Ph.D em Contabilidade, consultora de empresas em Ciência de Dados e negócios, professora da Fucape Business School, jornalista e comentarista da CBN Vitória

Com Selic em dois dígitos, o que acontece com o crédito e os investimentos?

Em um ano, o juro básico (taxa Selic) passou de 2,2% para 10,75% ao ano. Entenda os principais impactos disso nos créditos e investimentos e veja simulações

Vitória
Publicado em 04/02/2022 às 14h18

Em janeiro de 2021, o juro básico (taxa Selic) estava em 2,2% ao ano, um patamar histórico. Um ano depois, o indicador bate de novo dois dígitos, chegando a 10,75% ao ano, taxa anunciada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), no último dia 2 de fevereiro.

Selic sobe para conter a inflação, uma onda mundial estimulada pela descarga de auxílios às famílias durante a pandemia e pela dificuldade que a cadeia de suprimentos tem para entregar os produtos na origem, dado o receio de transmissão do vírus nas fronteiras.

Banco Central sinalizou que não deve parar de aumentar o juro básico, mas que deve reduzir a velocidade dos aumentos. A Selic deve continuar a subir, mas não de forma tão expressiva quanto nos meses anteriores.

Dinheiro, empréstimo, crédito
Com juro básico alto, fica mais caro conseguir financiamento. Crédito: Pexels

Juro básico alto reduz a competitividade da iniciativa privada. O custo do crédito sobe, fica mais caro conseguir financiamento não só para as empresas, mas também para você, pessoa física.

Uma pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra os efeitos da nova taxa de juros de 10,75% sobre o crédito. O Banco Central também disponibiliza uma pesquisa por instituição financeira e tipo de crédito em seu site: BCB.

A seguir, algumas simulações:

O que acontece com o crédito pessoal?

O juro médio para pessoa física sobe de 110,17% para 113,03% ao ano (note que um aumento de 1,5 pontos na Selic gera um aumento de quase 3 pontos na taxa do crédito pessoal), segundo a Anefac. Ou seja, se você toma R$ 10.000,00 emprestados hoje e paga ao banco daqui a um ano o valor corrigido a uma taxa prefixada, o desembolso será de R$ 21.303 (nova taxa) em vez de R$ 21.017 (taxa antiga), em torno de R$ 286 a mais.

O efeito composto é maior para quem tem dívida de longo prazo. Se você pagar os R$ 10.000,00 devidos daqui a dois anos, a diferença sobe de R$ 286 para R$ 1.210.

Na lista do Banco Central, tem banco cobrando de 12,98% ao ano até 1.075% ao ano de taxa sobre crédito não consignado. Vale a pena pesquisar antes de contratar o empréstimo.

O que acontece com a caderneta de poupança e os fundos de investimentos?

A caderneta tem rendido menos que a inflação já há algum tempo. A correção está em 0,5% ao mês + TR. A Taxa Referencial estava zerada até mês passado, mas renasceu das cinzas e passou a registrar algo acima disso. Ainda assim, o rendimento da poupança não supera a inflação do IPCA nem o rendimento líquido (pós-impostos) do Tesouro Direto ou de fundos de investimento com baixas taxas de administração, para aplicações mantidas por no mínimo 1 ano.

O rendimento dos fundos de investimento lastreados em renda fixa tende a subir com a alta da Selic. Mas investir em fundo requer muita pesquisa. Há fundos e fundos, é preciso olhar os fundamentos, a resiliência do ativo (há quanto tempo ele está no mercado? Sobreviveu bem a algumas crises?).

O que acontece com o crédito imobiliário?

Esse aí ficará mais caro como os demais. A vantagem desse crédito é que ele não deve subir tanto quanto as demais modalidades, porque há subsídios governamentais envolvidos. Porém, ficará mais caro tomar empréstimos para financiar a casa própria também por conta do aumento dos custos da construção. O Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) subiu 0,64% em janeiro.

Em dezembro de 2021, o Banco Central dizia que a Caixa tinha uma taxa de 8,28% ao ano para financiamento de imóveis (pós-fixado + TR). É bem provável que a alta da Selic eleve essa taxa ao patamar de 10% ao ano. A ver.

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