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A vida acontece entre os dois gritos da Semana Santa

Há quem diga que toda Semana Santa é a mesma coisa. E, se pararmos para pensar, é mesmo. Ritos e costumes se repetem, ainda que deles sempre tiremos uma experiência nova

Publicado em 14/04/2022 às 02h00
Cena do filme
Cena do filme "A Paixão de Cristo", dirigido por Mel Gibson. Crédito: Fox Filmes

Estamos na semana mais emblemática do ponto de vista cristão. Na Igreja Católica, a Semana Santa é chamada de semana maior, porque nela se vive e se celebra os últimos momentos da vida de Cristo. Nesse aspecto, quando me refiro a semana mais emblemática, me refiro ao drama da paixão e morte do Homem de Nazaré. Para entender isso, podemos parar e prestar atenção em duas coisas, ou melhor, em dois gritos. O primeiro foi o grito de domingo de Ramos – “Hosanas”, “Viva”, “Salve o Rei”! Mas, amanhã, vamos ouvir “crucifica-o”;

Estamos acostumados a ouvir falar muito dos gritos de Jesus na Cruz, mas a proposta de hoje é refletir os gritos que saem do povo. Toda a Semana Santa acontece nesse “intervalo” de dois gritos - do Hosana ao Crucifica-o. É interessante a gente parar para pensar primeiramente o que foi para o Messias enfrentar esta semana. Como foi ouvir esses gritos, o que mais doeu: as pancadas de pregos nas mãos ou a humilhação? Como foi chegar ao calvário na sexta e “quem sabe” ver quem gritou "hosanas", agora gritar "crucifica-o"?

Recordo-me  de F. Nietzsche que dizia “A doença chamada homem" e quer dizer: o ser humano é um ser dualista, nele vivem o bom e o mau. Nossa vida não é simples, mas intrincada e dramática. O teólogo Leonardo Boff chega a dizer: “Tem hora que predomina a vontade de viver, e então tudo irradia e cresce. Noutro momento, ganha a partida a vontade de matar, e então irrompem violências e crimes”.

O drama da Paixão se repete e se atualiza. Também em nós há forças para efetuar esses dois gritos. O drama é que gritamos o grito que nos é mais “conveniente”. Há quem siga o projeto de Jesus e há quem siga o projeto que lhe convém. O projeto que vai  dar mais poder, o projeto que vai custar menos, o projeto que vai deixar bem com todo mundo, o projeto que será capaz de “garantir uma imagem” boazinha com os imperadores.

Há quem diga que toda Semana Santa é a mesma coisa. E, se pararmos para pensar, é mesmo. Ritos e costumes se repetem, ainda que deles sempre viveremos uma experiência nova. Mas talvez só teríamos uma Semana Santa diferente se aquilo que nela aconteceu estivesse terminado: condenar inocentes, perseguir quem é a favor da vida, chicotear quem pensa diferente, despir quem luta e quem não tem nem o que vestir, crucificar quem tenta mostrar que tem mais vida por trás dessa que estamos vivendo.

São muitas as situações envolvidas nesses “dois gritos”. Entre esses dois gritos é que a vida acontece. Jesus foi a prova de que ele sabia o que desejava ainda que o custo do desejo fosse a vida. Entre esses dois gritos, é que a vida revela seus lados. É entre esses dois gritos que precisamos aprender a viver a peleja da vida. Nem tudo na nossa vida serão "hosanas", entretanto, se estamos convictos do que desejamos, vamos até o fim aos sons de “crucifica-o” porque compreendemos que, além desses dois gritos, há muito mais.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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