
O uso desmedido da força policial tem mais percepção social em episódios chocantes como o da última sexta-feira (31), em Colatina, quando o carro de Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi alvejado por 44 tiros (cinco deles atingiram o jovem no peito) durante uma ação da Polícia Militar.
Um absurdo: o jovem precisou ser morto para que só então os policiais descobrissem que não havia ninguém com ele no carro. O motorista tampouco estava armado. Ele estava devidamente habilitado, e o veículo que dirigia não era roubado. Danilo trabalhava como vistoriador de carros e começaria a faculdade de radiologia nesta segunda-feira (3). "Eu acredito que ele ficou com medo na hora em que mandaram ele parar, talvez por medo de perder a habilitação, não sei. Cercaram meu filho e efetuaram mais de 40 tiros", disse o pai.
Um disparo só se justifica em situações extremas, quando há riscos para os policiais ou terceiros. Chegar atirando é exceção, não a regra. É o que se chama de uso diferenciado da força, alcançado com muito treinamento. A PM do ES é adepta do Método Giraldi, que coloca a preservação da vida como prioridade. Como era de se esperar, os cinco policiais envolvidos foram afastados e o caso vai ser investigado pela Corregedoria da PM. Espera-se que com celeridade, para que a sociedade tenha as respostas sobre a atuação desses agentes públicos.
O próprio secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, Leonardo Damasceno, ao afirmar que a resposta do Estado sobre o caso precisa ser rápida e isenta, descreveu o boletim de ocorrência como "confuso e complexo". Casos como esse mostram como é de fato aguardado o uso de câmeras corporais pelos policiais: os equipamentos vão ajudar a esclarecê-los e até mesmo impedir que ocorram, beneficiando tanto o cidadão quanto os próprios policiais. Aqueles que andam na linha terão sua conduta resguardada pelo uso do aparelho.
A promessa do governo estadual era de que a adoção das câmeras nas fardas teria início em 2024, o que não ocorreu. Por nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou no fim de janeiro que o "Projeto Piloto para utilização de câmeras corporais pelas forças de segurança do Estado está em andamento e, atualmente, está em fase de teste de integração de tecnologias".
Será um importante passo no controle da letalidade policial. O Espírito Santo, de 2023 a 2024, registrou um aumento de 25,86% no número dessas ocorrências. A Polícia Militar no Espírito Santo, segundo o especialista em Segurança Pública Henrique Herkenhoff, não é marcada por excessos e brutalidade, mas por profissionalismo. E precisa continuar assim.
Ações como a recente regulamentaçãos do uso da força policial pelo governo federal podem contribuir para a cristalização dessa mentalidade profissional entre os policiais. Episódios como o de Colatina mostram que é preciso estar constantemente em alerta.
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