Publicado em 3 de agosto de 2019 às 16:14
Em linha contrária ao discurso de abertura comercial do ministro Paulo Guedes, o governo Jair Bolsonaro prorrogou sete medidas antidumping e aplicou três novas entre janeiro e julho deste ano, segundo dados do Ministério da Economia.>
O dumping ocorre quando uma companhia exporta um produto por um preço abaixo daquele praticado no mercado de origem.>
Embora a medida contra a prática seja um instrumento previsto pela OMC (Organização Mundial do Comércio), o dumping pode trazer aumento de poder de mercado e reduzir pressão competitiva na indústria do país importador.>
As medidas de proteção do governo Bolsonaro, cuja duração é de cinco anos, atingem China, Alemanha, Coreia do Sul, Chile, Taiwan, Peru e Bahrein.>
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Entre os produtos que são alvo do dispositivo, estão plástico para embalagens, ventiladores, aço, pneus de automóveis e papel-cartão.>
A medida mais antiga, entre as dez do atual governo, combate a importação de ventiladores chineses. Os produtos foram taxados pela primeira vez em 1994.>
Desde então, o dispositivo de proteção foi prorrogado. Em dezembro de 2017, uma circular informou que o direito antidumping aplicado aos produtos chineses seria encerrado em julho do ano passado.>
A revisão do direito, no entanto, foi prorrogada e, em 28 de junho deste ano, a proteção foi estendida até 2024, quando completará 30 anos.>
Na avaliação do professor de economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) Fernando Botelho, o uso desse instrumento não pode ser prolongado porque prejudica o próprio país.>
"Isso é um completo absurdo. Você está protegendo algum empresário e prejudicando milhares de pessoas.">
"É um remédio que tem de ter uma eficácia muito rápida. Se você está sem competitividade no horizonte de 20 anos, é sinal de que não há vantagem competitiva no país.">
Para Botelho, a prorrogação do dispositivo frustra as expectativas de que um governo liberal acabaria com o protecionismo brasileiro.>
"Achei que seria um lado bom no governo Bolsonaro. Eu pensava: 'Pelo menos ele vai acabar com essa história dos empresários amigos'. Mas não, continua".>
O Brasil atingiu seu ápice na aplicação de medidas antidumping no governo Dilma Rousseff (PT), quando, em 2013 e 2014, o país adotou o dispositivo 43 e 42 vezes, respectivamente.>
No ano passado, a resolução foi usada 17 vezes.>
O Ministério da Economia afirmou que as medidas de defesa comercial têm como único objetivo garantir condições justas de comércio entre as importações e produtos nacionais.>
"Dada a delimitação de condições e requisitos específicos para a aplicação dessas medidas, seu uso tem como fundamento análises técnicas e objetivas e não devem ser interpretadas como instrumentos de fechamento ou de abertura comercial.">
Para o chefe de Departamento de Economia da USP Ribeirão Preto, Sérgio Kannebley Junior, o que chama a atenção no uso das medidas pelo governo Bolsonaro é o motivo pelo qual elas são adotadas ou prorrogadas.>
"A maior parte das justificativas está baseada no dano potencial à indústria brasileira. Então eles não suspendem a resolução pelo possível dano que a retirada dela poderia causar. Agora, é difícil você chegar a uma conclusão só pelo possível dano.">
Kannebley Junior afirmou, porém, que esse recurso pode ter sido utilizado pelo governo como uma forma de se proteger em um período de economia fraca.>
"O que eles podem estar pensando é que, em um momento de recessão, você pode ter mais chance de aplicação ou continuidade das medidas porque a economia está muito frágil.">
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