Queda do Brasil no IDH expõe abismos da educação e da desigualdade

País perdeu uma posição no ranking de desenvolvimento humano por conta da estagnação nos indicadores de escolaridade. Não à toa, ganhou destaque no relatório das Nações Unidas por apresentar uma das maiores concentrações de renda do mundo

Publicado em 14/12/2019 às 04h00
Atualizado em 14/12/2019 às 04h02
Falta de saneamento e moradia adequada compõem a pobreza infantil no Estado. Crédito: Agência Brasil
Falta de saneamento e moradia adequada compõem a pobreza infantil no Estado. Crédito: Agência Brasil

Um milésimo. Esse foi o avanço do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 2017 e 2018. O resultado pífio, é claro, não sustentou a evolução no ranking dos 189 países avaliados. Pelo contrário, o Brasil perdeu uma posição, passando da 78ª para 79ª, em relatório divulgado na segunda-feira (9). Por trás de números, médias e estatísticas, há uma realidade já bem conhecida: a baixa qualidade da educação e a imensa desigualdade social atravancam o progresso.

Elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB), que leva em conta apenas aspectos econômicos, o IDH baseia-se em três pilares para medir o bem-estar dos cidadãos: saúde, educação e renda. É uma fórmula mais humana de medir as condições de prosperidade dos povos.

Apesar de ter aumentado seu próprio índice ao longo dos anos, de 0,613 em 1990 para 0,761 agora, o Brasil vem despencando na classificação mundial. Como o IDH é comparativo – a posição de um país depende do resultado dos outros –, o Brasil é destaque no estudo pelos motivos errados, como a nação que mais cai no ranking, atrás apenas de Camarões. Outros países têm conseguido fazer o dever de casa, enquanto o Brasil fica para trás.

O país até conseguiu mostrar pequeno avanço em expectativa de vida e na renda da população, mas não conseguiu disfarçar as décadas de políticas públicas ineficientes na área de educação. Os anos esperados de escolaridade estão estagnados desde 2016 em 15,4, o que equivale a ensino médio incompleto. E quando se trata de educação, estagnação é retrocesso. Segundo o Pnud, a média de estudo dos brasileiros é de 7,8 anos, enquanto a da Noruega, primeira colocada, é de 12,6 anos. É quase o dobro.

O resultado corrobora o último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado neste mês pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que apontou que o país está estagnado há uma década entre os piores níveis de aprendizado.

Pedra de toque para um desenvolvimento sustentável, a educação se reflete em acesso a oportunidades, em renda digna, em cidadania. Não é à toa que, diante da nota baixa alcançada pelo Brasil no Pnud no quesito conhecimento, o país apresente também um dos piores indicadores de desigualdade social. É a segunda maior concentração de renda em todo o mundo, ficando atrás apenas do Catar.

Os dados só não são piores porque, mesmo com a crise econômica e as políticas de arrocho fiscal que vieram a reboque, programas de transferência de renda como o Bolsa Família não foram desmantelados. Com a economia finalmente entrando nos eixos, é hora de aliar inteligência e estratégia para aprimorar a rede de proteção aos mais pobres, especialmente na seara da educação, o grande gargalo brasileiro. O atual governo não é responsável pelo baixo desempenho do Brasil no IDH, que levou em conta indicadores até 2018. Mas agora, com o leme na mão, tem a obrigação de acertar o rumo.

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