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Aílton Graça: 'É bom ter a chance de me arriscar'

Aílton Graça: "É bom ter a chance de me arriscar"

Enquanto não começa a interpretar Mussum no cinema, Aílton Graça mostra lado mais sério com carcereiro corrupto em série

Publicado em 27 de abril de 2018 às 18:32

Aílton Graça Crédito: Ramon Vasconcelos/Rede Globo

Escalado para interpretar o humorista Mussum (1941-1994) no cinema, num filme do diretor Roberto Santucci (da franquia "De pernas pro ar"), Aílton Graça precisou adiar o projeto para 2019.

"Fui pedir liberação na Globo para o filme e soube que estava no elenco da próxima novela de Aguinaldo Silva (com estreia prevista para novembro) -- conta o ator, que, antes disso, voltará à TV na aguardada "Carcereiros".

Livremente inspirada na obra de Drauzio Varella, a série, coprodução da Globo com a Gullane Filmes e a Spray Filmes, estreia no dia 26. Descoberto há 15 anos pela TV após se destacar como o bandido Majestade, no filme "Carandiru" (2003), outra história passada numa prisão, e que também virou série, Aílton agora interpreta Juscelino, diretor de segurança do presídio e chefe dos carcereiros.

Em 15 episódios -- três a mais do que os 12 já disponíveis no Globoplay -- a história tem direção-geral de José Eduardo Belmonte (do filme "Alemão", de 2014) e direção de episódios de Fernando Grostein. O roteiro é assinado por Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Dennison Ramalho, com a colaboração de Marcelo Starobinas.

Diferentemente do livro de Drauzio, que narra histórias de diferentes agentes penitenciários, a série centra a ação na figura do carcereiro Adriano (Rodrigo Lombardi), homem íntegro e contrário à violência no trabalho. Além de retratar o cotidiano dos profissionais na prisão, a produção aborda rebeliões, massacres e fugas.

Vencedora do prêmio do júri do Mip Drama, em Cannes, no ano passado, a série terá uma segunda temporada e renderá um filme. Aílton evita spoilers, mas diz que seu personagem deverá aparecer em apenas um episódio da próxima temporada. O ator, de 53 anos, que está ainda em cartaz em São Paulo com a peça "Diálogo noturno com um homem vil", fala da carreira na entrevista a seguir. Em tempos do fenômeno "Pantera negra", ele reflete ainda sobre a representatividade do negro no audiovisual. 

"Carandiru". Aílton Graça estreou no cinema no papel do malandro Majestade Crédito: Marlene Bergamo / Divulgação

"Carcereiros" marca seu retorno ao universo carcerário após o sucesso de "Carandiru". Qual a importância daquele trabalho para você?

O Majestade (de "Carandiru") foi o personagem que me abriu portas, deu visibilidade a um trabalho que antes só era visto no teatro. Após o filme (que marcou a estreia do ator no cinema) fui para a TV e fiz o Feitosa na novela "América" (em 2005). Acho que a série agora terá um grande impacto. 

Juscelino, seu novo personagem, não é exatamente o que aparenta ser...

Ele aparenta ser íntegro, até dar uma escorregada. Você vai percebendo que existe um desvio de caráter ali. Ele passa por cima do código rígido daquele lugar, dá o famoso jeitinho brasileiro. E arruma uma forma de complementar a renda dentro do presídio.

Como foi atuar num registro diferente do que você costuma fazer na TV?

Essa série propõe outra densidade. Não é nada próximo do humor, vai para um lugar mais trágico.

Apesar de ter feito muitos tipos cômicos, você não ficou marcado por um único papel na TV...

Os personagens mais populares e engraçados são os seus preferidos?

O Feitosa fez muito sucesso. E a Xana Summer (personagem do ator em "Império", de 2014) marcou minha vida para sempre. Era um personagem negro, homossexual, gordinho, e dentro de uma lógica empoderada. Ela não levantava bandeira, mas era ouvida e aceita. Até hoje sou chamado de Feitosa ou de Xana. Mas gostei muito de ter feito o Quirino, que era ex-padre, em "Flor do Caribe" (2013).

Como vê a questão da representatividade na TV? Faltam papéis mais diversos para atores negros?

Em tempos de "Pantera negra" devemos reconhecer que representatividade importa, sim! Na TV, foi importante a Taís Araújo ter sido Helena em "Viver a vida" (de 2009), e ver "Lado a lado" (de 2012), com um numeroso elenco negro, ganhar prêmio internacional. Também quero ver outras representações, como uma trans fazendo o papel de uma trans. Mas é óbvio que quero ver essa mesma trans fazendo outros papéis.

Lázaro Ramos disse que já recusou personagens em que teria que portar arma de fogo para evitar o contexto de um negro armado como algo natural. Que tipo de estereótipo você se preocupa em evitar ao ser escalado?

Você sofre racismo?

Onde fica seu otimismo diante do contexto político atual do Brasil?

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