Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Upload", do Amazon Prime, é a melhor série de comédia de 2020

Misturando ficção científica, romance e muito humor, "Upload", disponível no Amazon Prime Video, usa o humor e as possibilidades tecnológicas para questionar sobre amor, existência e capitalismo. Série é escrita pro Greg Daniels, criador de "The Office" e "Parks and Recreation"

Publicado em 01/05/2020 às 21h41
Atualizado em 01/05/2020 às 21h51
Série
Série "Upload". Crédito: Amazon/Divulgação

Você se lembra de “San Junipero”, aquele episódio de “Black Mirror” em que as pessoas idosas entram em uma espécie de realidade simulada na qual podem permanecer até mesmo após a morte? “Upload”, série recém-lançada pela Amazon no Prime Video, tem premissa similar, mas execução completamente diferente. Enquanto a antologia da Netflix se preocupa de assuntos mais sérios, e tenta discutir nossa relação com a tecnologia de maneira às vezes impactante, “Upload” é leve, divertida, se permitindo ser boba sem nunca se esquecer das questões a serem discutidas.

“Upload” é uma criação de Greg Daniels, responsável por “The Office” e “Parks and Recreation”, duas das melhores comédias já lançadas em formato seriado. A trama se passa em 2033, época em que as pessoas podem realizar um upload de sua consciência antes de morrer no plano físico para viver para sempre no plano digital. De lá, inclusive, elas podem até telefonar normalmente para os vivos, ou seja, podem levar uma vida quase normal. Acontece que, obviamente, as grandes empresas tomaram conta desse mercado; assim, um pós-vida interessante custa caro.

Logo conhecemos Nathan (Robbie Amell, de “Code 8”), um jovem e talentoso programador; conhecemos sua família e sua namorada, Ingrid (Allegra Edwards), pouco antes dele sofrer um acidente sob circunstâncias estranhas. Em uma decisão rápida e com a ajuda da namorada milionária, sua consciência é transferida para a Lakeview, a melhor pós-vida possível.

Na realidade simulada ou virtual (ou como preferir chamar), cada upload tem um anjo, alguém para ajudar na transição e cuidar de suas demandas. O anjo de Nathan é Nora (Andy Allo), uma jovem que logo cria uma relação de cumplicidade com o upload.

Encanto

O texto de Greg Daniels é encantador - debochado e absurdo na maior parte do tempo, mas sutil quando precisa ser. As sequências no pós-vida, onde boa parte da série se passa, fazem lembrar a saudosa “Good Place”. Há também questões de séries como “Westworld” e a já citada “Black Mirror”, mas elas existem muito mais no conceito do que na execução de “Upload”.

Série
Série "Upload". Crédito: Amazon/Divulgação

Sem precisar se apegar tanto à realidade como em suas outras criações, Greg Daniels abusa do seu humor peculiar com boas sacadas e vários detalhes na construção de universo que aproximam o espectador - os anúncios e a utilização do algoritmo, por exemplo, são hilários. O roteiro é ágil, nunca permanece no mesmo lugar por muito tempo, aspecto muito importante em uma série de 10 episódios de cerca de 25 minutos cada - só o primeiro episódio, para situar o espectador naquele universo, tem mais de 40 minutos.

Em “The Office” e “Parks and Recreation”, Greg Daniels construiu alguns dos personagens mais complexos da cultura pop - Michael Scott e Leslie Knope, para ficar apenas nos protagonistas. Em “Upload”, o texto desenvolve bem os personagens , todos eles com camadas a serem exploradas e que servem como recurso para algumas viradas bem interessantes na trama. “Upload” mantém o interesse do espectador ativo tanto pelo encanto da premissa quanto por levar o espectador a caminhos inesperados; quando tudo parece ter se encaixado, surge uma nova informação para dar novo rumo à história.

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Série "Upload". Crédito: Amazon/Divulgação

Ainda sem uma segunda temporada confirmada, a série promete, na conclusão da primeira leva de episódios, se aprofundar na trama de romance, capitalismo, dependência tecnológica, religião e o que nos torna humanos.

“Upload” é uma comédia de ficção científica perfeita para dias pesados. O lado humano te prende pelo coração, pelas dores e angústias de Nathan, Nora e das pessoas que os circulam. Já o lado científico prende pela fantasia, pelas possibilidades criadas pelo brilhante roteiro de Greg Daniels, que brinca no limite do absurdo, mas sempre mantendo a humanidade e um universo muito próximo ao real.

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