Publicado em 6 de junho de 2023 às 12:36
RIO DE JANEIRO - Após disparar na pandemia, a inflação da carne bovina mostra sinais de alívio para o bolso do consumidor brasileiro. O principal fator por trás da trégua é a maior oferta disponível em 2023 no mercado interno, dizem analistas.>
Segundo eles, produtores aproveitaram os preços em alta nos últimos anos para reforçar investimentos, o que gerou aumento da capacidade produtiva no país.>
Com mais opções para o consumidor, as projeções indicam que a carne bovina, assim como outros alimentos, deve ficar longe da lista dos principais vilões da inflação em 2023.>
De janeiro a abril, os preços das carnes registraram quatro baixas mensais consecutivas no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). A maior queda foi em fevereiro (-1,22%), e a menor, em abril (-0,45%).>
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Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA é considerado o índice oficial de inflação no Brasil.>
Segundo o levantamento, os preços das carnes acumulam queda de 3,16% neste ano (janeiro a abril) e baixa de 4,40% em 12 meses. Em iguais períodos de comparação, o IPCA teve alta de 2,72% e de 4,18% na média geral.>
"No caso da carne bovina, a questão é a maior disponibilidade de produto no mercado interno. Isso vai muito além do embargo às exportações para a China [ocorrido no primeiro trimestre]", diz Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado.>
De janeiro a março de 2023, o abate de bovinos no Brasil cresceu 4,7% ante igual período de 2022, segundo o IBGE.>
"O excesso de oferta tem de ser explicado pelo aumento dos investimentos no setor a partir do segundo semestre de 2019. O dinheiro investido se traduziu em ampliação da capacidade produtiva", afirma Iglesias.>
Em 2023, a disponibilidade interna de carne bovina no país deve subir 6,44% ante 2022, aponta estimativa da Safras & Mercado.>
Além da oferta maior, a pressão menor dos custos da alimentação animal também ajuda a explicar o contexto dos preços, segundo o economista Jackson Bittencourt, coordenador do curso de ciências econômicas da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).>
Esse movimento vem na esteira da perda de fôlego das cotações de commodities agrícolas como milho e soja, usadas na produção de rações.>
"Há uma associação de aumento da oferta de carne e redução dos custos de produção", afirma Bittencourt.>
Segundo ele, a expectativa é que os preços tenham novas quedas para o consumidor ao longo do ano. Mesmo assim, não devem retornar ao patamar do pré-pandemia, projeta o professor.>
"É um preço que ainda é alto. Está baixando, mas não deve chegar ao pré-pandemia", diz Bittencourt.>
Um estudo produzido por economistas do banco Santander também aponta a oferta elevada de carne como responsável pelo alívio nos preços para o consumidor.>
O quadro estaria associado ao chamado ciclo do gado, com o abate de uma porcentagem maior de fêmeas neste ano.>
O relatório pondera que, caso os frigoríficos decidam recompor margens ou haja uma pressão de demanda com a massa salarial dos brasileiros, a queda dos preços poderia ser mitigada.>
A perspectiva, contudo, é de que a oferta maior se sobreponha aos demais fatores, segundo o relatório, assinado pelos economistas Felipe Kotinda, Daniel Karp e Gabriel Couto.>
A análise aponta que a deflação (queda) das carnes pode alcançar 4% em termos anuais no IPCA até dezembro.>
No IPCA, o segmento das carnes é composto por 18 subitens. No acumulado do ano (até abril), 16 desses cortes tiveram variações negativas nos preços.>
A maior baixa foi a da alcatra (-5,24%), seguida por filé-mignon (-5,23%) e fígado (-4,77%). A picanha recuou 3,80%.>
No acumulado de 12 meses, 15 dos 18 cortes tiveram quedas até abril. A maior baixa foi a do fígado (-8,25%). Peito (-8,18%) e acém (8%) vieram na sequência. O menor recuo em 12 meses foi o da picanha, de apenas 0,09%.>
Em nota, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) disse na última quinta-feira (1º) que os preços de toda a cadeia da pecuária nacional diminuíram "com certa força" ao longo de maio.>
Pesquisadores da instituição também indicaram que o cenário está atrelado sobretudo à oferta maior de animais.>
O aumento da disponibilidade em 2023, especialmente de fêmeas, é "resultado de investimentos realizados pelo setor pecuário nos últimos anos", afirmou o Cepea.>
Até 31 de maio, o indicador Cepea/B3 de preços por arroba de boi gordo acumulou queda mensal de 10,37%.>
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