Publicado em 7 de junho de 2023 às 14:28
SÃO PAULO - A Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) notificou as distribuidoras de botijão de gás de cozinha para que expliquem por que não repassaram a redução dos preços do gás de cozinha para o consumidor. Apesar do corte de 47% nas refinarias, o botijão caiu 13% desde março de 2022.>
A solicitação foi enviada ao Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo) nesta terça-feira (6) e a entidade terá 48 horas para responder.>
A medida foi tomada após levantamento divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo mostrar que o preço do botijão de gás caiu bem menos do que outros combustíveis desde o início da guerra na Ucrânia, mesmo após quedas no valor dos combustíveis realizadas pela Petrobras.>
De acordo com os dados compilados pelo Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o preço médio do botijão de 13 quilos caiu 12,7% entre março de 2022 (quando estava em R$ 119,58, em valor corrigido pelo IPCA) e a semana passada (quando estava em R$ 104,37).>
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No mesmo período, a gasolina teve uma queda de 32% e o diesel despencou 34%. Os preços dos três produtos sofreram diversas reduções nas refinarias nos últimos meses, mas o repasse não chegou da mesma forma ao consumidor.>
A Senacon quer que o Sindigás esclareça o motivo para o represamento dos descontos no caso do gás de cozinha. "Para a população mais pobre, o preço extorsivo do gás de cozinha é muito prejudicial. Existem pessoas que, não tendo condições de pagar pelo gás, estão utilizando lenha, colocando sua vida e de seus familiares em risco. Não podemos aceitar que a redução não tenha chegado nas casas das pessoas", disse o secretário nacional do consumidor, Wadih Damous.>
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que o custo do produto pode equivaler a mais da metade do orçamento das famílias vulneráveis, enquadradas entre as 10% mais pobres da população brasileira, em estados como Pará, Bahia, Piauí e Maranhão.>
Em outros estados, como Ceará, Amazonas e Sergipe, o preço médio do botijão de gás representa mais de 40% da renda dos 10% mais pobres.>
Entre as capitais, o combustível supera 20% do orçamento das famílias vulneráveis de Manaus (AM), Fortaleza (CE), Teresina (PI), Salvador (BA), São Luís (MA) e Belém (PA).>
Alvo de constantes reduções nos últimos meses, o botijão de gás não teve essa queda refletida para o consumidor. Nas refinarias da Petrobras, o valor de venda caiu 47,9% desde o pico de R$ 61,65 por botijão atingido em março de 2022. Foram cinco reduções no período, a última delas no dia 17 de maio, de 21,6%, ou R$ 8,97 por botijão.>
Ao anunciar a redução, a Petrobras disse esperar que o preço médio do produto chegasse a R$ 99,87. Duas semanas depois, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o valor médio de venda era de R$ 104,37.>
A pesquisadora do Ineep Carla Ferreira aponta que indicadores da ANP sinalizam que houve apropriação da queda nas refinarias por distribuidoras e revendedores de gás de cozinha.>
Os dados mais recentes da agência, referentes a janeiro, mostram que o combustível representava 40% do preço final do botijão, enquanto margens do setor representavam 48%. Em março de 2022, as margens representavam 37%, contra 51% do custo do gás.>
"A redução nas refinarias não está sendo repassada, o que pode significar que o setor está aproveitando esse momento para recuperar margens", afirma ela. Em janeiro de 2020, antes da pandemia, as margens representavam 43% do custo final.>
O setor diz que não comenta evolução de preços. Em nota distribuída logo após o anúncio da última redução da Petrobras, a associação que reúne revendedores reclamou que distribuidores não têm repassado todos os cortes, "deixando as revendas em uma situação muito desconfortável".>
Mas defendeu que os preços são livres no país, "podendo o segmento precificar os produtos e serviços conforme os custos operacionais de cada empresa".>
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