Como corretor de imóveis há quase 35 anos, sempre ouvi dizer que o Centro está morto. Mas o que vejo é um bairro vivo, que pulsa, embora precise de mudanças urgentes. Nos anos 70 e 80, viveu seu apogeu imobiliário, com prédios icônicos como Trinxet, Arnaldo Andrade, Marconi, Espíndola e Dina.
O declínio não veio só pela saída das repartições públicas, mas também pela falta de um Plano Diretor Urbano coerente. Hoje, convivem ali construções colossais e prédios decrépitos, muitos com problemas jurídicos, abandonados ou em ruínas. Profissionais do mercado são claros: revitalização exige dinheiro e flexibilização do PDU. Ninguém investe onde as regras mudam de um quarteirão para o outro, limitando alturas e usos.
Para renascer, o Centro precisa de adensamento inteligente, mais gente morando e circulando. Barcelona é referência. Apesar de prédios baixos, tem uma das maiores densidades urbanas do mundo, graças ao Plano Cerdà, que organizou quarteirões largos, fachadas contínuas e pátios internos. Vitória pode adaptar essa lógica: transformar quarteirões degradados em prédios bem planejados, com praças e comércio no térreo.
O retrofit é um caminho, mas ainda engatinha. Falta segurança para o investidor. Mesmo assim, o mercado de usados, entre o Carlos Gomes e a Catedral, segue aquecido, com preços quase dobrando nos últimos três anos. O Centro pode ser o melhor bairro de Vitória, tão bonito quanto a Praia do Canto. Para isso, é hora de revisar o PDU com visão moderna, permitindo que o investimento privado, com apoio público pontual, faça a roda girar.
Revitalizar o Centro é trabalho de muitas mãos e cabeças, mas, acima de tudo, de quem tem coragem de olhar para frente e agir. E como cereja do bolo, a frase de Jaime Lerner, que tem tudo a ver com um novo PDU: “O carro é o colesterol urbano". Fica a charada para os que desenham o PDU levarem à mesa com os atores do único setor capaz de transformar o bairro no melhor da Capital: o mercado imobiliário.
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