Caos frequente com chuvas deve começar a ser resolvido nas urnas

Na contramão do esperado, gestão das águas parece ter recuado no Espírito Santo, com agravamento de inundações. Cidadãos devem escolher candidato que mostre competência e vontade de mudar os rumos de sua cidade

Publicado em 25/09/2020 às 06h00
Chuva na Grande Vitória
Chuva na Grande Vitória neste mês de setembro causou vários pontos de alagamentos. Crédito: Fernando Madeira

“Aqui no bairro, quando chove, inunda tudo. A situação está complicada.” O relato é do leitor de A Gazeta Jean Salles, que enviou registro da rua onde mora em Vila Independência, Cariacica, completamente tomada pela água na última terça-feira (22) . A cada precipitação mais volumosa, os canais de diálogo com a audiência deste jornal são inundados por fotos, vídeos e depoimentos de capixabas que, assim como Jean, buscam denunciar transtornos frequentes.

Com o início do período de chuvas, surgem também ruas alagadas, imóveis invadidos pelas águas, risco de deslizamentos, pessoas desabrigadas e caos no trânsito, velhos conhecidos da população, de norte a sul. Em casos mais graves, mortos e feridos. Em breve, inaugura-se também a temporada de alegações de gestores públicos de que “choveu mais do que o previsto”. A cada ano, a cada perda, fica mais difícil para cidadãos como Jean engolirem a culpabilização do imprevisível, quando alagamentos são não apenas esperados, como têm até endereço certo.

Se é tão frequente que os volumes de chuva sejam maiores do que os presumidos, algo está errado com a conta. Será um ardil retórico da administração pública culpar as mudanças climáticas enquanto faltarem obras estruturais, como estações de bombeamento, comportas e elevatórias, ou enquanto houver permissão para a ocupação desordenada do solo.

Em anos mas recentes, na contramão do que seria desejável, a gestão das águas parece ter recuado. Ao lado de quem enfrenta o mesmo drama a cada chuva, como Jean, surgem aqueles que, pela primeira vez em suas vidas, têm visto suas ruas e suas casas inundadas. Em alguns casos, houve um paradoxal retrocesso trazido por obras que deveriam simbolizar apenas o desenvolvimento. A inauguração da Rodovia Leste-Oeste, crucial para a logística do Estado, canalizou as águas das chuvas e ampliou uma área de alagamento já histórica em Vila Velha. Obras de macrodrenagem faziam parte do projeto da rodovia, mas ficaram para depois.

Mas a gestão não é feita apenas de obras vultosas e grandes investimentos. Prefeituras falham constantemente mesmo em medidas mais simples para mitigar impactos. No ano passado, Vila Velha não dispunha de veículos altos e barcos para resgatar moradores ilhados, muitos acamados. Precisou da ajuda do Exército para, mais uma vez, remover grávidas de uma maternidade inundada. Nessa mesma época, moradores da Serra e de Cariacica também sofriam com transtornos das chuvas. As prefeituras até possuíam um Plano de Redução de Risco, mas não sabiam informar nem dados básicos, como quantas pessoas vivem em áreas ameaçadas nos municípios.

Os mandatos passam, as administrações se alteram, mas as deficiências de macrodrenagem e infraestrutura no Espírito Santo permanecem submersas na burocracia. Às vésperas de mais uma eleição municipal, os cidadãos devem escolher de forma sensata o candidato que mostre competência e vontade de mudar os rumos de sua cidade. Devem também assumir sua parcela de responsabilidade, pois se há descaso do poder público, há também negligência de quem descarta lixo na rua e até eletrodomésticos em canais.

Outro dever cívico da população é lembrar que seu compromisso com a política não termina na urna, começa nela. Além do dia da votação, são quase 1.500 dias de mandato para acompanhar o cumprimento de promessas e cobrar soluções dos eleitos.

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