Publicado em 12 de novembro de 2025 às 12:46
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (11) o decreto que regulamenta as novas regras do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), com objetivo de aumentar a concorrência no setor de vale-refeição e alimentação e ampliar a liberdade de escolha dos beneficiários.>
A principal mudança é a limitação de 3,6% nas taxas cobradas de restaurantes e supermercados por empresas de tíquetes. Outra novidade é a redução pela metade do prazo para esses estabelecimentos recebam os pagamentos pelas transações, de 30 dias para 15 dias. As empresas terão 90 dias para se adequar às novas regras.>
O ato de Lula contou com a presença dos ministros Luiz Marinho (Trabalho), Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, e ocorreu a portas fechadas no Palácio da Alvorada. O decreto será publicado no DOU (Diário Oficial da União) na quarta-feira (12).>
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O processo de regulamentação do PAT trouxe à tona as divergências de vários participantes do mercado. Enquanto associações de tíquetes, bares e restaurantes criticam a criação de um teto para a taxa de desconto — conhecida como MDR (do inglês, Merchant Discount Rate) —, supermercados apoiam a medida.>
"Havia muita reclamação dessa cadeia de fornecedores de alimentos e de refeições de que as taxas estavam abusivas, então, discutimos e tentamos fazer uma pactuação com todo o setor. Não foi possível", afirmou Marinho a jornalistas após a assinatura da medida. Ele estava acompanhado do presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, apoiador das limitações das taxas.>
"Especialmente as grandes [empresas] dizem que vai cair muito a sua lucratividade, é plenamente possível, mas o governo do presidente Lula não pode aceitar a lógica de preservação do tamanho do lucro que dizem ter em prejuízo dessa cadeia de empresas pequenas, médias e grandes, que acaba prejudicando o trabalhador lá na ponta no preço do alimento", acrescentou.>
O ministro do Trabalho disse ver risco de judicialização e ter alertado a AGU (Advocacia-Geral da União). Segundo Marinho, o governo tomará todas as providências para preservar e fortalecer o PAT.>
"Nós queremos sair de qualquer possibilidade de alguém judicializar. Porém, quando não tem jeito, você tem que tomar uma decisão. É a decisão que nós estamos tomando, não é? Nós vamos trabalhar, monitorar. Se por acaso houver alguma situação, a Advocacia-Geral da União está aí", afirmou.>
"Alertei o ministro [Jorge] Messias para analisar inclusive esse informe publicitário, que fala que o presidente pode estar assinando a 'morte do PAT', para tomar as providências", complementou, em referência indireta ao texto da ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador) publicado por veículos de mídia.>
Até então, não existia um limite para o montante pago pelos estabelecimentos comerciais para manutenção, administração e uso dos cartões de vale-refeição e alimentação. Para reduzir o impacto das mudanças anunciadas, o governo estabeleceu um período de transição para adequação às normas.>
O decreto estabelece que a tarifa de intercâmbio (taxa paga pelo adquirente ao banco emissor do cartão) terá teto de 2%, sendo vedada qualquer cobrança adicional.>
Além disso, determina que as maiores empresas, com sistemas que atendem mais de 500 mil trabalhadores, deverão operar no arranjo aberto em até 180 dias. Essa mudança abre caminho para a implementação da chamada interoperabilidade.>
Na prática, qualquer cartão de vale-refeição ou alimentação deverá funcionar em qualquer maquininha de pagamento. Empresas e operadoras terão até 360 dias para garantir a integração total entre bandeiras.>
As empresas facilitadoras que atendem menos de 500 mil trabalhadores, por sua vez, poderão continuar oferecendo um cartão de rede fechada (única empresa operadora em todas as etapas).>
A medida também proíbe vantagens indevidas entre empregadores e operadoras, como cashback, descontos, bonificações, patrocínios ou ações de marketing.>
O decreto, contudo, não traz os requisitos necessários para implementar a portabilidade, medida que consta em dispositivos anteriores, mas ainda depende de diretrizes específicas para sair do papel.>
O mecanismo daria a opção ao trabalhador de transferir, sem custos adicionais, o cartão da empresa de benefício escolhida pela companhia onde trabalha por outro de sua preferência.>
A mudança é vista com preocupação por alguns participantes do mercado de benefícios, que temem que a regulamentação estimule a volta da prática irregular chamada rebate — incentivos oferecidos pelas emissoras para atrair clientes.>
A regulamentação se insere em um contexto de mudanças no PAT que remonta ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, o Congresso Nacional aprovou uma medida provisória que alterava os principais pontos das regras referentes a vale-refeição e alimentação.>
A promessa de regulamentação do PAT se arrastou ao longo do governo Lula. O anúncio de novas medidas chegou a ser debatido durante os preparativos para o 1º de Maio, mas acabou adiado. Nesse processo, Haddad tentou jogar a responsabilidade pela regulação ao Banco Central, que, por sua vez, rejeitou a ideia de assumir a função de fiscalizar esse mercado de benefícios.>
O Comitê Gestor Interministerial do PAT será responsável por definir parâmetros técnicos, disciplinar regras e regulamentar o funcionamento do sistema de pagamento. O programa, que concede incentivo fiscal para as companhias que oferecem auxílio-alimentação para os seus funcionários, conta com quase 330 mil empresas beneficiárias cadastradas e alcança 22,1 milhões de trabalhadores.>
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