Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Ninguém Vai Te Salvar": Elogiado terror do Star+ mergulha na culpa

Querido por nomes como Guillermo Del Toro e Stephen King, terror "Ninguém Vai Te Salvar" traz boas referências em filme de altos e baixo

Vitória
Publicado em 26/09/2023 às 18h56
Filme
Com boas ideias, "Ninguém vai te salvar" tem terror e ficção científica. Crédito: Star+/Divulgação

Em certos momentos de “Ninguém Vai Te Salvar”, o diretor e roteirista Brian Duffield ("Amor & Monstros") mira alto, com boas referências a obras como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (1977), “Sinais” (2002) e “Invasores de Corpos” (1978). Apesar disso, o filme lançado no Brasil pelo Star+, pela ausência de diálogos, acaba despertando mais comparações é com “Um Lugar Silencioso” (2018), mas, mesmo com alguns bons momentos, ele nunca chega nem perto da excelência dos filmes citados.

“Ninguém Vai Te Salvar” acompanha Brynn (Kaitlyn Denver), uma jovem que mora sozinha em uma casa grande na zona rural de uma pequenina cidade dos EUA. Quando a conhecemos, em uma manhã, ela acorda, encontra uma marca estranha em seu quintal e lida com certa naturalidade, e parte para a cidade. As pessoas não gostam dela, a olham de canto de olho, e não sabemos exatamente o motivo disso. Brynn escreve cartas para uma amiga morta há algum tempo, e lida com a culpa de algo, nos levando a crer que ela teve algo a ver com a morte da amiga e, por isso, não é bem vista pelos vizinhos.

Na noite seguinte, Brynn recebe uma visita em casa. Luzes se acendem e barulhos de seu lixo sendo revirado a despertam de seu sono. A jovem está recebendo a visita de alienígenas de olhos grandes e braços compridos, muito similares, inclusive, com os supostos fósseis encontrados na Cidade o México. Brynn reage ao invasor, que parece mais interessado em estudá-la do que em ameaçá-la, mas isso a torna um alvo. Na manhã seguinte, ela percebe que alguns de seus vizinhos não tiveram a mesma sorte.

“Ninguém Vai Te Salvar” cria um cenário interessante nos momentos que antecedem a invasão, deixando o espectador curioso para entender o que aconteceu com Brynn. Algumas escolhas, porém, são bem questionáveis, como a de revelar a aparência dos alienígenas logo de cara e de maneira nem um pouco sutil. Outras decisões do roteiro dependem muito de uma suspensão da descrença por parte do espectador – os aliens têm poderes que poderiam resolver tudo com muita facilidade, mas parecem querer facilitar a vida de Brynn.

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Com boas ideias, "Ninguém vai te salvar" tem terror e ficção científica. Crédito: Star+/Divulgação

Isso pelo menos torna a ação do filme mais plausível, pois a protagonista consegue enfrentar os invasores utilizando a casa como recurso. É bem interessante como o diretor de fotografia Aaron Morton consegue deixar a ação visível mesmo em momentos mais escuros a partir de supostas luzes naturais externas que nunca dão a impressão de uma iluminação artificial. Mesmo simples, a ambientação também dá a impressão de um filme “maior”, pensado para o cinema, com os alienígenas, mesmo nos momentos exagerados, parecendo integrados ao ambiente.

Kaitlyn Denver é ótima no papel, mesmo sem diálogos e praticamente sozinha o tempo todo. “Ninguém Vai Te Salvar” é um filme sobre culpa, perdão e rancor, o que exige que sua protagonista deixe isso claro para o espectador. A cada encontro com algum outro personagem, Brynn se recolhe, quase como se pedisse desculpas e tivesse vergonha. Toda essa sutileza, no entanto, se esvai com a proximidade do terceiro ato.

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Com boas ideias, "Ninguém vai te salvar" tem terror e ficção científica. Crédito: Star+/Divulgação

A ironia é que o texto acertadamente nunca explica o que os invasores estão fazendo ali, eles apenas estão. A falta de explicação também é o que possibilita diversas interpretações para o terceiro ato, mas essa sutileza não é utilizada para lidar com a questão da culpa. Após um início competente, o filme abusa da exposição do terceiro ato numa tentativa de conectá-lo ao resto do filme e preencher algumas lacunas.

Após a mudança de tom no terceiro ato e uma quase convocação a diversas interpretações, “Ninguém Vai Te Salvar” busca explicar toda a jornada de salvação pela dor. O texto usa alguns simbolismos cristãos e uma convocação ao perdão, além de optar por um final que destoa do resto do filme, afastando-o da pegada de cinema anteriormente citada e o aproximando de um episódio de “Além da Imaginação”.

“Ninguém Vai Te Salvar” é um desafio narrativo e tem ótimos momentos, mas deixa a ousadia de lado para buscar entregar algo que o espectador entenda melhor como uma recompensa.

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