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Misture Madonna e Aretha e você terá Beyoncé

Misture Madonna e Aretha e você terá Beyoncé

O acaso fez Madonna completar 60 anos no mesmo dia em que Aretha Franklin nos deixou. O legado de ambas para a música pop é indiscutível

Publicado em 20 de agosto de 2018 às 16:49

Madonna e Aretha Franklin Crédito: Reprodução

Madonna já cantava que “a vida é um mistério”, no hit “Like a Prayer”, de 1989. Eis que a maior diva pop chegou aos 60 anos na última quinta-feira (16), o mesmo dia em que o mundo perdeu a maior diva da soul music, Aretha Franklin, aos 76 anos. Um mero acaso. Mas, se acompanharmos a trajetória de ambas, encontraremos mais confluências do que uma simples data no calendário, mesmo que artisticamente as rainhas nunca tenham nem sequer se encontrado.

Se Madonna surgiu para desaprisionar de vez a sexualidade feminina nos anos 80, Aretha já havia iniciado esse trabalho, de forma discreta, é verdade, lá nos anos 60, quando Carole King compôs “(You Make Me Feel Like) A Natural Woman” especialmente para a sua voz. A genialidade da letra está especialmente em transformar a descoberta do prazer sexual em algo sublime, perto do divino. Na voz de Aretha, uma cantora que emergiu do gospel, ficamos sem saber exatamente do que a música trata. E muito da sua beleza vem exatamente dessa dúvida.

Aspas de citação

Creio que todo mundo deveria se casar ao menos uma vez para ver como é estúpida e antiga essa instituição

Madonna
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Madonna, por outro lado, foi mais direto ao ponto, desbravando as possibilidades do feminino. Já foi muitas mulheres... e continua uma só. Um mosaico que, dependendo do ângulo em que é visto, permite novas percepções. Chocou sexualmente, pelo prazer e pelo compromisso de derrubar tabus. De libertar. “Express Yourself”, ela cantou, pedindo mais comunicação dos próprios sentimentos, para anos mais tarde se atualizar e acrescentar em “Human Nature” que também não devemos nos reprimir. Soube e ainda sabe, sem meias palavras, exigir respeito por ser quem desejar ser, sem desculpas.

O mesmo respeito que Aretha, décadas antes, fez questão de soletrar, para todos entenderem: R-E-S-P-E-C-T. Ao tomar posse da canção de Otis Redding, livrou-a da perspectiva machista e deu a ela um novo significado. Transformou-a em um hino feminista e também do movimento dos direitos civis. Não por pouco foi a maior estrela musical da cerimônia de posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Ajudou a fazer história com a potência de seus atos e de sua voz.

Aspas de citação

Eu não tinha a menor ideia de que o movimento pelos direitos civis passaria a usar ‘Respect’ como o seu mantra quando gravei a canção

Aretha Franklin
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Musicalmente, caminharam distantes, mas não se pode negar a presença de Aretha em “Like a Prayer”, já citada aqui. Madonna faz na canção uma exaltação explícita ao gospel e a soul music, algo que David Bowie, o seu maior ídolo, já havia feito no álbum “Young Americans”, de 1975. Mas é certo que há muito mais do DNA musical de Aretha em outros ícones pop, como Whitney Houston e até mesmo George Michael.

Elas são de gerações distintas, com estilos e posturas também diferentes. Mas é reunindo seus maiores atributos que a mágica acontece. Madonna com seu vigor físico, suas megaturnês e seu comportamento contestador. Aretha com sua beleza vocal, sendo porta-voz da igualdade e do romantismo, por que não? Sem uma pitada de Madonna e um bocado de Aretha, talvez não existisse hoje uma Beyoncé para dar continuidade a essa dinastia.

*É editora do Pensar

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