Publicado em 15 de novembro de 2018 às 01:51
O play em Na Batida (No Quarto Sozinho) - Vol. 2, disco solo recém-lançado pelo DJ KL Jay, do Racionais, nos garante uma viagem por diferentes épocas e estilos do rap brasileiro mas não apenas. A primeira pancada vem já na faixa-título, No Quarto Sozinho, com versos do rapper Aori, um dos pais do movimento hip hop em solo carioca. Fundador da lendária Batalha do Real, Aori abusa da levada já conhecida desde sua época com o Inumanos. No início e no fim da track, a voz de KL Jay traz comandos que colocam os ouvintes na posição de tripulação de uma aeronave.>
Não é à toa, já que a viagem começa ali e segue com a participação de veteranos como Kamau (na boa Na Atividade), Sandrão (em Munição) e os sorocabanos do X da Questão (É Uma Guerra). No total, o disc jockey que se destaca com folga no cenário brasileiro reuniu nada menos que 33 nomes de variados estilos e gerações dentro do hip hop.>
Lançado dezessete anos depois do primeiro disco da série, o projeto reflete a maturidade de um artista que sabe que não precisa provar nada a ninguém, mas insiste em empenhar a mão de obra em produções que merecem atenção. Comecei a trabalhar nele há sete anos, mais ou menos junto com o Cores & Valores (Racionais), que também atrasou bem. Mas do meu primeiro, de 2001, para esse, existe um cara mais maduro, mais adulto, mais livre e aberto musicalmente falando, diz.>
O cuidado extremo com a estética do álbum um dos pontos que sempre chamaram a atenção no trabalho de KL Jay com o Racionais também deu as caras em Na Batida Vol. 2. Eu fiz um set de DJ ali. Sempre penso nisso. A ordem das músicas pra mim é como se fosse um set mesmo... começa, sobe, vai no meio, sobe de novo e acaba. É isso, explica a seu modo, sinalizando os picos do disco.>
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A primeira virada vem a partir da sexta faixa, Atabaques Digitais, em que o veterano novamente garante o sotaque carioca, com versos contundentes do grupo Anti Éticos. As boas batidas eletrônicas surgem sampleadas com sussurros de nomes significativos para o rap e para o movimento negro em geral de Sabotage a Abdias do Nascimento. É apenas uma demonstração do que vem pela frente, já que o peso aumenta no trap Volto de Bonde, produção de Mr. Break para Akira Presidente e Batoré (ConeCrewDiretoria).>
Alguns nomes eu já tinha em mente, outros surgiram no decorrer do trabalho, porque quando você está no estúdio as ideias vão vindo. Para mim, não importa de onde é, tem MC bom no Brasil inteiro. Se é bom, eu chamo. E eu sempre tive relação boa com os MCs de todos os lugares para onde vou, salienta, sobre a grande reunião de artistas no disco.>
Da metade para o final, Na Batida Vol. 2 desacelera, encontra um novo ponto alto com a participação do funkeiro MC Guimê (Tá Patrão 2.0), até terminar com a excelente Estamos Vivos, uma baladona que começa saudando ícones como Kool Herc, Afrika Bambaataa, Dr. Dre e Grandmaster Flash, alguns dos pioneiros do hip hop mundial.>
Em recesso por tempo indeterminado com o Racionais, KL Jay aproveita para tocar a carreira solo, como já fazia antes. Sempre tem trabalho, e não só para mim. O que pega é que não somos só MCs e DJs, sabe? Faço outras coisas durante a semana, cuido de empresa, de dinheiro, viajo muito. Com o grupo, a gente fica sem tempo para fazer as coisas, justifica KL Jay, antes de confidenciar que já ouviu três ou quatro faixas do disco solo de Ice Blue, companheiro de grupo, previsto para sair no próximo ano. Posso dizer que é um disco muito bom, conclui.>
Na Batida (No Quarto Sozinho) Vol. 2>
DJ KL Jay. Independente, 15 músicas. Disponível nas principais plataformas de streaming.>
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