Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Rike Soares e a Antimofo mudaram a noite e as vidas de Vitória

Morto nesta quinta-feira (15), Rike Soares era o fundador da produtora Antimofo, que desde 2004 transformou a noite de Vitória com shows e festas que moldaram a identidade do capixaba nas últimas décadas

Publicado em 15/10/2020 às 13h49
Atualizado em 15/10/2020 às 21h35
O produtor cultural Henrique Sores, o Rike Soares
O produtor cultural Henrique Sores, o Rike Soares. Crédito: Reprodução/Facebook Rike Soares

Confesso começar a escrever este texto ainda em choque, talvez tentando organizar e colocar para fora um pouco dos sentimentos que a notícia da morte do amigo Rike Soares me trouxe nesta manhã de quinta-feira.

Parece um exagero, mas não é um equívoco dizer que Rike revolucionou a vida noturna alternativa na Capital. Em 2004, ano das primeiras festas da Antimofo, a cultura mudou. As festas no Clube Centenário, em plena Praia do Canto, reuniam a galera do hardcore à da música eletrônica - em pouco tempo várias galeras diferentes se tornaram uma só, a da Antimofo.

Sob o comando de Rike, o Centenário recebeu shows de bandas de rock e de artistas como a Madoninha Capixaba, tudo no mesmo clima de alegria e respeito. Se tem algo que pode ser dito sobre a Antimofo é que a produtora criou um lugar seguro para o público LGBTQIA+ jovem, que finalmente sentia pertencer a um meio. Mais tarde vieram Stone Pub, Fluente e Bolt que só tornaram sólido o que ele havia começado a construir lá atrás.

Foram nessas festas e shows que nasceu uma unidade, uma identidade Antimofo. Pessoas que antes se consideravam diferentes enxergavam muito mais semelhanças entre seus diferentes. Nasceram amizades, relacionamentos e ideias.

Rike era inquieto e tinha algumas ideias de jerico, como o famoso carro que circulou por Vitória tocando “Imagine”, de John Lennon, durante a greve da Polícia Militar em 2017 - uma ideia brega, sim, mas maravilhosamente brega, que aqueceu o coração de muita gente que estava trancada em casa com medo de sair às ruas.

A minha relação com a Antimofo nasceu nas festas de rock no Centenário. Entenda, festas não eram uma constante na vida do jovem roqueiro dos anos 2000 e, por isso, reagi com surpresa ao ser convidado por Rike para discotecar em uma de suas “Escolas do Rock”. “Mas posso tocar o que eu quiser, posso tocar um hardcore?” perguntei, incrédulo, “Você que manda. Funciona assim ó….”, respondeu, logo emendado em uma explicação sobre o equipamento.

Registro de um show do Auria no Clube Centenário, em 2010. Crédito: Vitor Malheiros
Registro de um show do Auria no Clube Centenário, em 2010. Crédito: Vitor Malheiros

Voltei a tocar outras vezes no Centenário e no Stone Pub, sempre me divertindo, sempre sendo bem recebido. Toquei também com minha banda em ambas as casas e era muito legal receber o abraço do Rike ao fim dos shows, estando a casa cheia ou não, dizendo “foda demais! Você se transforma”.

Se sua morte é sentida por toda uma comunidade, que sua vida seja lembrada por todos também. Rike e a Antimofo transformaram a vida noturna em Vitória, mas fizeram mais do que isso: transformaram a vida de muita, mas muita gente. Que descanse em paz.

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