Publicado em 30 de abril de 2020 às 14:53
O governo Jair Bolsonaro avalia aumentar a margem de lucro de concessões para atrair investimentos privados de ao menos R$ 100 bilhões. Poderão ser alteradas até regras de formação de consórcios.>
O cronograma das concessões deste ano deverá ser mantido para ao menos 20 projetos. Os leilões estão marcados para o segundo semestre.>
A maior parte das mudanças deverá ser promovida pelas agências reguladoras vinculadas ao Ministério da Infraestrutura. Entre elas estão Anac (aviação), ANTT (transportes terrestres) e Antaq (portos).>
A principal discussão no momento é ampliar ao menos em um ponto percentual, em média, a TIR (Taxa Interna de Retorno) dos editais.>
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A TIR é a margem de lucro dos projetos. São descontados investimentos, despesas e compromissos regulatórios, dentre outros custos. A mudança irá atingir rodovias, ferrovias, aeroportos e portos.>
Segundo pessoas que participam dos debates, hoje, no caso das rodovias a serem concedidas, a taxa é de cerca de 9,2% ao ano. Nesse caso, passaria para 10,2%.>
Com isso, o governo permite ganhos mínimos maiores para atrair investidores. A correção será feita caso a caso, maior para uns projetos e menor para outros.>
A taxa de retorno só é definida no momento do leilão. Se houver competição, por exemplo, os lances passam a conter ágios, o que acaba reduzindo o retorno ao longo da concessão.>
A estratégia do governo, porém, é contrária à adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff. A petista reduziu a taxa de retorno das rodadas de rodovias, exigiu mais investimentos e travou os pedágios.>
A TIR, ainda segundo os técnicos envolvidos, é definida com base em premissas definidas pela Secretaria do Tesouro Nacional de acordo com o risco das concessões (baixo, médio e elevado).>
Projetos ferroviários, por exemplo, são mais arriscados do que aeroportuários.>
Esse risco também muda de acordo com a região do país. Por isso, as taxas costumam variar de 7,5% ao ano, no caso de aeroportos, a 12%, para ferrovias, especialmente na região Norte.>
Como neste momento o risco de forma geral aumentou por causa da crise do coronavírus, não somente no Brasil, mas no mundo, a ideia é ampliar a taxa de todas as concessões previstas.>
O plano em discussão nas três agências é lançado em um momento em que os juros tendem a cair em países onde estão os principais operadores e investidores potenciais.>
Há países em que as taxas de juros já são negativas. Neles, um projeto com 10% de retorno ao ano seria considerado atraente em relação à rentabilidade que teriam caso deixasse os recursos aplicados.>
Nas conversas com investidores interessados na carteira de projetos do Brasil, os técnicos do governo e das agências perceberam que o apetite se mantém. Haverá compromisso de ofertas com retorno maior.>
Pelos planos, as rodovias devem liderar os leilões, concentrando R$ 66 bilhões dos investimentos programados previamente para os próximos 30 anos de concessão. Esse valor também considera valores a serem gastos com manutenção de vias já construídas, caso da BR-101 (SC).>
Somente na NovaDutra (BR-116/465/101), o investimento previsto é de R$ 17 bilhões.>
Essa concessão, porém, poderá ter uma taxa de retorno mais baixa porque terá recuperação mais rápida assim que o isolamento chegar ao fim. A rodovia liga São Paulo ao Rio de Janeiro.>
A CRT (BR-116/493), entre Minas e Rio de Janeiro, deverá gerar mais R$ 8 bilhões em investimentos.>
Ambas as concessões tinham taxas de retorno de 9,2% ao ano. Os valores deverão ser revistos.>
Para evitar que o consumidor pague a conta, está em estudo uma redução de custos ao concessionário por meio de descontos no valor das outorgas ou cancelamento de investimentos previstos.>
Os técnicos consideram ainda que, se até o momento do edital o custo de capital estiver mais baixo por causa dos juros menores para financiamento, não será preciso reduzir nem outorgas nem cancelar investimentos.>
Na sexta rodada de aeroportos, que agrupou 22 terminais em três blocos de concessão (Sul, Norte 1 e Central), além da revisão da TIR, a proposta é modificar as regras de formação dos consórcios.>
Até hoje os operadores aeroportuários, como Aena, Zurich e Fraport, tinham de participar com 15% de capital nos consórcios.>
O problema é que eles foram os que mais sofreram com a crise causada pelo novo coronavírus, já que os voos foram praticamente zerados em todo o mundo.>
A chance de que esses grupos não tenham fôlego para investimentos bilionários no momento se tornou maior. Isso inviabilizaria a formação dos consórcios.>
A proposta abre a possibilidade da participação de operadores que eventualmente disponham de capacidade financeira e permite que, caso não entrem na formação do consórcio, sejam contratados como prestadores de serviços.>
Isso abrirá caminho para que a próxima rodada seja atrativa para fundos soberanos e fundos de participação (private equity), que têm mais recursos disponíveis na crise.>
As mudanças estão alinhadas com o Planalto e com o Ministério da Economia.>
A pasta comandada por Paulo Guedes tenta encontrar formas de cobrir a baixa no caixa da União.>
Gastos serão gerados por causa das despesas emergenciais para reduzir os danos do novo coronavírus.>
Até o momento, o impacto ultrapassa mais de R$ 800 bilhões. Cerca da metade do montante terá impacto fiscal.>
O plano de concessão da Infraestrutura prevê investimentos da ordem de R$ 252 bilhões até o fim do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido).>
Embora uma pequena parte desse montante entre para o caixa como outorga (pagamento à União pelo direito de explorar o serviço público), haverá geração de emprego em até um ano após a assinatura dos contratos.>
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