá o exemplo do carnaval para mostrar como os turistas estão mais atraídos por Itaúnas. Ele destaca que nas duas últimas folias as reservas não eram muitas e a cidade não encheu. Ao passo que neste ano já está tudo lotado. "As novas casas que abriram também impulsionaram esse aumento, eu acredito", revela. Ele crê que, em 2018, a demanda será alta até fora do verão.
Forró continua firme e forte
Mas a tradição não deve mudar. O forró e o clima bucólico continuam sendo o grande chamariz do lugar. Há 18 anos à frente do Festival Nacional de Forró de Itaúnas, a empresária Juliana Oliveira de Matos, 30, avalia que esse novo perfil de gente que está indo à Vila não tira o foco do forró, ao passo que diversifica os turistas da região e mais gente acaba conhecendo o local.
"Nós percebemos isso. Itaúnas é conhecida já pelo 'pé de serra' e acho que isso não vai mudar. E o nosso forró acaba que também ganha. Todo ano é mais gente que vem pro festival", conta ela, garantindo que os turistas que mais gostam da atração são os da Alemanha, Portugal e Holanda. "Eles saem daqui apaixonados pelo nosso jeitinho", brinca.
Convívio garantido
Juliana aponta que quem vai atraído pelo forró não sai do foco e acaba curtindo só as atrações que o tradicional bucolismo do local oferece. Ela avalia que Itaúnas é um lugar para descansar e dançar forró. "Em contrapartida, quem vai, agora, para as programações novas que estão surgindo também vêm para elas, mas com a cabeça aberta, também", finaliza.
O discurso é reforçado por Daniella que, mesmo trazendo "o novo", se mudou para Itaúnas buscando a calmaria do local. "Sempre vinha para cá e falava: 'Um dia eu vou vir e não vou voltar mais'. Eu só não estou de vez aqui porque trabalho em Vitória, mas venho todos os fins de semana, feriados, férias, folga", brinca ela, afirmando que o novo e o tradicional podem conversar numa boa.
"Tem gente que vem e gosta de eletrônica. Se o nosso hóspede pedir, nós vamos fazer. E se um grupo fechar a pousada e vier entre amigos, eles também podem promover uma festa do gosto deles. É só respeitar a estrutura do local e altura do som para não incomodar ninguém. Mas tem espaço para todos".
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