Vacinação de crianças: ritmo lento atrasa a proteção de toda a sociedade

É ilógico, mas há pais que se vacinaram e não querem que seus filhos recebam a vacina. O instinto de proteção é compreensível até certo ponto, porque é possível buscar informação qualificada da segurança dos imunizantes que estão sendo aplicados

Publicado em 03/03/2022 às 02h00
Vacina
Vitória foi a primeira cidade do Estado a iniciar a vacinação em crianças. Crédito: André Sobral

Quando a vacinação pediátrica teve início no Estado, em 15 de janeiro deste ano, apesar de toda a euforia que cercou o importante momento do enfrentamento da pandemia, com as prefeituras organizando ações para atrair o público e as imagens de tantos pais engajados na imunização dos filhos, sabia-se que cumprir as metas seria um desafio em razão da insegurança causada, sobretudo, pela desinformação. Contudo, havia a expectativa de que, com o avançar da vacinação e a percepção da segurança dos imunizantes, a participação aumentasse. Um mês e meio depois, não é esse o cenário.

Até a última segunda-feira (21), foram aplicadas 128,8 mil doses nas crianças entre 5 e 11 anos, em território capixaba. Número que corresponde a pouco mais de 32% desse público, vacinado com a primeira dose. As vacinas aplicadas, ambas com a aprovação da Anvisa, são a Coronavac e a Pfizer pediátrica. A segunda dose de cada uma delas deve ser aplicada, respectivamente, em 28 dias e em três meses.

Não há, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), problemas no acesso às vacinas. As doses que chegam semanalmente ao Estado são suficientes para atender a demanda, contudo a procura está abaixo do esperado. A meta é vacinar 7 mil crianças diariamente, em média, mas esse número atualmente estacionou em 4 mil, pouco mais da metade da expectativa. No atual ritmo, inviabiliza-se atingir 90% do público até meados de março, como planejado.

As autoridades de saúde pública demonstram uma preocupação com o ritmo da imunização no Estado que precisa contagiar a sociedade. Mesmo que se saiba que não é uma tarefa simples exercer a influência, ainda que positiva, sobre a decisão dos pais, faz falta uma presença mais massiva da importância da vacinação do público infantil para além das matérias jornalísticas.

Muitas prefeituras têm colocado em prática estratégias para mobilizar os pais, mas parece óbvio que a falta do engajamento do governo federal tem um peso inegável nessa baixa adesão. Com o próprio Ministério da Saúde tendo plantando tantas dúvidas, quando deveria ter tratado o assunto com assertividade, agora os frutos de um medo descabido estão sendo colhidos.

É ilógico, mas há pais que se vacinaram e não querem que seus filhos recebam a vacina. O instinto de proteção é compreensível até certo ponto, porque é possível buscar informação qualificada que demonstre a segurança dos imunizantes que estão sendo aplicados. A vacina protege as crianças (elas também podem desenvolver casos graves, mesmo que em proporção menor), a vacina protege a sociedade como um todo. Epidemiologistas afirmam que a imunização do público infantil é imprescindível para conter o desenvolvimento de novas variantes. Sem falar que a pandemia demonstrou que o ambiente escolar faz falta na aprendizagem. Criança vacinada é criança protegida dentro da sala de aula.

Não há o que temer, o próprio andamento da vacinação tem mostrado isso. Os pais que hoje hesitam em levar seus filhos aos pontos de vacinação são, em grande parte, aqueles que têm a carteira de vacinação toda carimbada. São aqueles que passaram a infância toda protegida, porque seus pais sabiam do compromisso que cada cidadão deve ter com a saúde pública. O medo infundado não pode vencer a única estratégia capaz de acabar com essa pandemia que ainda persiste.

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