Bolsonaro precisa superar o impasse liberal com Paulo Guedes

As hesitações do presidente com as propostas liberais para a economia quase sempre se dão nas entrelinhas, mas o atraso da agenda da equipe econômica é perceptível

Publicado em 27/02/2020 às 05h00
Atualizado em 27/02/2020 às 05h01
Presidente da República, Jair Bolsonaro durante reunião com o Ministro da Economia, Paulo Guedes. Crédito: Isac Nobrega
Presidente da República, Jair Bolsonaro durante reunião com o Ministro da Economia, Paulo Guedes. Crédito: Isac Nobrega

O presidente Jair Bolsonaro vive um impasse com a agenda liberal do próprio governo. Ao mesmo tempo que, nos bastidores, tem cobrado cada vez mais resultados do seu “posto Ipiranga” Paulo Guedes, o presidente tem sido ele mesmo responsável pelo atraso da implementação de medidas cruciais para a recuperação econômica, por razões que vão do risco político ao apego às suas antigas convicções.

reforma administrativa é o exemplo mais recente: a apresentação de um projeto tem sido adiada desde o ano passado, em função das mudanças drásticas que precisam ser impostas ao funcionalismo, uma questão de sobrevivência estatal, entrarem em conflito com o corporativismo que ainda habita o presidente. Ao menos há a promessa de que, passado o carnaval, a PEC seja enfim encaminhada ao Congresso, já que o texto foi assinado pelo presidente na última sexta-feira (21).

As hesitações de Bolsonaro com as propostas liberais para a economia quase sempre se dão nas entrelinhas. Na semana passada, em evento no Palácio do Planalto, faltou confiança nas próprias palavras ao afirmar que os Correios “caminham para a privatização” ainda neste mandato. Ora, não é a primeira vez que a empresa é mencionada pelo presidente.

Ao emendar que “algumas instituições não serão privatizadas enquanto ele for presidente”, seu discurso soou como uma justificativa antecipada a um eventual fracasso do programa de privatizações do seu governo. O problema é que o mercado exige cada vez mais firmeza de quem dita os rumos econômicos do país, a confiança que impulsiona investimentos e avaliza o próprio governo depende desse compromisso.

A lentidão do andamento da pauta econômica é ainda mais prejudicial para o país em um ano eleitoral, com vida útil apenas no primeiro semestre. O governo Bolsonaro não possui habilidade na articulação política com o Congresso, o que coloca as perspectivas de votações importantes em câmera lenta, lentíssima.

Bolsonaro precisa, definitivamente, dar credibilidade a sua própria agenda econômica, pisando no freio de suas crenças ultrapassadas não somente nesse campo. Sem um compromisso institucional, reconhecendo o papel do Congresso e da imprensa no equilíbrio de forças democrático, também terá perdas em seu governo. E precisa, acima de tudo, compreender que não há liberalismo sem liberdades individuais.

Na semana passada, Bolsonaro espontaneamente afirmou que Paulo Guedes fica no governo “até o último dia”, respondendo aos rumores sobre a saída do ministro que se acentuaram após o episódio das domésticas. Afora a reforma da Previdência, aprovada mais em função da atuação do Congresso do que do Executivo, o governo Bolsonaro ainda é um governo de intenções liberais. Bolsonaro precisa abraçar essa agenda e consolidá-la, ou seu governo continuará perdido entre o discurso e a prática.

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