Publicado em 7 de agosto de 2019 às 16:13
Se o mundo seguir as previsões pregadas pelo cinema, a humanidade está perdida. Salvo poucas exceções, a maioria dos cenários retratados em filmes e séries são de futuros catastróficos, apocalípticos, nucleares, cheios de genocídios, extermínios... Acho que deu pra entender a ideia. É possível imaginar, então, o cansaço gerado pela estreia de um novo longa ambientado em um cenário pós apocalíptico.
Apesar disso, se tem uma coisa que se pode aprender com o cinema é que muita vezes uma premissa derivada entregue em boas mãos tende a render uma boa história. Foi o que os debutantes Grant Sputore (direção) e Michael Lloyd Green (roteiro) provaram em I Am Mother, filme produzido pela Netflix.
Dando um ar intimista ao já batido cenário pós-apocalíptico, o longa foca de maneira inteligente no relacionamento entre o robô intitulado Mãe (Rose Byrne) e a humana criada e educada por ele, devidamente intitulada Filha (Clara Rugaard). Com o passar dos anos, Filha desenvolve questionamentos acerca do confinamento em que vive, mas essas dúvidas passam a se tornar mais fortes quando outra humana, vivida por Hilary Swank, aparece no complexo em que vivem.
Desde a primeira cena, o diretor consegue deixar claro que mesmo I am Mother sendo seu primeiro longa, ele não é nenhum amador. De maneira paciente e precisa, ele passeia por toda a instalação na qual vivem as protagonistas assim o espectador consegue se situar no local tendo ideia de espaço e locação, algo essencial para os chamados filmes de câmara (tramas que se situam basicamente em um único ambiente).
Logo em seguida, os personagens são apresentados e a temática central se revela. Muito mais que uma ficção científica, I am Mother é um filme sobre maternidade; toda a sequência de criação da Filha mostra isso: o carinho, a educação, mas também a cobrança e as expectativas típicas da criação. Todo esse subtexto deixa a obra mais rica, mais significativa dando um pano de fundo e um peso maior aos personagens.
Mesmo com um design realista, bronco e até agressivo, a Mãe tem uma voz doce e suave, o que faz com que o público tenha sentimentos conflituosos em relação à personagem. Vale ressaltar que os efeitos visuais criados pela Weta, empresa responsável por efeitos de filmes como O Senhor dos Anéis e o último Planeta dos Macacos, são deslumbrantes.
A Filha, por sua vez, tem papel vital para o funcionamento da história, já que a narrativa é contada pelos olhos dela, e a atriz Clara Rugaard entrega um trabalho competente. Ela é inteligente, curiosa e ingênua, e a cada nova informação apresentada pelo roteiro é possível ver nos olhos da atriz a dúvida e os questionamentos diante das novas descobertas.
A misteriosa personagem de Hilary Swank também acrescenta muito à trama. A atriz, em uma atuação forte, dá vida a uma personagem agressiva, selvagem e responsável pelo crescimento de tensão narrativa.
I am Mother é uma surpresa. Além de ser uma boa ficção com temas trabalhados de forma eficiente, o longa consegue também transitar entre o suspense e o terror com competência, um filme relevante sem nunca perder o fator de entretenimento.
NOTA: 8
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