Publicado em 26 de agosto de 2019 às 17:00
O Espírito Santo foi considerado o segundo Estado mais violento para mulheres no Brasil em 2015 pelo Mapa da Violência. Foram 171 mulheres assassinadas naquele ano 9,3 mulheres por 100 habitantes. Desde então, o coletivo Emaranhado prepara um espetáculo para denunciar essa estatística e sensibilizar a população. Agora, "Abajur Cor de Carne" ganhou suas primeiras datas: em setembro, os públicos de Guaçuí e de Cachoeiro do Itapemirim poderão apreciar o espetáculo, que terá ensaio aberto em Vitória neste final de semana.
A peça é uma mistura de dança, teatro, poesia, performance e música. No palco, essas linguagens se cruzam e recriam o mapa da violência por meio da arte. O trabalho não é só a dança. A gente também apresenta histórias reais de mulheres que foram assassinadas e estatísticas de feminicídios no Espírito Santo e no Brasil, conta Maicom Souza, diretor de produção da peça.
Seguindo essa linha, o grupo também tem produzido metodologias de escrita e oficinas: Estamos produzindo artigos, levantando dados, gerando discussões. O espetáculo é o início, entretanto, as reverberações também nos interessam.
DIDÁTICO
O número de mortes é alarmante, mas Abajur Cor de Carne se preocupa em explicar que a violência contra a mulher começa e ocorre de formas pequenas: na obrigação de fechar as pernas, na proibição de utilizar uma roupa curta, no medo de sair de casa sozinha.
A violência contra a mulher é também todos os lugares em que ela é minimizada e enxergada como um objeto. Todo silenciamento da mulher antes da denúncia já é violência, explica.
Maicom aponta que o espetáculo traz dez artistas em cena, oito mulheres e dois homens. Nós queremos mostrar o quanto a violência contra a mulher é, na verdade, uma violência contra o que é feminino. É uma fragilidade, uma emoção, que não pode existir e também é eliminada dos homens.
Apesar do tema profundo, segundo o diretor, a abordagem do coletivo é clara e precisa: A gente acha importante ser didático. A gente se preocupa com o modo como as pessoas vão sentir nossos gestos. Nós não queremos mostrar que dominamos a técnica da dança. Nós queremos que as pessoas entendam nossa mensagem. O espetáculo não é de movimentos complexos, é de movimentos com significado.
Para Maicom, "Abajur Cor de Carne" terá cumprido seu objetivo se o público se entregar ao que é proposto. Queremos sensibilizar essas cidades do interior para o tema, porque a demanda da mulher é urgente. É uma emergência falar desse sofrimento e, mais do que isso, interromper. É por isso que a gente quer provocar o público, afirma.
PROGRAMAÇÃO
Vitória:
17 e 18 de agosto
Oficina sobre feminicídio. Dia 17, às 15h, na Reverence Studio de Dança. Rua Cyro Lopes Pereira, 509, Jardim da Penha.
Ensaio aberto. Dia 18, às 15h, na Praça Philogomiro Lannes (pracinha da Flash Vídeo), Jardim da Penha.
Guaçuí:
13 e 14 de setembro
Apresentação no Teatro Municipal Fernando Torres. Avenida Governador Francisco Lacerda Aguiar. Dia 13, às 10h, e dia 14, às 19h.
Cachoeiro de Itapemirim:
28 de setembro
Apresentação às 19 no Teatro Municipal Rubem Braga. Av. Beira-Rio, 237, Guandú.
Todos os eventos são gratuitos
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