Publicado em 30 de março de 2019 às 22:48
As reformas previdenciária e trabalhista impõem uma nova realidade aos trabalhadores. Os profissionais vão precisar elaborar estratégias para permanecer empregados por mais tempo. E a dica principal dos especialistas é: invista em você. Isso vai desde três cursos de qualificação por ano, pois a atualização precisa ser constante, até fazer aula de teatro, trabalho voluntário e exercícios físicos, que garantem um bom equilíbrio emocional, essencial para a manutenção do emprego.>
A reforma trabalhista, em vigor desde novembro de 2017, facilitou tanto a contratação quanto a rescisão de contratos, com a regulamentação de demissões coletivas, por exemplo, segundo Claudio Jannotti, que é professor de Processo do Trabalho e de Direito Previdenciário da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). >
Diante desse cenário, especialistas aconselham que os profissionais devem estar mais abertos e dispostos a adquirir novos conhecimentos para garantir um emprego e permanecer mais tempo trabalhando.>
Já quando se fala em reforma da Previdência, a principal mudança, se aprovada, será exigir que o trabalhador contribua por 40 anos para se aposentar com integralidade. Por isso, nesse caso, é necessário que o trabalhador pense em estratégias, seja criativo e busque diferenciais pessoais e profissionais para se manter em atividade por mais tempo para não prolongar o caminho até a aposentadoria, já que terá que trabalhar mais para receber mais.>
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Nesse cenário que se desenha para os próximos anos, como se manter firme na carreira e sentir menos os impactos das mudanças?>
Para o coach de carreiras Elias Gomes é imprescindível que o profissional acompanhe as atualizações da área de atuação. É importante a atualização constante das ferramentas de trabalho. Além disso, o profissional não pode deixar de fazer cursos, sejam eles de curta ou média duração, orienta.>
O tipo de qualificação, segundo ele, depende da avaliação de cada pessoa. Dentro da linha da atualização, o profissional pode identificar a necessidade de MBA ou um curso mais rápido. Dentro do seu objetivo, o trabalhador opta por desenvolver competências que farão a diferença.>
Com as mudanças no mercado de trabalho, ainda mais agora com as reformas batendo à porta, é normal o trabalhador se sentir inseguro e com receio de demissões. Por isso, Elias Gomes reforça a necessidade de se qualificar e acompanhar o desenvolvimento tecnológico de cada área de atuação.>
Outra dica valiosa, na opinião da vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-ES), Neidy Christo, é a participação em eventos, o que contribui para o networking. Você encontra vários profissionais que podem lembrar de você quando surgir uma oportunidade, além de mostrar interesse de crescer na área. Quanto mais cursos fazemos, mais abrimos nossos horizontes e aprendemos mais, destaca ela, ao lembrar ainda que o networking é de extrema relevância para entrar no mercado ou ser reinserido.>
O advogado Arnon Amorim 26 anos, é recém-formado e, neste ano, se inscreveu em duas pós-graduações, de Direito do Trabalho e Direito Imobiliário, além de um curso de inglês. As escolhas não foram aleatórias. São áreas que têm crescimento independentemente da crise, justifica.>
O jovem conta que também está aberto à atualização constante da atividade. Sobretudo no Direito, é fundamental estar antenado às novidades. As leis mudam todo ano e os entendimentos dos tribunais também se alteram todos os meses, afirma o jovem, que pensa ainda em fazer um mestrado no futuro.>
Já a jornalista Jaciele Simoura, 22, também é recém-formada e está atenta às mudanças do cenário na sua profissão, especialmente às mudanças que a reforma da Previdência pode provocar.>
Com o possível aumento do tempo de contribuição, a gente se preocupa se vai conseguir permanecer no emprego por mais tempo para continuar contribuindo. Hoje, não é como antigamente, em que se entrava no emprego e ficava 40 anos, afirma Jaciele, que também tem como plano ingressar em um mestrado.>
ANÁLISE>
Contribuir sempre>
Para se aposentar, jamais deixe de contribuir. Pagar a Previdência é um dos melhores seguros que se tem, pois oferece direitos. Em caso de emergência, por exemplo, há o auxílio-doença. Na medida do possível, a pessoa pode fazer uma Previdência privada, para complementar a futura aposentadoria dela. Apenas o benefício previdenciário deixou de ser o porto seguro das pessoas. No passado, as pessoas falavam: agora que vou me aposentar, vou viajar, pois naquela época aposentavam com integralidade. A aposentadoria, hoje, vai ser um benefício para manter a subexistência. Por isso, é importante planejar o futuro. Normalmente, as pessoas só pensam nisso lá na frente e tardiamente. É importante que os jovens planejem o futuro e a vida financeira. Essa conscientização também é papel dos pais, pois a grande maioria, com 17 anos, não está preocupado com isso. Uma poupança forçada, para todo mês depositar, pode ser uma das alternativas.>
Geraldo Benício, especialista em Direito Previdenciário>
TEATRO, VOLUNTARIADO E EXERCÍCIO FÍSICO AJUDAM>
Para garantir seu lugar no mercado de trabalho, além de aptidão com as novas tecnologias, o funcionário precisa de outros dois requisitos: a criatividade e o equilíbrio emocional.>
Para o coach de carreira Elias Gomes é o momento de pensar a longo prazo e fortalecer as soft skills, as chamadas competências socioemocionais. Trata-se de características do comportamento humano que a inteligência artificial não substitui. Entre elas estão espírito de liderança e equipe, criatividade e autoconhecimento.>
E como fortalecê-las? Aulas de teatro e trabalho voluntário são apontados pelo coach como ótimas atividades para obtenção de habilidades. Ambos contribuem para que a pessoa desenvolva habilidades, sobretudo, de relacionamento. Certamente, com o passar do tempo, o aspecto emocional passa a ser desenvolvido, explica o coach.>
E não só a mente precisa de cuidados, mas também o corpo. Vamos ter que ficar mais tempo no trabalho, por isso, é importante cuidar de si. Fazer exercícios. Isso melhora o aspecto físico e emocional, avalia Elias.>
A designer de unhas em gel Natália Oliveira, 37 anos, já observa os benefícios do exercício para a rotina no trabalho. Há um ano e meio, ela começou a fazer pilates por sentir dores lombar, no joelho e nos ombros por trabahar dez horas por dia, sentada. O exercício me deixa mais leve e disposta para encarar meu dia puxado de trabalho. Além de melhorar o humor e me deixar mais zen, aponta. Além disso, a auxiliou na correção da postura.>
Criatividade>
Você costuma ter boas ideias durante o banho? Ou em momento de descontração? São os efeitos do ócio criativo. Quando há momentos para se pensar e criar, enxergamos diferentes maneiras de realizar alguma atividade. Muitas vezes, algumas não precisariam de tanta energia demandada, afirma Neidy, da ABRH-ES.>
De acordo com ela, é sempre um diferencial quando o trabalhador tem novas ideias e leva a inovação para dentro do trabalho. Ajuda a mantermos o nosso lugar na empresa. Os chefes valorizam isso, observa.>
Ler um bom livro, conversar com amigos, assistir a um filme, praticar esportes... São atividades que fortalecem as competências socioemocionais e ajudam a estimular o cérebro.>
O robô vai fazer o operacional muito mais rápido. A nossa grande diferença é a forma de lidar com o outro. A maneira de nos comunicarmos de maneira mais assertiva, o relacionamento interpessoal, que nenhuma máquina é capaz de substituir, avalia Neidy.>
PROFISSÕES DO FUTURO LIGADAS À TECNOLOGIA>
A psicóloga e especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas alerta para o desaparecimento de alguns empregos. Segundo ela, os economistas Michael Osborne e Carl Frey, da Universidade de Oxford, preveem que 65% dos alunos dos dias atuais acabarão em empregos que ainda não foram inventados. Não é de se admirar que muitas ofertas de emprego atuais não existiam há dez anos, observa.>
Gisélia aponta que, segundo a Fundação Instituto de Administração (FIA), as profissões mais promissoras para os próximos dez anos serão as das áreas de marketing, engenharia, sustentabilidade, saúde e qualidade de vida, analista de Big Data, desenvolvedor de aplicativo, arquiteto e engenheiro 3D, entre outras.>
Áreas>
Para a vice-presidente da ABRH-ES, Neidy Christo, postos de trabalho nas áreas de criatividade, entretenimento, saúde, tecnologia e educação vão despontar. Todas elas precisam da parte criativa para desenvolver seus trabalhos e isso continua muito em alta, incluindo para as novas atividades, afirma Neidy.>
As áreas que lidam diretamente com pessoas também merecem atenção, segundo a vice-presidente. São área de relações complexas e que precisam de pessoas com pensamento rápido e que são acionadas em planos emergenciais, como os assistentes de saúde a domicílio, exemplifica.>
Tecnologia>
As qualificações ligadas à tecnologia e à inteligência artificial se mantêm como essenciais na opinião dos especialistas, já que são áreas do futuro. Deve-se buscar frequentemente a qualificação tecnológica, além de constante atualização, avalia o coach de carreiras Elias Gomes.>
Neidy destaca também que o profissional precisa enxergar a indústria 4.0, inserida na era digital e tecnológica, como novas oportunidades de atividades. A inteligência artificial deve ser vista como aliada, por vir fazer com o que ser humano se dedique ao que realmente precisa fazer, que é pensar estrategicamente. A parte operacional que fique com o robô, destaca.>
SAIBA MAIS>
Algumas dicas>
Manter-se em atualização e qualificação constantes dentro da área para não ficar obsoleto;>
Ficar atento às mudanças e tendências do mercado para um planejamento de carreira a médio e longo prazo;>
Buscar cursos que ofereçam experiência prática, além de conteúdo teórico;>
Experimentar novas tecnologias e atividades que desenvolvam o lado criativo e inovador;>
Mostrar flexibilidade e adaptabilidade para as novas tecnologias, gestão, mudanças sociais e políticas;>
Estar sempre conectado ao mundo, pesoas e empresas, como forma de acompanhar as transformações e tendências, favorecendo um posicionamento estratégico ao mercado de trabalho.>
Habilidades>
Fortalecer competências socioemocionais: relacionamento, espírito de liderança e equipe, autoconhecimento, habilidades e consciência social, por meio de aulas de teatro, trabalho voluntário, leitura de livros e coaching.>
Profissões em alta>
Aquelas ligadas a tecnologia, sustentabilidade, saúde e qualidade de vida;>
Marketing;>
Engenharia;>
Recursos Humanos;>
Profissionais de comunicação;>
Designer;>
Negociadores;>
Cuidadores;>
Analista da Big Data;>
Arquiteto e Engenheiro 3D;>
Desenvolvedor de aplicativo;>
Consultor de imagem.>
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