Publicado em 23 de setembro de 2019 às 10:34
Não parece coincidência Madonna escolher Nova York como pontapé inicial de Madame X, sua 11ª turnê, homônima ao seu mais recente álbum, lançado em junho. A capital das superproduções da Broadway recebeu um espetáculo à sua altura.>
A cantora trocou as habituais arenas pela Brooklyn Academy of Music's Howard Gilman Opera House, localizada em um dos pontos mais descolados da cidade.>
No sábado (21), a reportagem acompanhou a terceira das 16 apresentações em Nova York. O público 2.100 pessoas que pagaram até US$ 2.000 estava ansioso. Madonna entregou alguns hits, mas estava mais focada em seu novo e experimental repertório.>
>
Dividida em quatro atos, a encenação começou às 23h20, quase duas horas depois do horário marcado e terminou duas horas e 20 minutos depois. Um locutor justifica o atraso: dois bailarinos se machucaram em um ensaio.>
"A arte está aqui para provar que a segurança é uma ilusão. Artistas estão aqui para perturbar a paz". A mensagem do escritor James Baldwin (1924-1987) era projetada, antes de "God Control". Na sequência, policiais agiam violentamente em uma discoteca com manifestantes/dançarinos.>
O cenário da turnê é simples escadas articuladas com rodinhas, recortadas por portais, que formam diversas figuras labirínticas, mas sofisticado, criando infinitas possibilidades com projeções.>
Aos 61 anos, Madonna está se doando e não aceita menos. Reclama da baixa energia do público, que demora para entrar no clima. Foi a hora dos primeiros hits: "Human Nature" e "Express Yourself", em versão a cappella acompanhada pelas filhas Mercy James e as gêmeas Estere e Stella.>
Em "Vogue", ela e seus bailarinos têm a mesma caracterização. Madame X busca disfarce, atualiza "Papa Don't Preach": cabe a mulher escolher ter ou não um bebê em caso de gravidez. Relembra que homens querem banir em nove estados americanos a possibilidade de interrupção da gravidez em caso de estupro.>
A popstar fez uma selfie com uma polaroide. Juan, de Madri, e Marcy, de El Paso, disputaram a relíquia.>
Por U$S 1.500, o enfermeiro levou a melhor. "Esse é o único dinheiro que estou fazendo na turnê. Meu empresário diz que sou louca", brincou, enquanto guardava a quantia. "Não faço o show por dinheiro, mas por liberdade", disse, para deleite da plateia.>
A cantora obrigou seus fãs a lacrarem celulares e aparelhos eletrônicos na entrada do teatro. "Sem celular, podermos nos olhar nos olhos. Os olhos são a janela da alma", disse.>
Ao mesmo tempo em que criticava os Estados Unidos e o culto à arma, Madonna parecia abrir uma concessão a Portugal, seu novo lar, onde virou "mãe de jogador de futebol". Ao lado da Orquestra Batukadeiras, composta por 14 mulheres cabo-verdianas, apresentou a vigorosa "Batuka".>
A cantora também mostrou-se vulnerável ao falar de depressão e solidão. Disse que encontrou no fado uma nova inspiração. O público aproveitou esse momento do show como um intervalo informal, enquanto ela recebia Gaspar Varela, neto da cantora Celeste Rodrigues, para um trecho de "Killers Who Are Partying".>
No último ato, Madame X buscou uma conexão mais profunda. Apresentou uma releitura de "Frozen", do álbum "Ray of Light". A interpretação crua ficou poderosa com o "pas de deux" digital com Lourdes Maria, sua filha mais velha, em coreografia projetada na mãe. A despretensiosa e dançante "Future", questionava o futuro da humanidade e mostrava florestas em chamas.>
"Like a Prayer" foi a receita infalível para chegar ao clímax. O bis veio com a militante "I Rise". De braço estendido para cima, Madonna saiu de cena, deixando para trás uma mensagem de igualdade, com uma bandeira do arco-íris projetada no palco. Pelo menos por uma noite, a humanidade presente no teatro se sentiu salva.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta