Publicado em 29 de janeiro de 2018 às 12:06
As abelhas são parte fundamental na preservação da biodiversidade, mas, além disso, o mel que produzem é uma ótima fonte de renda para quem está no campo. Na região de Jucuruaba, em Viana, o apicultor Guilherme Wilson Cardoso, de 58 anos, apostou há quase quatro na criação de abelhas sem ferrão, as meliponas. O mel delas pode chegar a ser vendido por R$ 200 o quilo, um verdadeiro ouro líquido.
O apicultor conta que já trabalhava com a abelha europa, que é mais conhecida e com ferrão, há quase 20 anos. Ele viu na jataí e na uruçu amarela, duas espécies dóceis e de características únicas, um mel de alto valor no mercado.
Como é mais difícil encontrar o mel dessas pequenas no mercado, o valor de venda acaba sendo maior, explica a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte, Fábia Pereira. O preço dele costuma variar entre R$ 40 e
R$ 200 o quilo, dependendo da embalagem que o agricultor der ao produto. Já o da abelha europa, de R$ 7 a R$ 30 o quilo, revelou a pesquisadora.
ESTRANGEIROS
Fábia destaca que as abelhas que tradicionalmente conhecemos não são nativas do Brasil elas foram introduzidas no país.
As nossas espécies nativas são as meliponas. As estrangeiras são mais produtivas e, por isso, também são mais populares para a criação. Mas essas estrangeiras têm ferrão e nas nossas o ferrão é atrofiado, ou seja, tem um sistema de defesa diferente. Por isso, elas não picam, comentou.
CARACTERÍSTICAS
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, o Brasil tem cerca de 400 espécies diferentes de meliponas, sendo que no Sul e no Sudeste a criação mais comum é a da jataí.
Cada espécie tem uma diferenciação no mel. O das meliponas é um pouco mais líquido, com mais umidade e um tempo de durabilidade menor. Tem que ter um pouco mais de cuidado quando se adquire, manter na geladeira para evitar que estrague. O mel é um pouco mais ácido que o da europa, disse Fábia Pereira.
As abelhas nativas se diferenciam das estrangeiras não só pelo tamanho e cor. Segundo a pesquisadora, a colmeia das meliponas menores produzem de um a três quilos de mel por ano e a das maiores até 10 quilos por ano. Já uma colmeia de abelhas estrangeiras, com manejo adequado e melhoramento da colônia, produz de 50 quilos a 70 quilos por ano, ressaltou.
Segundo números do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Estado produz em média 1 tonelada de mel por ano.
Segundo Fábia, no país, a maior parte do que é produzido é exportado. De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2017, foram exportadas 27 mil toneladas do produto pelo Brasil.
ABELHA PODE SER CRIADA ATÉ EM APARTAMENTO
Imagine ter abelhas dentro de casa ou do apartamento como animais de estimação e aproveitar para colher mel sem se preocupar em levar uma picada. Por ser uma espécie dócil, as meliponas, abelhas nativas do Brasil, tornam isso possível.
Atualmente, em São Paulo, está se incentivando criar essas abelhas em jardins e até em apartamentos, comentou a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte, Fábia Pereira.
De acordo com a pesquisadora, a espécie mais comum de ser criada em apartamentos é a jataí. Por ela ser bem pequena, não ter ferrão e ser produtiva, ela é a preferida.
Além disso, ela também é mais resistente a condições climáticas e de desmatamentos. Caso ela esteja no campo e precise migrar para a cidade em busca de alimento, por exemplo, consegue sobreviver fazendo seu ninho dentro de muros ou em troncos de árvores.
Essa cultura em casa é uma alternativa de se ter um produto natural de forma sustentável. Segundo a pesquisadora, o mel é um alimento pouco explorado e a procura dele é vista mais como um remédio, mesmo ele sendo um alimento. Ainda falta que o brasileiro entenda que ele é um açúcar natural e que deve estar na mesa, enfatizou.
Segundo ela, as propriedades existentes no mel das abelhas nativas e das estrangeiras são muito semelhantes entre si, mas existem particularidades do produto nacional como a durabilidade menor e o sabor.
MELIPONAS
Sem ferrão
As meliponas são abelhas que já nascem com o ferrão atrofiado. Elas são silvestres e naturais do Brasil.
Tamanho
Essas abelhas geralmente são menores que as tradicionais com ferrão, que são estrangeiras.
Extinção
Pelo fato de não terem ferrão, o que funciona como mecanismo de defesa de algumas espécies de abelhas, muitas meliponas correm risco de extinção.
ESPÉCIES
Estima-se que atualmente existam cerca de 400 espécies dessas abelhas no país.
Jataí
É uma abelha dócil, pequena, dourada, de olhos esverdeados e com o terceiro par de pernas marrom escuro, quase preto. O mel é colocado em pequenas bolsas redondas dentro da colmeia. A produção é de um a três quilos de mel por caixa ao ano.
Uruçu amarela
A uruçu amarela é uma espécie maior e dourada. Ela está no livro vermelho do Ibama por ser uma espécie ameaçada de extinção. Produz até dez litros de mel por caixa ao ano.
Fontes: Pesquisa A GAZETA e Embrapa
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