Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"One Piece": Série da Netflix é ótima para fãs e não-iniciados

Adaptação do popular anime/mangá de Eiichiro Oda,"One Piece" chega à Netflix respeitando o original e entregando uma aventura encantadora

Vitória
Publicado em 31/08/2023 às 04h01
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Taz Skylar, Mackenyu, Iñaki Godoy, Emily Rudd e Jacob Romero Gibson em "One Piece", da Netflix. Crédito: CASEY CRAFFORD/NETFLIX

Nunca é fácil levar uma história de uma mídia para outra. Para cada sucesso do universo Marvel, por exemplo, há inúmeras adaptações de obras que sonharam alto, contando com o público já existente, e se tornaram grandes fiascos. “One Piece: A Série”, que chega à Netflix nesta quinta (31), tem a missão de não se tornar mais um desses fiascos, apagando a recente lembrança a da adaptação de outro anime de sucesso, “Cowboy Bebop”, sumariamente cancelado pela plataforma, um sucesso entre críticos, mas odiado pelos fãs do original.

Com mais de mil (!!) edições do mangá (lançado em 1997) e do anime (1999), “One Piece” é um fenômeno merecidamente amado pelos fãs, que defendem a história criada por Eiichiro Oda a todo custo, tornando sua adaptação algo quase impossível – qual série, afinal, poderia adaptar uma jornada tão longa e tão amada? A solução da Netflix foi trazer Oda para trabalhar diretamente na versão live-action que busca tirar “One Piece” do seu enorme nicho e levá-la para um público mais amplo pouco disposto a começar agora uma aventura com mais de mil episódios. O resultado é ótimo!

Cabe aqui a informação de que sou um iniciante no universo de “One Piece”, tendo assistido apenas ao arco “East Blue” (e gostado muito) justamente com o propósito de ter mais conteúdo ao escrever sobre a nova série. Em sua versão live-action, “One Piece” respeita o material original, mas também o adapta para uma nova mídia e um mundo diferente 24 anos após o lançamento do anime.

Com oito episódios de cerca de 50 minutos cada, a série tem início com a execução do lendário Gold Rogers, o rei dos piratas, pelas mãos do Governo Mundial. Suas últimas palavras, deixando seu tesouro para quem encontrá-lo, mudam o mundo – quem achá-lo pode ficar com tudo e será considerado o novo rei dos piratas. Estava iniciada a Grande Era dos Piratas, com piratas de todo o mundo navegando em busca do mesmo tesouro.

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Série "One Piece", da Netflix. Crédito: CASEY CRAFFORD/NETFLIX

Vinte e dois anos depois, encontramos Monkey D. Luffy (Iñaki Godoy) à deriva em um pequeno barco prestes a afundar. Falando sozinho, Luffy revela seu sonho de encontrar o One Piece, com uma breve quebra da quarta parede, mas logo entra em um barril que acaba “pescado” pelo bando da pirata Alvida (Ilia Isorelýs Paulino), um início bem similar ao do anime.

“One Piece: A Série” desde o início mostra uma preocupação em não incomodar os fãs do material original, mas também se preocupa em não tornar tudo um festival de referências que apenas os já iniciados na obra de Oda entenderão. A série tem plena ciência de seu novo formato, com episódios mais longos e a necessidade de realizar algumas mudanças na dinâmica dos episódios. Assim, Roronoa Zoro (Mackenyu) e Nami (Emily Rudd, da trilogia “Rua do Medo”) são apresentados de formas levemente diferentes, mas nada que incomode.

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Jeff Ward em One Piece. Crédito: CASEY CRAFFORD/NETFLIX

A série toma algumas liberdades, como introduzir brevemente o Mr. 7 (Ben Kgosimore), que só surge à frente na trama, ou deixar de lado outros personagens e arcos – em seu processo de “ocidentalização”, “One Piece” elimina excessos e torna tudo mais direto. A primeira temporada, que abraça mais ou menos metade do “East Blue”, a primeira saga do anime, faz a acertada escolha de se concentrar nos personagens e em suas histórias. O roteiro dá a profundidade necessária a Luffy, Nami, Zoro, Usopp (Jacob Romero) e Sanji (Taz Skylar), a tripulação do Going Merry, o bando do Chapéu de Palha, numa busca por empatia que funciona.

A cada novo pirata apresentado, “One Piece” introduz também uma nova ameaça. A apresentação dos piratas, com seus cartazes de “procurado”, é ótima e dá uma noção de quem é quem no universo de Oda. Nessa primeira temporada, é Buggy (Jeff Ward) o vilão de mais destaque, mesmo que não seja a grande ameaça do arco. Jeff Ward é ótimo no papel e rouba a cena cada vez que seu personagem surge em tela. É até injusto destacar apenas o palhaço, pois Dracule Mihawk (Steven John Ward) é um dos personagens que mais despertam o interesse para o próximo encontro e Arlong (McKinley Belcher III) se torna a grande ameaça.

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Iñaki Godoy em "One Piece", da Netflix. Crédito: CASEY CRAFFORD/NETFLIX

É interessante que a série introduza personagens deixando claro que eles voltarão – é assim com Mihawk, Alvida, Buggy, Shanks (Peter Gadiot) e Klahadore (Alexander Maniatis). Essa característica dá a “One Piece” um ar grandioso, de que há muitas histórias a serem contadas naquele universo, ou seja, mantém vivo o interesse do público.

Particularmente, achei que os efeitos visuais para levar Luffy, o “pirata que estica”, para as telas seriam um problema para o live-action, mas a série lida bem com isso. A computação gráfica não é incrível, mas é competente o suficiente para o espectador comprar aquela ideia, um recurso que “Doctor Who” faz há quase seis décadas – quando se tem uma história boa e personagens carismáticos, os efeitos especiais se tornam detalhes. A lendária série britânica, inclusive, parece ter servido de grande referência para a narrativa semi-procedural de "One Piece".

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"One Piece", da Netflix. Crédito: CASEY CRAFFORD/NETFLIX

“One Piece” reconhece a importância das lutas para os fãs e, por isso, capricha nas sequências de ação. Iñaki Godoy é ótimo como Luffy, misturando uma arrogância juvenil a uma ingenuidade invejável, de quem está sempre disposto a ver o lado bom da situação.É nas cenas de Zoro e Sanj, porém,i que a série se destaca, com boas coreografias e apostando no talento de Mackenyu e Skylar. Com menos tempo de ação, Nami também não faz feio e Usopp funciona como um bom alívio cômico.

A boa notícia é poder afirmar categoricamente que “One Piece” não é “Cowboy Bebop”. É difícil imaginar uma adaptação melhor para “One Piece” do que a série da Netflix. O envolvimento de Oda faz com que o live-action entenda a importância de cada personagem, de cada arco. Em sua primeira temporada, “One Piece” constrói a parceria e a cumplicidade de seus protagonistas, e o faz muito bem. Ao fim do oitavo episódio, é impossível não querer continuar assistindo às aventuras do bando do Chapéu de Palha – anima saber que há muitas histórias incríveis a serem contadas, mas paira no ar a questão de ser praticamente impossível levar todas as histórias do anime/mangá para a série em live-action.

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