Publicado em 18 de março de 2019 às 22:33
Há mais de 40 anos, o Teatro Tereza Rachel, no Rio, viu Bibi Ferreira subir ao palco e marcar época com a peça Gota DÁgua, que abordou a tragédia grega Medeia, de Eurípedes, sob a realidade de um conjunto habitacional do subúrbio carioca. O texto, incrivelmente atual, desembarca no Estado em nova versão, no próximo final de semana, com apresentações no Teatro da Ufes.>
Gota DÁgua [a seco] reúne a atriz Laila Garin (3%) e o ator Alejandro Claveaux (O Outro Lado do Paraíso), que dividem o palco com outros cinco músicos em uma nova versão mais enxuta do clássico. A montagem é focada, portanto, na essência da história: os embates entre os protagonistas Joana e Jasão, que abrem espaço para discussões acerca de questões como desigualdade social e a relação entre oprimidos e opressores.>
Em entrevista ao C2, a atriz Laila Garin falou sobre os desafios na montagem da peça, sobre sua natureza política e sobre sua atuação no espetáculo. Confira:>
Qual foi o maior desafio na montagem da peça?>
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Já tinha esse desejo desde a adolescência, quando descobri os registros da Bibi (Ferreira) e fiquei encantada com o texto. O desafio maior foi pensar em contar o que poderia ser trazido de novo. O texto é todo muito atual. No fim das contas, foi um desafio maior para o Rafael (Gomes, diretor da peça), que teve que pensar em como adaptar isso para apenas dois atores, quais outras músicas do Chico (Buarque) caberiam e como contar a história sem um cenário de realismo. Essa era uma preocupação até minha, mas hoje vejo o quanto tudo funcionou durante esses três anos de estrada.>
A peça tem uma leitura bem focada na natureza política...>
Isso. Mas na verdade a nossa motivação não foi bem essa, mas sim a história de amor, paixão, abandono... O artista sempre foi marginal. Nós montamos a peça em 2016. Ela foi escrita durante a ditadura, e resolvemos remontá-la por questões que são atemporais, que não ficam datadas. São questões de qualquer lugar do mundo: a ambição, a paixão que passa dos limites. Também trazemos muito a questão feminina, com a representação da mulher que não se submete, que não aceita essa condição em que a colocam. É uma peça feminista que vai muito além do nosso momento político atual.>
Vocês trazem músicas que não estavam na peça original. Como foi esse processo de seleção?>
É, essa é uma montagem meio contraditória, mas muito fiel à original. É uma outra peça, com outros elementos, um recorte. Acho que as músicas fazem com que ele seja um novo espetáculo. Digo, o conteúdo é o mesmo, mas mais aprofundado numa concepção de Joana e Jasão. Eram sentimentos que queríamos desenvolver um pouco mais, até para mostrar um outro lado dessa obra. Trazemos Cálice, Pedaço de Mim, Mulheres de Atenas...>
Você tem uma vasta experiência em musicais, mas acredito que o trabalho seja sempre diferente. O que mais marcou neste?>
Ah, sem dúvida essa ligação com a montagem, com a linguagem específica... É como se eu estivesse vivendo uma espécie de sonho mesmo, porque vejo esse texto como uma obra-prima. É como você acompanhar a montagem de um clássico mesmo.>
Apesar de já ter atuado também em cinema e TV, sua relação é mais próxima com o teatro? Tem um carinho especial?>
Eu faço teatro desde os cinco anos de idade. Entrei na TV e no cinema pelo teatro, que faz parte do meu cotidiano mesmo. Eu vejo o teatro como um lugar de formação mesmo, inclusive ética. É algo mais coletivo, mais artesanal e que dá uma base para as coisas que acredito, uma base de princípios na arte. O que aprendi e aprendo no teatro eu levo para todo lugar em que trabalho: TV, cinema, enfim...>
Gota DÁgua [A Seco]>
Quando: sexta (22) e sábado (23), às 20h, e domingo (24), às 18h.>
Onde: Teatro Universitário. Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória.>
Ingressos: R$ 80 (plateia setor A/inteira), R$ 40 (plateia setor A/ meia), R$ 70 (plateia setor B/ inteira), R$ 35 (plateia setor B/ meia), R$ 50 (mezanino/inteira), R$ 25 (mezanino/meia). À venda na bilheteria do teatro (das 15h às 20h) ou no site Tudus.com.br.>
Informações: (27) 3029-2765.>
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