Publicado em 27 de março de 2018 às 17:36
* A reportagem foi publicada originalmente em 27/03/2018 e reeditada em 04/01/2020>
A novela que foi a obra do Aeroporto de Vitória teve pelo menos 16 anos, quando em setembro de 2002, o governo federal anunciou a primeira licitação para construção da nova pista e terminal. Um dos casos mais emblemáticos de descaso federal com o Espírito Santo, o empreendimento só foi entregue em março de 2018. A estrutura se tornou apta para voos internacionais em 2019 e, no início de 2020, passou a ser administrada pela iniciativa privada. >
Mas você sabia que o novo aeroporto quase foi construído em outra cidade? Pois é, a reportagem consultou o acervo do jornal A Gazeta e constatou que desde o início da década de 1990 já se discutia sobre a necessidade de um novo complexo aeroportuário no Estado, até mesmo fora da Capital. Aliás, a possível mudança da cidade do Eurico de Aguiar Sales foi bem mais que uma mera especulação. >
Em 1991, técnicos do então Instituto de Aviação Civil (hoje Agência Nacional de Aviação Civil - Anac), vieram ao Espírito Santo para fazer um estudo de viabilidade de quatro áreas cogitadas à época para receber o empreendimento. >
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Os locais com possibilidades mais fortes de abrigar o novo aeroporto eram dois: a região da Ponta da Fruta, em Vila Velha, e a de Jacaraípe, na Serra. Outras duas áreas na Barra do Jucu também foram analisadas, uma delas a que é ocupada pelo Aeroclube do Espírito Santo e outra próxima a Rodovia Darly Santos.>
Como já se previa que o terminal ficaria defasado e pelas limitações de espaço, na época nem chegava a ser cogitada a possibilidade do novo aeroporto continuar na Capital. Tanto pela falta de terrenos, como o relevo da cidade, que continha várias áreas de preservação ambiental.>
Trata-se de um estudo preliminar que vai definir, nos próximos 15 dias, a área mais indicada para a construção do aeroporto, disse o capitão Getúlio Marques, que chefiou a vinda dos técnicos, em entrevista para A Gazeta em 13 de novembro de 1991.>
Mas a decisão demorou bem mais que 15 dias para sair. O máximo que houve foi uma redução de possibilidades. Um ano depois do estudo, restavam no páreo a área entre Jacaraípe e Nova Almeida, próximo às lagoas Jacuném e Juara, na Serra; e a entre a Ponta da Fruta e Setiba, em Vila Velha.>
O trecho da reportagem publicada em 22 de agosto de 1992 dizia: Apesar de o terreno na Serra ser mais propício à construção do aeroporto, a área de Setiba seria mais adequada aos planos turísticos do governo, segundo Guerino [Dalvi, então secretário estadual de Transportes e Obras Públicas], por estar próxima a Vitória, Vila Velha e Guarapari, além do acesso ao aeroporto facilitado devido à Terceira Ponte e à Rodovia do Sol.>
Apesar do apelo turístico e da pressão do governo do Estado, a área da Ponta da Fruta tinha um grande empecilho pela frente: uma camada subterrânea de turfa, que é de material esponjoso, constituído de restos vegetais em variados graus de decomposição.>
O relatório técnico apontava que, apesar do terreno em Vila Velha favorecer o tráfego área para Rio de Janeiro e São Paulo, seria necessária uma grande movimentação de terra para conseguir uma área compatível com as necessidades do aeroporto.>
Assim, a região de Jacaraípe era mesmo a candidatíssima para receber o novo aeroporto. O terreno possui excelentes condições de operacionalidade quanto às características meteorológicas de teto e visibilidade. Há boa infraestrutura para redes de comunicação e energia elétrica, explicava a reportagem.>
A única dificuldade da área, segundo os técnicos, era a extrema proximidade com a região de Nova Almeida. Mas ainda assim, era a melhor opção. Este sítio é mais propício à atividade aeronáutica, dizia o relatório dos técnicos do Instituto de Aviação Civil.>
Mas Vila Velha não desistiu tão facilmente de receber o empreendimento. A discussão entre prefeituras, governo estadual e governo federal continuou praticamente ao longo de toda a década de 1990, e o esforço para levar o aeroporto para fora da capital seguia.>
Em 1999, numa nova tentativa de atrair o empreendimento, a Prefeitura de Vila Velha disponibilizou na revisão do Plano Diretor Urbano a área de 10 milhões de metros quadrados na Ponta da Fruta para construção do complexo.>
Outra briga boa foi da Prefeitura de Vitória, que sempre condenou as propostas de mudança do terminal e dizia que o aeroporto existente era suficiente para atender a demanda da população.>
O Governo está se envolvendo em questões que não lhe dizem respeito. As concepções mais modernas dão conta de que o aeroporto de Goiabeiras atende bem às necessidades da cidade, disse em entrevista para A Gazeta o então vice-prefeito Rogério Medeiros, em 1991. >
Após anos de discussão, a decisão saiu mesmo só em meados do ano 2000, quando a Infraero descartou a mudança de endereço, bateu o martelo de que o aeroporto continuaria em Vitória, e anunciou o primeiro projeto de ampliação do terminal de Goiabeiras.>
Assim, morreram de vez as intenções de tirar da Capital o aeroporto e iniciou outra novela, ainda maior: a da obra, que foi anunciada em 2000, licitada em 2002, iniciada em 2005, e só agora ficou pronta.>
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