Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Qual será o futuro de Hollywood após a crise?

Fechamento de cinemas e paralisação de produções deixam marcas na indústria que nunca mais será a mesma após a crise causada pelo coronavírus

Publicado em 29/03/2020 às 06h00
Atualizado em 29/03/2020 às 06h00
"Viúva Negra" é um dos filmes com futuro indefinido. Crédito: Disney/Divulgação
"Viúva Negra" é um dos filmes com futuro indefinido. Crédito: Disney/Divulgação

Sim, esta é mais uma coluna sobre os impactos do coronavírus na cultura pop. Agora, porém, não falaremos do que está acontecendo, mas do que irá acontecer. Já sabemos que boa parte das principais estreias de cinema deste primeiro semestre foram adiadas e que diversos filmes/séries tiveram suas produções paralisadas. E agora?

Por enquanto, quem “ganha” (atenção às aspas) são os serviços de streaming. Não apenas a Netflix, com uma audiência que deve chegar a números assustadoramente grandes ao final dessa crise, ou a Amazon, que pode aproveitar a situação para consolidar sua marca em mercados no qual ainda engatinha, com o brasileiro, por exemplo. Imagine, por um instante, a audiência da Globoplay reunindo “Big Brother Brasil” e coronavírus. Imagine, mais uma vez, a força que o Disney+ teria se lançado por aqui nos últimos dias, como a atriz Gina Carano, de “Mandalorian”, chegou a especular antes de ser desmentida pelo serviço. Por enquanto, a chegada continua marcada para novembro.

Ainda, com a incerteza gigante sobre o segundo semestre, estúdios já estudam lançar alguns filmes em suas plataformas de conteúdo. “Viúva Negra” e “Mulher-Maravilha 1984”, dois longas aguardadíssimos pelos fãs de heróis, impulsionariam qualquer servi. É claro que não se trata apenas de uma questão de disponibilizar ou não a obra - um lançamento no streaming colocaria um filme de centenas de milhões de dólares disponível em excelente qualidade na pirataria minutos depois de seu lançamento.

Mesmo que lançado apenas nos EUA e em mercados selecionados, os estúdios perderiam muito do dinheiro do mercado asiático e latino-americano. A China, reabrindo aos poucos suas 70 mil salas de cinema, se torna o principal foco da recuperação dos estúdios ainda este ano. O país trabalha com uma cota de tela para filmes estrangeiros - em 2017 eram apenas 34 por ano, número que aumentou nos anos seguintes em decorrência da pressão de Hollywood. Hoje, cerca de 50 filmes estrangeiros são exibidos anualmente nos cinemas chineses, um dos principais mercados do mundo e para onde, em crise, os estúdios voltarão seus olhares. O mundo do cinema não será o mesmo após a pandemia do coronavírus.

Enquanto os estúdios adiam suas estreias, mais de cem mil trabalhadores da indústria do audiovisual americana ficam desempregados com a paralisação das atividades. Segundo estudo encomendado pelos estúdios, as perdas podem chegar a US$ 2 bilhões. Por aqui, especula-se o fechamento de 800 a 1000 salas após a crise.

Um efeito talvez global, que ainda não passa de especulação, é o estrangulamento do cinema médio. Os estúdios, ainda tentando se recuperar, vão depositar todas as suas fichas em grandes produções e deixar “de lado” filmes mais arriscados. Estes, por sua vez, podem encontrar um bom público nas plataformas de streaming - o cinema será ainda mais a experiência sobre o filme.

Há também a discussão sobre o quanto a paralisação dos cinemas vai impactar a temporada de premiações que se encerra com o Oscar 2021. Enquanto a Academia de Artes e Ciência Cinematográficas não se manifesta sobre o assunto, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood anunciou mudanças importantes. Como as salas de cinema dos EUA estão fechadas (e devem permanecer assim ainda por um bom tempo), pela primeira vez, filmes que não estrearem primeiro no circuito comercial americano estarão elegíveis para o prêmio. Mesmo que a Academia não tenha se pronunciado, a tendência é que ela passe a aceitar filmes disponíveis apenas nos serviços de streaming, ou seja, por linhas tortas, o coronavírus colocaria fim à briga entre Netflix e Hollywood.

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