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Está procurando cultura? Achou! Conheça o 'Choque de Cultura'

Está procurando cultura? Achou! Conheça o "Choque de Cultura"

Criado pela galera da TV Quase e exibido pelo Omelete na internet, programa tira sarro com crítica de cinema

Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 01:45

Um dos seis faz uma piada, todos riem e ouvem o barulho do clique da câmera fotográfica.

“Puts, ninguém vai acreditar que a gente estava rindo de verdade”, diz Juliano Enrico, um dos integrantes da TV Quase, esse grupo fundado em Vitória e que produz o “Choque de Cultura”, um programa humorístico que ganhou o YouTube e ultrapassou a barreira de 1 milhão de visualizações, lançado semanalmente, sempre às quintas-feiras, no canal da plataforma de vídeos mantido pelo site de cultura pop “Omelete”.

Os rapazes divertem-se com o novo comentário, se desconcentram e esquecem da fotógrafa ali por um breve instante. Mais um clique. Mais risos.

Não que rir seja um problema para Juliano, também criador da animação “Irmão do Jorel”, para os atores e roteiristas Caito Mainier, Daniel Furlan, Leandro Ramos e Raul Chequer, ou para o diretor Fernando Fraiha. O difícil, na verdade, é não rir, mesmo quando o assunto é sério.

Na mesma sessão de fotos, sugeriram colocar um banco em dois degraus e sentar nele tortos, mesmo. “Vamos deixar desconstruído”, diz Raul Chequer, o intérprete de Maurílio, um dos motoristas que estrelam o programa – o mais “entendido” de cinema dos quatro na ficção.

Encerradas as fotos, ele diz: “Por favor, escolha a pior das fotos, ok?”.

Já numa sala quadrada, com uma mesa no centro e pôsteres de filmes na parede, para a entrevista, eles param diante do cartaz do filme “Eu Fico Loko”, de Christian Figueiredo.

“Quando você não sabe quem é (no cartaz), é porque é cultura jovem”, brinca Mainier, o intérprete do apresentador do “Choque de Cultura”, Rogerinho do Ingá – embora seja difícil saber se a frase veio do ator ou do personagem. “Você sabe que o raciocínio do fumante é complicado, né?”, diz ele, sobre os integrantes que fumavam um cigarro entre as fotos e o papo.

De novo, discernir entre criador e criatura é difícil.

Possivelmente, aí esteja o segredo do “Choque de Cultura”, ao entregar absurdos, com frases de efeito que transitam entre o surrealismo e o “já conheci um sujeito assim”.

“Tá vendo isso? É tudo computador”, diz o personagem Julinho da Van, de Ramos, ao comentar o filme “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, definido por eles como “o filme do Harry Potter sem o Harry Potter” – “É golpe. É como filme dos dez mandamentos sem Jesus”, afirma Maurílio. “E o filme do Rambo sem Rambo?” completa Renan.

O sucesso é tamanho que, no Rio de Janeiro, será realizada a primeira edição do Bloco dos Amantes da Sétima Arte, uma expressão dita pelo personagem Maurílio (de Chequer), no dia 17 de fevereiro. Até o fechamento desta edição, 5 mil pessoas já haviam confirmado presença no evento do Facebook.

E, mais curioso, o bloco não é oficial. “Estaremos aqui (em São Paulo), trabalhando”, explica Daniel Furlan, o Renan do Choque.

PERSONAGENS

Embora sejam criados, os quatro motoristas absurdo têm raízes no real. Mainier, de fato, pegava a rota de van de Charitas, em Niterói, até a Gávea.

O estilo “palestrinha” sabichão de Maurílio vem do irmão do ator. A forma doce de falar de Renan foi inspirada num vendedor de mate, no Rio, e Julinho da Van, garante Ramos, é praticamente uma cópia do pai do intérprete.

“O melhor comentário que já li nos vídeos era: ‘Claramente são atores’”, diz Ramos.

Na era das redes sociais nos quais os memes – aquelas figuras, fotos e frases – ganham proporções gigantescas, de compartilhamento em compartilhamento, o “Choque de Cultura” é um prato cheio. Máximas de efeito são ditas aos montes pelo grupo que passou a trabalhar junto em 2012.

“O segredo para um programa dar certo”, diz Chequer, “é fazer vários outros errados”, encerra ele, ou seria Maurílio?

REPERCUSSÃO

“Esses caras são hilários”, diz Antonio Tabet, um dos criadores do humorístico Porta dos Fundos, programa responsável por popularizar a ideia de se fazer humor para a internet em grande escala.

As credenciais dos rapazes do “Choque de Cultura” são boas, de fato. Mesmo que as frases ditas ali beirem o esdrúxulo: “Não tinha um adulto consciente para colocar uma pistola na mão dessa criança?”.

É uma revolução iniciada com as piadas nonsense do “Hermes & Renato”, no final dos anos 1990, que ganhou o auge com os esquetes de situações esdrúxulas do Porta dos Fundos e encontra no “Choque de Cultura” o sucesso do estapafúrdio, mas com um fundinho de verdade e vida real.

“Eu assisto ao filme para não ter que ler o livro”, diz, sincero, o personagem Renan (o Furlan), em certo episódio. E quem nunca?

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