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Pelo menos três postos vendiam gasolina adulterada no ES

Pelo menos três postos vendiam gasolina adulterada no ES

Nafta era vendida como combustível sem o consumidor saber

Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 01:45

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Um dos postos citados na operação e suspeito de vender combustível adulterado. (Vitor Jubini)

No tanque usado para armazenar combustível, o autoposto Rocha, em Cariacica, e os postos Dez e Wandall, na Serra, são suspeitos de depositar nafta, um subproduto do petróleo. Os estabelecimentos compravam a mercadoria, importada pelo Porto de Vitória, e comercializavam como se fossem gasolina sem se preocupar com os prejuízos que esse produto poderia causar para o consumidor.

Por causa das possíveis adulterações que ocorriam, essas empresas, assim como outros pontos de venda, são investigadas pela Operação Lídima, deflagrada há duas semanas pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), da Polícia Civil, e pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo.

Os indícios de irregularidades foram descobertos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), após uma ação conjunta com a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) no meio deste ano, segundo o coordenador de fiscalização da Agência Nacional de Petróleo, Ary Bello.

As evidências coletadas foram cruciais para embasar a prisão de 14 pessoas no Estado, inclusive os donos dessas três empresas.

Janaina Wan Dall da Silva, uma das sócias dos postos Dez e do Wandall, ligados à Rede Altântica, chegou a ser detida preventivamente na ação, mas conseguiu sair da prisão no dia 6 após um habeas corpus. Antonio Oliveira Macario, dono do Autoposto Rocha (sem bandeira), foi preso na mesma ocasião, saindo da cadeia no dia 8, depois do vencimento da prisão temporária.

De acordo com Bello, os pontos de venda suspeitos de irregularidades foram alvo de atuações da ANP, que ao analisar amostras coletadas durante as fiscalizações identificou a presença de nafta, solvente utilizado pela indústria química na fabricação de tintas e verniz.

O líquido foi adquirido em nome de companhias de fachada, com endereços no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Mato Grosso.

Para comprovar que os estabelecimentos adquiriam o material para vendê-lo como gasolina, as autoridades, envolvidas na Operação Lídima, acompanharam a retirada, por um caminhão tanque, de um grande volume de nafta do Porto de Vitória. “A gasolina não era completada com nafta. Ela era totalmente substituída entrando em contato apenas com resquícios de combustível verdadeiro”, conta.

Para mascarar a adulteração e deixar o nafta semelhante à gasolina, era misturado ao conteúdo um elemento chamado pó xadrez, corante aplicado em cimento e outros materiais de construção.

“É um produto que não tem garantia de qualidade da ANP, que não exerce a combustão da forma correta. Isso pode danificar o cabeçote do motor, provocar entupimento das velas e formar resíduos no carro”, explica Ary Bello.

MAIS APURAÇÕES

(Rovena Rosa | Agência Brasil)

Na primeira semana de dezembro, a ANP fiscalizou vários postos do Estado, coletando material para verificar se outros estabelecimentos têm vendido combustíveis adulterados.

As amostras coletadas foram enviadas para análise laboratoriais. Os resultados devem ser divulgados pela agência na próxima semana. Os postos com combustível batizado serão autuados e responderão a processos administrativos, correndo risco de perder a licença de operação.

Cerca de 40 milhões de litros de nafta entraram no Brasil nos últimos dois anos com finalidade duvidosa, o que pode ter garantido somente de lucro para a organização criminosa mais de R$ 58 milhões, conforme mostrou reportagem do “Fantástico” (Globo).

ATLÂNTICA DIZ QUE NÃO É INVESTIGADO

Dois postos suspeitos de venda de combustível adulterado são ligados à Rede Atlântica Petróleo. Em nota, a companhia afirma que não é alvo de investigação na Operação Lídima nem é citada no processo que detecta irregularidades e adulteração na comercialização de combustível. “A distribuidora foi fiscalizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no último dia 3 de dezembro e autorizada a manter as suas operações, pois nenhuma irregularidade foi constatada”, disse em nota.

A Atlântica ainda disse que “os investigados no processo sobre a qualidade do combustível, na verdade, são os donos de dois postos no município de Serra que possuem bandeira Atlântica: o posto Wandall, na BR 101, em Carapina, e o posto Dez, em Valparaíso. Apesar de levarem a bandeira da rede, esses postos não pertencem à empresa. O que existe é um contrato de exclusividade entre os postos e a Atlântica para o fornecimento do combustível que é vendido no local”.

O grupo acrescenta que a responsabilidade da Atlântica no fornecimento se dá entre a saída do combustível do porto até a chegada no posto e que não se responsabiliza pelo manejo do produto. O grupo afirma ainda que tem tomado as medidas judiciais cabíveis para a resolução do problema.

A reportagem também tentou contato com os donos dos postos Dez, Rocha e Wandall, mas não conseguiu encontrá-los.

Como se proteger

Abastecer no mesmo lugar

O coordenador de fiscalização da Agência Nacional de Petróleo, Ary Bello, sugere o abastecimento sempre num mesmo posto como uma das alternativas para evitar cair em golpes, como adulteração dos combustíveis.

Guarde os documentos

Manter a nota fiscal da aquisição é muito importante para conseguir comprovar que caiu numa armadilha, ou seja, que comprou combustível batizado.

Carro danificado

Se o carro for danificado por causa do combustível batizado, o consumidor deve buscar os órgãos de proteção e defesa, como o Procon, a ANP e também pode ir à Justiça para reivindicar uma indenização. A ANP aceita denúncias pelo site.

Os perigos da gasolina batizada

Este vídeo pode te interessar

Abastecer com combustível adulterado ou mesmo com nafta pode causar vários prejuízos ao carro, pois a queima de combustão não ocorre da maneira correta. O motor pode sofrer vários danos. Um dos problemas pode ser a avaria no cabeçote. As velas podem também ficar entupidas, além de que há risco de formação de resíduos no motor.

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