Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"O Amor Está no Ar", da Netflix, é constrangedor do início ao fim

Comédia romântica da Netflix beira o limite do plágio (e até ultrapassa) em trama genérica com personagens pouco interessantes e sem química

Vitória
Publicado em 28/09/2023 às 07h23
Filme
"O Amor Está no Ar" é comédia romântica pouco criativa. Crédito: David Fell/Netflix

Em 2021, “Missão Presente de Natal” foi um dos filmes que marcaram a temporada natalina da Netflix. Levemente baseado em uma história real, a comédia romântica tinha a ambiciosa assistente de uma deputada americana enviada para uma base militar do outro lado do mundo que estaria gastando dinheiro público com atividades não relacionadas às forças armadas. Ao chegar lá, ela conhece um carismático e bonitão capitão que funciona como um guia pela base; logo ela descobre que o serviço prestado é muito mais importante, pois os soldados americanos levam auxílio e mantimentos às ilhas mais distantes e inalcançáveis da Indonésia. “Missão Presente de Natal” é um filme natalino, mas é também uma comédia romântica bem padronizada, e não há nenhum problema nisso.

Quase três anos depois, a mesma plataforma lança um filme com basicamente a mesma premissa – muda-se o cenário e os envolvidos, mas a dinâmica é exatamente a mesma. Dirigido pelo inexpressivo Adrian Powers, “O Amor Está no Ar” conta a história de Dana (Delta Goodrem), uma piloto talentosa e comprometida com um serviço voluntário em ilhas afastadas da Oceania. Tudo vai bem até o momento em que William (Joshua Sasse), um analista financeiro de Londres, é enviado para estudar as finanças da organização. Dana e sua família recebem o bonitão de braços abertos e apresentam toda a comunidade a ele, mas ninguém sabe de seus reais interesses…

É óbvio e inevitável, neste cenário, que Dana e William se apaixonem e que ela fará o frio analista ver o mundo com outros olhos. “O Amor Está no Ar” segue as estruturas de uma comédia romântica sem nenhuma novidade, a velha fórmula dos opostos que se atraem. William tem medo de voar, Dana é uma piloto; ele, pensando com a cabeça do pai (um ambicioso CEO), quer fechar o negócio dela, mas ela mostrará que há mais na vida do que números, que a bondade do povo é muito mais importante que dinheiro. Fórmulas e estruturas existem para serem usadas, mas uma comédia romântica não é nada sem química.

Neste ponto, é importante ressaltar que Delta Goodrem é uma cantora/atriz/escritora muito, mas muito famosa na Austrália. Por isso, sua presença em um filme após 18 anos (fez algumas séries nesse período) já é um grande chamariz para um mercado específico. Para o resto do mundo, porém, Goodrem é apenas uma atriz loira, magra e dentro de todos os padrões de beleza demandados pela indústria. Joshua Sasse, o coprotagonista, é um ator britânico pouco experiente e que nada faz para que seu personagem seja, para o público, irresistível. A química entre Goodrem e Sasse é inexistente, assim como a falta de talento e até de vontade de ambos.

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"O Amor Está no Ar" é comédia romântica pouco criativa. Crédito: David Fell

“O Amor Está no Ar” é recheado de cenas com situações que deveriam ser “fofas” para o espectador, mas que são apenas constrangedoras. O filme aposta em diversas muletas de roteiro (como quando “descobrem” as intenções de William) e o texto faz a terrível escolha de sinalizar todos seus conflitos – se uma grande tempestade vai pegar todos de surpresa, alguns minutos antes alguém pergunta “ei, você tá sabendo da tempestade?”. Essas escolhas reforçam a pouca inteligência dos personagens e subestimam a capacidade cognitiva do espectador.

O constrangimento é o que dá o tom do roteiro, que, apesar de ter sido escrito a seis mãos, parece nem sequer ter passado por uma revisão. O suposto idealismo beira a ingenuidade (e este que vos escreve é bem idealista…) e algumas cenas parecem paródias de filmes do gênero, com diálogos absolutamente horríveis, que dificultam a crença de que alguém leu aquilo e aprovou.

Filme
"O Amor Está no Ar" é comédia romântica pouco criativa. Crédito: David Fell/Netflix

“Amor Está no Ar” é simplesmente medonho, um filme que parece escrito por inteligência artificial e que, surpreendentemente, nem sequer menciona ser uma livre adaptação de “Missão Presente de Natal”, o que torna tudo ainda mais ridículo. Outrora, o filme de Adrian Powers ficaria restrito ao horário vespertino em canais como o Lifetime, mas, hoje, tal atrocidade ganha destaque e figurará entre os mais vistos da plataforma na mesma semana em que um cineasta como Wes Anderson será ignorado com “A incrível Vida de Henry Sugar”.

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