Publicado em 29 de junho de 2022 às 19:43
As contas do governo de Jair Bolsonaro (PL) referentes a 2021 foram aprovadas por unanimidade nesta quarta-feira (28) pelo Tribunal de Contas da União (TCU).>
O relator, ministro Aroldo Cedraz, propôs a aprovação com ressalvas --o que indica a existência de problemas a serem corrigidos. O texto final com a auditoria financeira do órgão agora segue para a avaliação do Congresso Nacional.>
O relator dedicou especial atenção às emendas do relator, instrumento usado como moeda de troca pelo governo para obter apoio no Congresso.>
O trecho do parecer, antecipado pela coluna Painel, da Folha de S.Paulo, afirma que esses mecanismos criam distorções e prejudicam a execução orçamentária, podendo levar a "possíveis irregularidades no cancelamento de despesas obrigatórias".>
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Nos últimos anos, o Congresso adotou a prática de maquiar despesas obrigatórias, como benefícios previdenciários e despesas com pessoal, como artifício para abrir espaço no Orçamento para turbinar as emendas de relator, que permitem a aliados do governo irrigar seus redutos eleitorais.>
O governo é forçado depois a rever esses cortes, em uma operação que costuma trazer desgaste ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao próprio presidente.>
Apesar das ponderações, o tema não gerou nenhuma ressalva às contas do presidente da República. Cedraz alegou que, para transformar uma "observação" em sanção, precisaria estar "embasado já com fatos muito mais concretos e decisões já tomadas".>
"Mas o alerta, eu acho que quem avisa amigo é", afirmou o ministro.>
As emendas de relator são informalmente distribuídas em acordo com os comandos da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como mostrou a Folha de S.Paulo, Lira já reservou uma parcela dos recursos deste ano para distribuir a aliados de olho em sua reeleição como presidente da Casa, em fevereiro de 2023.>
Governistas também articulam engessar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, e declarar as emendas de relator como impositivas, isto é, de execução obrigatória pelo governo de ocasião.>
O TCU também aprovou a emissão de um alerta a Bolsonaro devido à sanção irregular da lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamento, um benefício tributário concedido a empresas de 17 setores.>
A lei foi publicada na noite de 31 de dezembro de 2021 sem que o governo tenha adotado as devidas medidas de compensação pela perda de receitas, como manda a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e a própria Constituição.>
"Ficou evidente a inobservância, por parte do Poder Executivo, de exigências constitucionais e legais para criação ou prorrogação de renúncias tributárias durante o exercício de 2021", disse o parecer da área técnica do tribunal.>
Outras 12 normas que tratam de benefícios tributários, incluindo leis e portarias, também foram implementadas sem o devido cumprimento das exigências da LRF, da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) ou da Constituição, segundo o diagnóstico dos auditores.>
Os ministros aprovaram o parecer com três irregularidades e três impropriedades constatadas pelos auditores, além de distorções pontuais no BGU (Balanço-Geral da União). Os achados resultaram em dez recomendações e cinco alertas ao chefe do Executivo.>
O relatório destacou a necessidade de apuração de possíveis irregularidades na aplicação dos recursos em processos próprios do TCU.>
"Temos na Casa alguns processos que tratam de aspectos distintos dessa questão, e nenhum dele foi analisado pelo Plenário ou câmaras técnicas", afirmou Cedraz.>
O Tribunal identificou um desvio reincidente de recursos vinculados à seguridade social para custeio da área de ensino. Foram R$ 4,7 bilhões em 2020 e 12,2 bilhões em 2021. A área técnica destaca esses tipos de desvio para preservar a seguridade social, que historicamente teve os recursos utilizados para outros fins. A expectativa dos técnicos é que neste ano, até por recomendação do tribunal, esse desvio não ocorra.>
A área técnica também destacou distorção no passivo atuarial dos militares, identificando premissas incorretas no cálculo que indica o rombo que precisaria ser custeado pelo governo caso fosse necessário desembolsar hoje todos os benefícios futuros. Isso gerou uma provisão a maior no valor de R$ 91,2 bilhões para os militares inativos>
O TCU também chamou atenção para o fato de a LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2021 não ter previsto ação específica para segregar recursos para a pandemia de Covid-19.>
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