> >
Com autoajuda e religião, autor traz jovem em busca de conhecimento

Com autoajuda e religião, autor traz jovem em busca de conhecimento

Após trilogia da "jornada" do jovem Inocêncio, Valdi Ercolani se prepara para o quarto livro

Publicado em 2 de janeiro de 2018 às 19:00

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

Valdi Ercolani nasceu no Rio Grande do Sul, em uma colônia de pequenos agricultores, hoje Nova Esperança. Ele rodou o mundo passou por Estados Unidos e países de África e Europa, sempre trabalhando com roteiros, cinema e publicidade. Em 1990 mudou-se para Barcelona e ali residiu por dois anos atuando na área da cinematografia. Em 2000, inspirado na lenda do herói mitológico começou a escrever o primeiro livro de uma série de cinco sobre a jornada do crescimento humano, "Inocêncio e a criança divina", publicado em 2005. Na sequência escreveu "O despertar do Inocêncio", publicado em 2008, e "Inocêncio e o inicio da Jornada", de 2011. 

A inserção da autoajuda e da religião em um contexto de ficção facilita a assimilação do discurso?

A história do Inocêncio é, na verdade, uma saga de autodescoberta passando pelos cinco estágios do crescimento humano: infância, juventude, maturidade, maturidade profunda e colheita; é a busca espiritual que forma a base da pessoa humana. Portanto, não há espaço para a autoajuda que oferece respostas fáceis para problemas pessoais complicados. Muito menos para uma religião como instituição e doutrina. Espiritualidade e religião podem se complementar, mas não se confundem.

A espiritualidade é uma vivência nata do homem, enquanto a religião é uma instituição humana. A espiritualidade é o “gene da criação”, presente em cada criatura, quer tenha ou não uma religião.

Enquanto a religião é individual, a espiritualidade é universal.

É a dimensão que eleva a pessoa para além do seu universo e a coloca frente às questões mais profundas, as que brotam da sua interioridade, no anseio de encontrar resposta às perguntas existenciais: Quem sou eu? De onde vim? O que faço aqui na Terra? É neste contexto que o avô Pietro, possuidor de conhecimentos ancestrais e irradiador do saber universal trazidos do Velho Continente, leva o neto Inocêncio a despertar para a Natureza, descobrir a sua essência, entender seu lugar no Cosmo, preparando-o para a grande jornada da vida.

A história de Inocêncio se assemelha muito a sua jornada. Quanto de você existe de fato no personagem?

Eu diria que praticamente cem por cento. De modo que nenhum dos livros é uma obra de ficção. Afora o nome Inocêncio, os demais nomes, personagens e lugares não são produtos da imaginação do autor. Portanto, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

O avô é o grande guru de Inocêncio e na trilogia é muito trabalhada a figura da criança e do ancião. O que essas passagens da vida representam para você?

Quando a criança sai do ventre materno, seu cérebro se assemelha ao filme virgem e as informações nele registradas nos primeiros seis anos servirão de referência durante a sua jornada. Quiçá, sabedor disso, meu avô Pietro me estimulou a viver uma vida mais digna, procurando identificar e conciliar o meu bem-estar individual com o bem-estar dos outros. Toda a vez que desejava me ensinar alguma coisa importante, ele o fazia através de exemplos tirados da Natureza. Dizia que devemos produzir bons frutos. Mas, para isso, precisamos nos renovar continuamente, assim como fazem as árvores que perdem as folhas no outono e renascem na primavera.

Lembro bem o dia em que meu avô me levou para conhecer uma colmeia e falou que a atividade das abelhas tem como finalidade o bem-estar coletivo. Contou que a rainha não possui ferrão, pois a Natureza não quis que ela fosse cruel com os seus súditos.

Quando a impaciência era clara, ele me ensinava a ser paciente dizendo que nos assuntos humanos ocorre a mesma coisa que ocorre na Natureza, ou seja, só podemos colher os frutos depois de muito trabalho, quando já estiverem maduros.

A jornada de Inocêncio é marcada por uma quebra de percepção. O que o livro ensina para o público sobre lidar com os processos de mudança na vida?

A jornada do Inocêncio é um aprendizado de como enfrentar a realidade. A fim de aprender coisas que os livros não ensinam, ele deixa para trás o que era e vai em busca daquilo que haverá de ser, percorrendo um caminho que desconhecia, assistindo ao certo se transformar no errado e o errado se transformar no certo.

Neste estágio, Inocêncio enfrentará o superficial, vivenciará ilusões, aprenderá o que é real, sairá do futil e irá para o profundo. Mas, enquanto o Inocente dentro dele acredita que a pureza e a coragem são recompensadas, o seu lado órfão descobre que a maldade quase sempre sai vencedora. Inocêncio então intui que se perder a fé, ele perde a força que faz a vida avançar, perde a coragem de existir, de viver e acontecer. Perde a condição que lhe permite seguir adiante. Assim sendo, eu classificaria os livros que compõem a saga como obras de teor humanista, que estimulam valores morais e espirituais, resultado de alguém que viveu sua jornada e encontrou sua verdade, esperando que sirvam de bússola para os jovens e adultos que estão buscando e ainda não acharam o seu caminho.

O nome do personagem vem da palavra inocência. E você disse em entrevista que a inocência deveria ser o nosso guia interior; por que você acredita nisso?

Inocêncio vem da palavra Inocente, o arquétipo ou guia interior que nos acompanha durante a jornada. Seus atributos são a confiança em si mesmo, nas outras pessoas e a fé na vida. O Inocente que há dentro de nós acha que a vida pode ser melhor do que é agora. Esta capacidade de ter fé torna possível nos agarrarmos aos nossos sonhos, esperanças e visões, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis.

Inocêncio recebeu amor dos pais, carinho do avô e contou com apoio de amigos e parentes que acreditaram nele. Portanto, a criança, que nos primeiros seis anos tenha recebido suficiente apoio para alcançar um saudável desenvolvimento do ego, poderá fazer sua jornada com entusiasmo, alegria e disposição, a ponto de ofuscar o medo do futuro.

A natureza e simplicidade também são temas muito abordados na série de Livros, o que eles representam para você?

A Natureza e a simplicidade são a essência dos dias felizes vividos durante minha infância na comunidade rural onde nasci, no Rio Grande do Sul, que hoje pertence ao munícipio de Nova Esperança. Era um grupo de pequenos agricultores onde todos se conheciam e formavam laços de confiança. O objetivo comum para sobreviver era o cultivo da terra. Iam para a lavoura ao nascer do sol e só retornavam ao entardecer, jamais se queixando do frio, calor ou mau tempo.

Moravam em casas simples, semeavam seus grãos e viam prosperar o seu gado miúdo. Possuíam um razoável pedaço de terra, não cobiçavam aquilo que não lhes pertencia e o bem-estar de um não podia existir sem o bem-estar do outro. Como todos se sentiam em estado de igualdade, a paz era uma condição natural entre eles. Tudo isso debaixo de um vasto céu salpicado de estrelas. Ainda conservo na memória imagens do pardal saltitando entre as árvores, emitindo sons alegres, enquanto aguardava o anoitecer.

Qual a importância dos fatos históricos (morte de Vargas, ditadura, Guerra Fria) no contexto do livro?

Em 1954, eu tinha 15 anos e morava na casa de Joaquim Macedo, casado com uma das irmãs de João Goulart, ministro do Trabalho no governo Vargas. Naquela época, norte-americanos e soviéticos travavam uma luta política, econômica e ideológica. Se um grupo lutasse contra um governo aliado da União Soviética, era visto com simpatia pelos Estados Unidos e recebia apoio. Por outro lado, se um governo de teor nacionalista fosse implantado em algum país da América do Sul, o governo norte-americano entendia como uma ameaça. Neste contexto, o Inocente que havia dentro de Getúlio Vargas achava que a vida do cidadão brasileiro podia ser melhor do que era. A partir daí as elites passaram a persegui-lo sem trégua. Assim como existem homens que praticam o mal, que dura mais do que eles, há homens que praticam o bem, que não acaba nem mesmo quando saem da vida. A característica mais expressiva de Getúlio Vargas, que não experimentou a morte e permanece um exemplo a ser seguido, foi a sua integridade. Teve o poder absoluto de 1930 a 1945 e nada conquistou para si. Antes de sair deste mundo deu testemunho na presença da nação, deixando sua fazenda e um apartamento de três quartos em construção. Dos que ficaram, quem pode se igualar a ele?

Você está escrevendo um quarto livro da série. Qual será o assunto abordado? Já tem data para o lançamento?

No primeiro volume da saga, na véspera da sua morte o avô Pietro diz ao neto: “Inocêncio, já tens provisões o bastante para ir em busca do grande homem, a fim de que um dia tu possas ser livre e governar a ti mesmo”. Esta frase deu o título para o quarto volume, Inocêncio em busca do grande homem, que aborda o governo de João Goulart e sua deposição, a ditadura militar e a busca do grande homem pelo Velho Continente, passando por Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Argélia.

O livro está em fase de revisão e aguarda uma editora que acredite no Inocêncio e queira editá-lo.

Valdi Ercolani

 nasceu no Rio Grande do Sul, em uma colônia de pequenos agricultores, hoje Nova Esperança. Aos sete anos de idade foi morar em São Borja, onde trabalhou como projecionista em um cinema da cidade e, aos quatorze, foi levado para morar em Porto Alegre. Ali, recebeu treinamento em artes gráficas. Aos vinte, embarcou para Los Angeles 

(EUA),

 a fim de buscar mais conhecimento na área da criação publicitária. Retornou um ano depois e fixou residência em São Paulo, onde atuou como diretor de arte em algumas das mais expressivas agências.

Este vídeo pode te interessar

Em 1967 passou por Portugal a caminho de Madrid, Espanha, onde trabalhou um ano nos Estúdios Moro como roteirista de filmes publicitários. Em 1968 foi para Londres estudar cinema na London School of Film Technique.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais