Bolsonaro perde suposto álibi e agora precisa fazer reformas andarem

O país  aguarda atitude das novas lideranças do Congresso, para que reformas estruturantes sejam colocadas em pauta com celeridade

Publicado em 03/02/2021 às 02h00
Presidência da Câmara
Arthur Lira comemora vitória na Câmara. Crédito: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Qualquer discurso de posse é uma carta de intenções, e o que se espera do novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a esta altura dos acontecimentos insólitos no Brasil, é que as palavras proferidas após a sua eleição em primeiro turno, com 302 votos, ganhem vida o quanto antes e não se cristalizem pelas pressões políticas ou pela inércia.

"Temos que vacinar, vacinar, vacinar o nosso povo. Temos que buscar o equilíbrio das nossas contas públicas", ressaltou Lira, estabelecendo assim o enfrentamento da pandemia e o ajuste fiscal como as prioridades do mandato que se inicia. As palavras, vale reforçar, não são nada sem os atos.

E o país aguarda atitude, que reformas sejam colocadas em pauta com celeridade. O governo Bolsonaro completou dois anos com a reforma da Previdência como único saldo, um mérito que nem ao menos pode ser creditado diretamente ao Executivo.

Com Arthur Lira no centro das decisões parlamentares, o encaminhamento das reformas precisa adquirir uma nova dinâmica diretamente conectada com as ações do Planalto. Já se fala que a reforma administrativa estará em votação nos primeiros cem dias, mas é preciso também que ela esteja mais bem alinhavada. Não há mais um Rodrigo Maia para ser responsabilizado pelo governo Bolsonaro por segurar as reformas, há agora um aliado de primeira ordem à frente da Câmara.  Aproveitar o timing para encaminhar a remodelação estatal é prova de inteligência política, neste primeiro momento.

O enxugamento do Estado brasileiro, mais racional e equânime e, consequentemente, mais fortalecido, é uma etapa fundamental para o equilíbrio das contas públicas que teve destaque no discurso do novo presidente. A agenda liberal também tem  a urgência das privatizações. Se Jair Bolsonaro patinou até agora no cumprimento desse pacto econômico, com um certo escanteamento de Paulo Guedes, as novas lideranças na Câmara e também no Senado, com Rodrigo Pacheco (DEM), são a oportunidade de ouro para desfazer a má vontade bolsonarista, já apontada como estelionato eleitoral. Não há mais desculpas.

O próprio Planalto foi protagonista dessa eleição conturbada. A motivação evidente foi afastar o fantasma do impeachment que assombra Jair Bolsonaro. A liberação de emendas a deputados e a articulação com o Centrão transformaram a escolhas na Câmara e no Senado em questão de vida ou morte para o governo. Mas o que deveria estar em questão é a sobrevivência do próprio país, que não somente atravessa uma pandemia com gerenciamento parco da crise, como acumula os problemas estruturais, econômicos e políticos, anteriores à própria gestão Bolsonaro.

Arthur Lira está em foco a partir de agora e será cobrado a agir com responsabilidade. A  primeira decisão de sua gestão foi um ato que retirou adversários do comando da Câmara, uma postura considerada autoritária. O impasse político do país exige a construção de pontes, não a implosão. Nesta terça-feira (02), recuou e selou um acordo.

Pouco após a canetada, participou de uma festa com 300 convidados para comemorar a vitória, na madrugada, na qual houve flagrantes de pessoas sem máscaras. A vacina teve destaque no discurso de posse, mas na prática a proteção contra a Covid-19 ficou só na teoria. Enquanto a imunização permanece restrita (por responsabilidade da falta de ação do Ministério da Saúde), as palavras de ordem são "máscara, máscara, máscara". E distanciamento social. O presidente da Câmara precisa dar o exemplo.

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